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ENCONTRO DIVINO

José em Gênesis, ator vê Deus escrever certo por linhas tortas: 'Salvou minha vida'

FOTOS: REPRODUÇÃO/RECORD

O ator Juliano Laham caracterizado como José em cena de Gênesis

Juliano Laham em cena de Gênesis; ator vê semelhanças entre a própria vida e o arco de José

DANIEL FARAD, do Rio de Janeiro

vilela@noticiasdatv.com

Publicado em 2/10/2021 - 6h50

Juliano Laham não duvida que há algo divino por trás do papel de José em Gênesis. Assim como o hebreu, o ator também viu sua vida virar de cabeça para baixo, e sem maiores explicações, em um instante. Hoje, aos 28 anos, ele diz que as reviravoltas não só o fortaleceram como também o fizeram compreender melhor um dito popular --o de que Deus escreve certo por linhas tortas.

"Ele sabe aquilo que tira e coloca na nossa vida. A gente pode até não entender o porquê, mas tudo é proposital. Deus me mostrou que a Dança dos Famosos serviu para salvar a minha vida e não para ter uma realização pessoal. E ele também trocou os atores para que eu pudesse ter essa oportunidade. Eu posso até não saber, mas Deus sabe o que faz", revela o galã em entrevista exclusiva ao Notícias da TV.

Laham passou por uma jornada que lembra a do próprio José quando, em 2020, deixou o quadro do Domingão do Faustão (1989-2021) para cuidar da saúde. Ele descobriu um feocromocitoma, tumor benigno das glândulas adrenais, que o levou para a mesa de cirurgia.

O intérprete também sentiu um frio na barriga ao encerrar a parceria com a Globo, que vinha desde 2016, para fazer a primeira novela bíblica na Record. Ele sequer imaginava que Arthur Aguiar, então escalado para fazer o protagonista da sétima fase, deixaria a produção por divergências artísticas.

"No final das contas, as coisas nunca são do jeito que a gente quer, mas do que tem de ser. Não adianta ficar chateado ou revoltado, porque tudo tem um porquê. E, às vezes, a gente só entende com a maturidade que vem com o tempo", pondera o artista.

Laham raspou o cabelo para o papel

Notícias da TV - Muitos atores comentaram que a carga dramática de Gênesis é tão intensa que eles sentem impactos no corpo. Você também passou por isso?
Juliano Laham - Eu comecei a novela um pouco inchado por conta da cirurgia, então eu perdi quase dez quilos antes de começar a gravar. E não dá para manter uma vida regrada com a "pauleira" que são as gravações, é até natural dar uma escorregada. No calor da emoção, e pela quantidade de cenas, eu acabei perdendo mais uns quatro. 

O José é um personagem que realmente tem essa carga emotiva, só que o corpo do ator não sabe se esse sentimento é real ou não. Então, a gente tem que se cuidar, se preservar e respirar fundo para que o organismo não saia prejudicado.

E você tem algum ritual para deixar esse peso apenas dentro de cena?
Eu busco meditar, pedir orientação e conversar ao máximo com Deus. A gente se entrega tanto que vira quase um trabalho espiritual, porque não tem como deixar de se envolver. Muitas vezes, eu ia para o camarim, respirava e jogava água no rosto para voltar a ser o Juliano. E sempre me rodeava de alegria, porque a vida do José tinha momentos muito tristes.

Você falou em conversar com Deus. Sentiu a presença dele em cena?
Eu tive três cenas que eu simplesmente não lembrava como tinha feito. Parecia que era o próprio José ali. Eu mesmo não me reconheci como Juliano ao vê-las. Por diversas vezes, também fui tomado por uma emoção que era completamente real, como se eu estivesse realmente vivendo aquilo, e não interpretando um personagem.

E quais cenas foram essas?
Uma delas já foi ao ar, José sendo vendido pelos irmãos como escravo. Outra é o momento em que ele está preso e lhe dizem que Israel (Petrônio Gontijo) está morto. É como se o mundo dele acabasse ali, então ele conversa com Deus e chora. A última, lá para o final da novela, é quando ele reencontra o pai.

José tem os cabelos raspados em cena

A sua história de vida é bastante parecida com o arco de José. Você acha que as reviravoltas por que passou, como a cirurgia, o prepararam para o papel?
Nossa, bastante, principalmente na minha conexão com Deus, porque eu sabia que, naquele momento, só ele poderia me salvar e mais ninguém. Só Deus poderia tocar a mão dos médicos para que tudo fosse perfeito. Hoje, mais maduro, entendo que são nesses momentos, os quais não gostaríamos de ter vivido, que nos fazem compreender melhor a vida.

Em que momento descobriu que se tornaria o José?
Em 31 de dezembro, eu estava almoçando com o meu melhor amigo e recebi uma ligação com o convite. Eu parei de comer na hora, porque fiquei de boca aberta, sem acreditar. Aceitei sem pensar duas vezes, sem saber de absolutamente nada. Eu só disse: "Estou dentro". 

Você realmente raspou o cabelo dentro de cena ou há um truque de edição?
Sim, a gente fez daquela forma mesmo. Foi no valendo, e gravamos. Eu tenho um carinho não só por ela, mas por várias, como a em que José é jogado dentro do poço pelos irmãos. É uma das cenas que eu mais gosto de ver, junto com o momento em que ele é vendido como escravo. Eu fico muito feliz pelo resultado.

E não bateu nenhum medo ao deixar a Globo e ir para a Record?
O frio na barriga não foi pela troca de emissora, mas pela responsabilidade de ser o protagonista. Antes se ouvia muito falar nisso, das trocas de emissora, mas hoje em dia há tantas possibilidades. O ator pode rodar um pouco mais, fazer novela, se arriscar no streaming, conhecer novas empresas.

Algum sonho de José apareceu para você no meio da noite?
Vários deles, mas nenhum para me avisar sobre algo que aconteceria na minha vida pessoal (risos). Eu sonhava com o próprio José. Acordava e achava que estava em cena, não no meu quarto. Quando se faz uma novela, é inevitável dormir e acordar pensando no trabalho. É até normal.

Em Gênesis, o seu papel é completamente diferente do romance homoafetivo que viveu em Orgulho e Paixão (2018) ou das suas lutas de boxe em Malhação: Pro Dia Nascer Feliz (2016). O mesmo público que o viu nas tramas seculares também o assiste nos folhetins bíblicos?
De modo geral, não são públicos diferentes, apesar de serem histórias diferentes. Nós, seres humanos, não somos só uma coisa, mas múltiplos. Nós temos um sonho dentro da gente como o Rômulo [de Malhação], também vive questões no amor como o Luchino [de Orgulho e Paixão], seja por outro homem ou por uma mulher, e uma relação com a fé como José.

A gente não pode rotular o público. Eu percebo que em geral os fãs veem tudo ou quase tudo que a gente faz. Uma pessoa pode até não gostar de novela bíblica, mas começa a assistir por meio de mim e abre toda uma gama de possibilidades. O meu intuito não é dividir, mas trazer todo mundo para o meu mundo e poder tocar vidas por meio de cada história.

Confira a entrevista de Juliano Laham em vídeo:


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