OPINIÃO
DIVULGAÇÃO/TV GLOBO
Os personagens Griselda (Lilia Cabral) e Guaracy (Paulo Rocha) em cena de Fina Estampa (2011)
Diante da pandemia do coronavírus, a Globo tomou a sensata decisão de paralisar as gravações de suas produções atuais e, com isso, optou por preencher a grade com reprises de novelas do passado até que o surto esteja minimamente sob controle. É uma medida que visa proteger a saúde do elenco e da produção, mas a escolha de Fina Estampa (2011) para ocupar a vaga de Amor de Mãe, atual trama das nove, é de uma tremenda sacanagem com o público.
Os folhetins escolhidos para ocupar os outros horários fazem total sentido. Malhação: Toda Forma de Amar terá seu final antecipado e um compacto de Viva a Diferença, a premiada temporada escrita por Cao Hamburguer, entrará em seu lugar.
Já Novo Mundo (2017), de Alessandro Marson e Thereza Falcão, preparará terreno para Nos Tempos do Imperador, da mesma dupla de autores, e contextualizará o período histórico retratado na trama que ocupará a faixa de Éramos Seis, cujo final será mantido conforme o planejado.
No lugar de Salve-se Quem Puder entrará Totalmente Demais (2015), trama que vem na rasteira do fenômeno Bom Sucesso e servirá para resgatar o humor e a sagacidade do texto de Rosane Svartman e Paulo Halm.
Mas o que dizer de Fina Estampa? A única justificativa plausível para tal escolha é a numérica, afinal a trama de Aguinaldo Silva foi a de maior audiência da década.
Ainda assim, Fina Estampa figura na lista das piores novelas de Aguinaldo --e teria sido a pior se no seu currículo não surgisse O Sétimo Guardião (2019). É um erro grotesco escolher Fina Estampa para a reprise do horário nobre por diversos motivos, mas principalmente porque a comparação com Amor de Mãe deixará evidente a lacuna existente entre as histórias de Manuela Dias e Aguinaldo Silva.
Fina Estampa traz uma trama digna de novela ruim dos anos 1990 e mostra que seus personagens jamais deveriam ter saído da sala de aula que originou a história --assim como O Sétimo Guardião, Fina Estampa também surgiu a partir de um curso de roteiro ministrado por Aguinaldo Silva.
A começar pelas protagonistas. Griselda (Lilia Cabral) e Tereza Cristina (Christiane Torloni) eram planas demais e extremamente maniqueistas, algo que hoje já não convence tanto. Lurdes (Regina Casé), Thelma (Adriana Esteves) e até Vitória (Taís Araujo), em contrapartida, apresentam camadas que se descortinam capítulo após capítulo, dando ao público o sabor da surpresa.
Além disso, Fina Estampa tinha uma história simplista: a mãe batalhadora, que enriquece após um golpe de sorte e muda completamente de vida, mas sofre com as artimanhas de uma vilã que tenta a todo custo emular o sucesso de Nazaré (Renata Sorrah), de Senhora do Destino (2004). O enredo batido por si só já é um contraste enorme com toda a complexidade de Amor de Mãe.
Por fim, a realização. Todo o aclamado trabalho de José Luiz Villamarim atualmente deixa no chinelo a direção pobre e viciada de Wolf Maya. Para se ter ideia do tamanho do problema, o último capítulo de Fina Estampa foi tão ruim que o próprio Aguinaldo Silva já teceu críticas a ele. E com o fim da novela, terminou também a até então duradoura parceria entre o autor e o diretor.
Depois de uma saída nada honrosa de Aguinaldo Silva do quadro de autores da Globo, a escolha por uma trama de sua autoria para a reprise em um momento tão crítico como o atual soa até como uma homenagem. O problema é que, com Fina Estampa, a homenagem fica parecendo vingança.
Corre que ainda dá tempo de rever a decisão, Rede Globo! De coisa ruim sendo mostrada na televisão, já bastam as notícias sobre o coronavírus...
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