Globo apela a 'efeito Walcyr' para segurar público no Vale a Pena Ver de Novo

A Globo preferiu não correr riscos com a substituta de Avenida Brasil (2012) no Vale a Pena Ver de Novo. A emissora recorreu mais uma vez aos préstimos de Walcyr Carrasco para segurar os bons índices do folhetim de João Emanuel Carneiro. Êta Mundo Bom! (2016) ocupa o horário a partir desta segunda (27) com a missão de repetir o sucesso original.

A história de Candinho (Sergio Guizé) rendeu uma das maiores audiências da última década entre as novelas da seis da casa. A obra fechou com uma média de 27 pontos na Grande São Paulo. O canal não conseguia números tão expressivos desde os 33 pontos de O Profeta (2007), que contava justamente com as estreantes Duca Rachid e Thelma Guedes sob supervisão de Carrasco.

A produção repetiu a fórmula que consagrou Carrasco na faixa das 18h, com uma trama de época, texto didático, forte pegada cômica e personagens maniqueístas. Na época, ele não se fez de rogado também ao fazer referência aos seus sucessos passados, caso das guerras de comida de Chocolate com Pimenta (2003) ou os personagens arremessados no chiqueiro em Alma Gêmea (2005).

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Em Êta Mundo Bom!, Walcyr também se mostrou hábil em promover mudanças para corrigir alguns erros que poderiam ser fatais à novela. A protagonista Filomena não aconteceu junto ao público, em uma interpretação insossa de Débora Nascimento, e rapidamente deu espaço a Maria (Bianca Bin). A personagem se tornou o principal fio condutor dos acontecimentos.

A atriz curiosamente também foi um trunfo do escritor para corrigir os rumos de O Outro Lado do Paraíso em 2017. Ele cortou capítulos e adiantou a vingança da mocinha Clara. Os críticos torceram o nariz para as mudanças, mas o público respondeu com um salto de audiência.

REPRODUÇÃO/TV GLOBo

Maria (Bianca Bin) roubou a cena e se tornou a protagonista da novela de Walcyr Carrasco

Mensagem de esperança

Outro fator crucial para o retorno de Êta Mundo Bom! é a mensagem de otimismo propagada pelo protagonista de Sergio Guizé. Apesar de todos os revezes, o companheiro do burro Policarpo sempre repetia o mantra "Tudo de ruim que acontece na vida da gente é para melhorar" --uma frase que deve agradar ao público preso em casa por conta de uma pandemia.

"Minha expectativa com o Vale a Pena Ver de Novo é reviver a alegria que foi a novela. Espero que nesses tempos tão difíceis a novela volte a trazer positividade e esperança", explica Walcyr.

A novela começa com Candinho abandonado ainda bebê em um cesto em um rio. Resgatado das águas por Cunegundes (Elizabeth Savala), ele se torna uma espécie de faz-tudo na fazenda Dom Pedro 2º à medida que cresce. A sua sorte começa a mudar quando ele é expulso da propriedade por se apaixonar por Filomena.

Na companhia de Policarpo, ele parte para São Paulo atrás de sua mãe biológica, sem imaginar que se trata justamente da rica empresária Anastácia (Eliane Giardini).

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Zé dos Porcos (Anderson Di Rizzi) charfuda no chiqueiro de Êta Mundo Bom!: autorreferência

Dedo de ouro

Apesar da desconfiança da crítica especializada, Walcyr é atualmente o principal ás na manga de Silvio de Abreu, diretor de dramaturgia da Globo. Ao lado de Ricardo Linhares, ele é um dos poucos autores que já escreveu para todos os horários da casa, inclusive para a recentemente extinta sessão das 23h.

A especialidade do novelista atualmente é apagar incêndios no horário nobre e recuperar audiências derrubadas por tiros que saíram pela culatra. O caso mais recente é o fenômeno A Dona do Pedaço (2019), que resgatou o público afugentado por O Sétimo Guardião (2018) --de autoria justamente de um de seus principais desafetos, Aguinaldo Silva.

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