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DIÁRIO DE UM MAGO

Feitiço à brasileira: Vara de condão de Paulo Coelho não faz milagre em novelas

MÁRCIO DE SOUZA/TV GLOBO

O escritor Paulo Coelho com uma casaca vermelha e barbicha branca caracterizado como o mago Simon em cena de Eterna Magia

Paulo Coelho como o mago Simon em Eterna Magia; novela das seis fez Globo pagar mico

DANIEL FARAD

vilela@noticiasdatv.com

Publicado em 2/11/2020 - 6h50

Paulo Coelho faz jus ao apelido de "mago" com cifras que parecem fruto de bruxaria no mercado editorial. O romance O Alquimista (1988), por exemplo, já vendeu mais de 150 milhões de cópias em todo o mundo, um fenômeno que nenhum outro brasileiro conseguiu repetir até hoje. Os poderes de Coelho, no entanto, perdem a força quando o assunto são as telenovelas --ele não salvou Eterna Magia (2007) de uma repercussão medíocre.

O primeiro folhetim de Elizabeth Jhin exibiu o seu último capítulo há exatos 13 anos, com rumos bem diferentes de sua sinopse original. Nem mesmo a aparição do escritor na estreia evitou que o público torcesse o nariz para os aspectos mais mágicos da história.

A Globo mandou as bruxas para a fogueira mesmo depois de deslocar uma equipe até a Dinamarca só para gravar a participação de Paulo como o mago Simon. Nas cenas, ele alertava a protagonista Nina (Maria Flor) sobre os perigos que seu clã de feiticeiras enfrentaria no decorrer da narrativa.

Considerado um "amuleto", o autor e sua aura de misticismo trouxeram mais azar do que sorte para a produção. Com a audiência ladeira abaixo, Elizabeth aproveitou uma mudança de fase para praticamente limar as adivinhas de seus roteiros. A guerra entre bruxas boas e as más deixou então de ser o centro das atenções.

O esforço para salvar a novela envolveu até mesmo uma mudança na abertura, que trocou o clima sombrio pela voz de Sidney Magal. Os índices reagiram, mas as mudanças não fizeram milagre. A trama fechou com 25 pontos de média, sete a menos do que a antecessora, O Profeta (2006).

DIVULGAÇÃO/MANCHETE

Carolina Kasting como a protagonista de Brida

Retrospecto negativo

Em 1998, a Manchete também apostou em Paulo Coelho como um talismã para escapar da falência. Prestes a fechar as portas, a emissora fez uma adaptação de Brida (1990), com Carolina Kasting no papel-título. O livro já havia ficado cem semanas seguidas nas listas de obras mais lidas do Brasil.

O último suspiro do canal durou exatamente 54 capítulos. O diretor Walter Avancini (1935-2001) enfrentou uma crise atrás da outra, como a troca do autor Jayme Camargo na primeira quinzena de exibição. Sônia Mota e Angélica Lopes assumiram o processo de produção até o fim trágico.

Cheia de dívidas, a Manchete deixou de pagar elenco e técnicos, culminando numa greve que obrigou a história ser encerrada às pressas. Um locutor narrou o destino dos personagens, numa estratégia que só foi repetida mais de duas décadas depois por Malhação: Toda Forma de Amar (2019) --mutilada pela pandemia de coronavírus (Covid-19).


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