Análise | Teledramaturgia
Isabella Pinheiro/TV Globo
Os atores Débora Nascimento e Sérgio Guizé, protagonistas da novela Eta Mundo Bom!
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 20/8/2016 - 6h27
Mais do mesmo, Eta Mundo Bom! chega ao fim na próxima semana como a típica novela "prato feito". Além do público já saber o que seria entregue durante o percurso de muitos personagens, o folhetim não apresentou rigorosamente novidade alguma para o gênero. Ainda assim, cumpriu um papel importantíssimo para a Globo: resgatar a audiência com aquilo que o horário das seis comporta melhor: a ingenuidade e um leve apelo ao melodrama.
Para tanto, a emissora trouxe de volta para a faixa o autor mais versátil de seu banco de escritores, Walcyr Carrasco. Depois da boa experiência com Verdades Secretas (2015), Carrasco amadureceu o texto. Embora Eta Mundo Bom! ainda apresentasse alguns problemas, o autor soube contorná-los com rapidez, o que fez com que sua história ficasse marcada como o maior sucesso da Globo no horário desde Cordel Encantado (2011).
A seguir, exemplos dos problemas da novela e de como foram superados pela produção:
Reprodução/Globo
As atrizes Débora Nascimento e Bianca Bin durante as gravações de Eta Mundo Bom!
Mocinha ruim x coadjuvante ótima
Em sua estreia como protagonista, Débora Nascimento provou que ainda não estava preparada para assumir um papel com tanto destaque _fica aqui a dúvida de sua escalação, visto que seu desempenho em outras novelas também não havia sido nada espetacular. Definitivamente, a atriz não segurou a onda como a mocinha Filomena, e Walcyr Carrasco rapidamente transformou a empregada Maria (Bianca Bin) em plano B para protagonizar sua história. Maria tornou-se a pedra no sapato da vilã Sandra (Flavia Alessandra), e Bianca Bin, segura desde o começo de Eta Mundo Bom!, firmou-se de vez na televisão.
Reprodução/Globo
A atriz Eliane Giardini em cena como a personagem Anastácia de Eta Mundo Bom!, da Globo
Texto empostado x elenco afiado
Os diálogos de Walcyr Carrasco são essencialmente teatrais, com pouco espaço para improvisação, em parte por conta da ambientação da novela nos anos 1940 _o gerúndio, por exemplo, não é conjugado por nenhum dos personagens. Mas o elenco soube polir as falas em interpretações afiadas, com destaque para Eliane Giardini (Anastácia), Elizabeth Savala (Cunegundes), que inicialmente tropeçou mas depois encontrou o tom da megera caipira, e Flávia Alessandra, com seu inconfundível "titia".
Estevam Avellar/TV Globo
O ator Marco Nanini caracterizado como Pancrácio em cena da novela Eta Mundo Bom!
Repetições x Nanini
A história de Pancrácio (Marco Nanini) e seus disfarces para ganhar dinheiro andou em círculos: com mais de 30 personagens diferentes, inevitavelmente o filósofo se metia em confusão sempre que se fantasiava. No entanto, o talento de Nanini falou mais alto e o ator voltou com tudo às novelas, versátil em uma interpretação sem exageros, mesmo quando fantasiado.
João Cotta/TV Globo
A atriz Camila Queiroz, que interpreta a ingênua Mafalda, em cena com Klebber Toledo
Caipiras estereotipados x Cegonho
O núcleo da fazenda de Cunegundes divertiu, é verdade, mas muito mais pelo entrecho do cegonho, que atormentava Mafalda (Camila Queiróz) e Eponina (Rosi Campos), do que pelos numerosos tipos supostamente cômicos do caipira estereotipado. As duas atrizes, aliás, fizeram uma dupla impagável como tia e sobrinha tão ingênuas que provocavam o riso do público.
Artur Meninea/TV Globo
O ator Sergio Guize, que interpreta o protagonista Candinho em Eta Mundo Bom!, da Globo
O grande trunfo
O protagonista Candinho (Sergio Guizé) foi certamente o grande destaque da história. Simples, bondoso, batalhador e sempre disposto a fazer o bem, passou a mensagem otimista da trama com sucesso e teve em Guizé um intérprete à altura. O personagem foi tão forte que nem mesmo a derrapada da mocinha fez com que ele perdesse espaço na novela.
Eta Mundo Bom! não teve pudores de ser popular. A aposta em histórias já conhecidas de fato não trouxe respiro ao gênero, mas provocou a catarse no público com o desenvolvimentos previsíveis. Apesar dos pesares, conquistou aquilo que novelas mais ousadas que ela nem passaram perto: audiência.
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