Análise | Teledramaturgia
Reprodução/TV Globo
Ao lado de Atena (|Giovanna Antonelli), Romero (Alexandre Nero) morre em A Regra do Jogo
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 12/3/2016 - 7h05
Antes de A Regra do Jogo estrear, em 31 de agosto de 2015, sua diretora-geral, Amora Mautner, deu entrevistas dizendo que a novela seria inovadora, melhor do que Avenida Brasil (2012), o grande sucesso do autor João Emanuel Carneiro. Golpe de marketing para promover a estreia ou não, o fato é que Amora estava errada. Primeiro porque Avenida Brasil, em termos de narrativa, não é a melhor novela de Carneiro, o que já invalida a comparação, e segundo porque a trama das nove que acabou ontem teve buracos bem maiores do que o famoso pen-drive de Nina (Debora Falabella).
Com uma trama central bem concisa, João Emanuel Carneiro conseguiu atar os fios soltos da história da facção, mas foi um pouco difícil de engolir a predileção pelo mundo do crime de um homem milionário e bem-nascido como Gibson (José de Abreu). Seria mais cínico se ele tivesse se envolvido com a política e não com o poder paralelo. Já Dante (Marco Pigossi) pode ganhar o prêmio de pior policial da história dos folhetins brasileiros _a sorte do personagem foi ter um ator que, apesar de jovem, mostrou segurança no papel.
Essencialmente masculina, A Regra do Jogo priorizou a ação em detrimento do romance. Apostou em figuras centrais fortes, como Zé Maria (Tony Ramos), Gibson e Romero (Alexandre Nero). O confronto que abriu o último capítulo foi muito bem desenvolvido. Matar o protagonista (principalmente Alexandre Nero) não é mais novidade na televisão, mas a cena da morte de Romero (muito bem dirigida) teve seus momentos de surpresa, como quando ele dança ao som de Elvis Presley antes de cair duro no chão. Tornou-se icônica.
Por outro lado, o "quem matou?", clichê adorado das novelas, fez com que toda a inventividade do autor com a trama da facção descesse um degrau. Batido, o recurso pode até ter prendido a curiosidade do público na última semana, mas esperava-se mais criatividade de Carneiro. A revelação de que foi Kiki (Deborah Evelyn) foi como um prêmio ao trabalho da atriz, que entrou na metade e não saiu do tom em momento algum, mesmo com as dificuldades impostas pelas nuances da personagem.
O protagonista também foi marcado por uma certa irregularidade. Atraído por Atena (Giovanna Antonelli), ele via em Toia (Vanessa Giácomo) sua tábua de salvação, mas na reta final, dizendo-se apaixonado pela mocinha, foi capaz de sequestrá-la e armar sua própria morte, incriminando-a. Uma escorregada na condução do personagem, que se mostrou incoerente com esse episódio.
No mais, foi por causa da pretensão de ser série, com capítulos nomeados, trama central concisa e o caráter ambíguo dos protagonistas, que a novela se perdeu. A história da facção e da família Stewart funcionaria, sim, por si só, mas não se sustentaria meses no ar como folhetim diário. Daí a necessidade da criação de tramas paralelas, que diminuíram e muito a qualidade de A Regra do Jogo, tornando-a apenas mediana.
Valeu a tentativa? Sem dúvida, mas essa corda bamba na qual a trama teve de se equilibrar só reforça que novela é um gênero bastante arraigado no hábito do telespectador brasileiro e uma possível disruptura de narrativa ainda levará um tempo. Talvez na próxima novela de João Emanuel Carneiro, espera-se, Amora Mautner poderá encher a boca e dizer que será melhor do que A Regra do Jogo.
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