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AS FILHAS DA MÃE

Há 20 anos, novela da Globo fracassou com Claudia Raia em papel de transexual

DIVULGAÇÃO/TV GLOBO

Claudia Raia de vestido preto, caracterizada como a personagem Ramona, uma mulher transexual em As Filhas da Mãe (2001)

Claudia Raia como a personagem Ramona, uma mulher transexual em As Filhas da Mãe (2001)

REDAÇÃO

redacao@noticiasdatv.com

Publicado em 27/8/2021 - 6h30

Em 2001, Silvio de Abreu quis inovar com a novela das sete As Filhas da Mãe. Colocou até uma personagem transexual no núcleo principal (interpretada por Claudia Raia, uma mulher cis). Mas as ideias do autor não tiveram a repercussão esperada com o público, e o folhetim, que estreava há exatos 20 anos, fracassou na audiência. 

A trama de As Filhas da Mãe foi criada como uma comédia, com elementos de chanchada e até de cordel --inspirado na cultura nordestina, um rap era feito para cada capítulo, como forma de amarrar os acontecimentos. 

As personagens principais faziam parte da mesma família: eram as filhas de Lulu de Luxemburgo (Fernanda Montenegro), uma mulher que, por chantagem do marido, teve de abandonar as crianças e sumir do mapa. Ela se tornou uma diretora de arte famosa em Hollywood, e cada filha tomou seu rumo. 

Uma delas era Ramona (Claudia Raia). A personagem nasceu Ramon e passou por uma cirurgia de mudança de sexo na Suíça, onde assumiu a identidade feminina. De volta ao Brasil, ela se reencontrou com as irmãs, que não sabiam da transformação e se assustaram com a novidade.

Ramona, no entanto, não fez sucesso nem teve apoio expressivo do público. Na história, ela desenvolveu um romance com Leonardo (Alexandre Borges), e um dos dramas do casal era o preconceito. Segundo Silvio de Abreu, os telespectadores não tinham referências suficientes para entenderem todo o contexto.

"Eu queria fazer algo mais sofisticado. As pesquisas mostraram que o público não entendia nada da novela. Nem mesmo percebia que era uma comédia. Eles enxergavam como drama. Não sabem o que é Oscar, Hollywood ou transexual, não têm referências, e, mesmo que eu explicasse, continuariam não entendendo. Não há compreensão intelectual, só emocional. Acharam bonita a relação da Ramona com o Leonardo, mas não entenderam o preconceito dele que impedia o romance!", disse ele em entrevista à Folha de S.Paulo em 2002. 

Houve outros problemas que complicaram o bom desempenho da novela. Além do fato de não haver só uma mocinha principal, um romance central e uma grande vilã (elementos tradicionais folhetinescos), As Filhas da Mãe ainda teve que competir por atenção com Carinha de Anjo, novela mexicana que fazia sucesso no SBT, e com os ataques terroristas de 11 de setembro, que aconteceram poucos dias após a estreia da novela e mobilizaram o interesse do público. 

Com audiência muito abaixo da esperada, As Filhas da Mãe foi encurtada na Globo e terminou mais de um mês antes do previsto inicialmente. Silvio de Abreu considerou que foi um trabalho inovador e audacioso, mas admitiu que não agradou aos maiores interessados: os telespectadores. 

"Nós mudamos completamente a maneira de se narrar a história de uma novela. Desprezamos tudo o que é sucesso garantido: personagem central, história central, personagem de identificação, histórias em que o mocinho casa com a mocinha. Fizemos tudo ao contrário. Achávamos que isso daria um ar novo para a novela, que as pessoas iriam se divertir com aquelas novas possibilidades. Mas não contávamos com o conservadorismo do público. A novela teve um sucesso imenso com o público das classes A e B, e foi um fracasso com as classes C,D e E", falou ele em depoimento ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia.

Relembre a abertura de As Filhas da Mãe, com música de Eduardo Dussek:


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