OS MUTANTES
FOTOS: REPRODUÇÃO/RECORD
O ator Gabriel Braga Nunes interpreta o vampiro Taveira na trilogia Caminhos do Coração
DANIEL FARAD
Publicado em 29/7/2020 - 6h55
Com números modestos na audiência, a reprise de Os Mutantes (2008) tem feito a emissora pagar mico nas redes sociais. As cenas grotescas e os efeitos capengas voltaram a virar memes na Internet, com os mais jovens descobrindo agora a saga dos X-Men tupiniquins criada por Tiago Santiago --que nem de longe repete o sucesso do passado.
O novelista, no entanto, não se contentou apenas em buscar inspiração nas HQs e filmes da Marvel para criar seres geneticamente modificados como o maligno Metamorfo (Sacha Balli). Ele também pinçou ideias da mitologia grega, como o mal diagramado Minotauro (Fábio Nascimento), e até em textos bíblicos --muito antes de o canal apostar em folhetins religiosos como Os Dez Mandamentos (2015).
O principal trunfo para fazer o público se identificar com a história rocambolesca, no entanto, vem das lendas que traumatizaram muitas crianças e adolescentes durante as férias nas casas dos avós. Além de lobisomens e vampiros à brasileira, o folclore nacional ganhou versões questionáveis na trilogia Caminhos do Coração (2007-2009) que fizeram Câmara Cascudo (1898-1986) se revirar no túmulo.
Relembre alguns mutantes tupiniquins da produção:
Pisadeira (Zulma Mercadante) é inspirada em uma bruxa maligna que causa paralisia do sono
Pelo interior do Brasil, uma bruxa conhecida como Pisadeira costuma subir no peito de quem dorme de barriga para cima e se alimentar de seus pesadelos, em um fenômeno muito parecido com os sintomas da paralisia do sono. Em Os Mutantes, Zulma Mercadante virou piada ao interpretar a feiticeira que tinha a capacidade de anular os poderes dos outros personagens.
Algumas frases viraram bordões nas redes sociais, como "o meu destino é pisar". Ela ainda se transformou em uma espécie de ícone das "pisadas", termo da internet para respostas inflamadas --que recentemente foi substituído pelas "jantadas".
Uma mula decapitada e em chamas: destino da mulher que se envolve com padre no folclore
Muito antes do fenômeno Fleabag, comédia dramática produzida em parceira pela BBC e pela Amazon, a sabedoria popular era bastante clara sobre o destino cruel que esperava uma mulher que se envolvia com um padre: assombrar as crianças como a Mula Sem Cabeça. No folhetim de Tiago Santiago, ela era invocada por Pesadelo (Felipe Adler) para assustar a Liga do Bem.
Rosana (Maria Ceiça) é feita de refém pelo Curupira (Gabriel Canella): ruivo de pés trocados
Com recursos escassos e efeitos especiais não tão desenvolvidos na época, o Curupira (Gabriel Canella) dificilmente aparecia de corpo inteiro na novela. O autor chamou um ator ruivo para manter os cabelos de fogo do protetor da mata, mas os editores suaram e apelaram para o efeito rewind, quando as sequências são apresentadas ao contrário, para mostrar o caminhar invertido da aparição.
Suyane Moreira deu vida à Iara da produção: em vez de rios, sereia indígena habitava as praias
Baseada em uma lenda indígena, a Iara (Suyane Moreira) foi criada em laboratório a partir da mistura de genes humanos com os de peixes. Com o seu canto hipnótico, ela até tentou arrastar Cris (Maurício Ribeiro) para o fundo do mar, mas mudou de ideia a tempo de se aliar à Liga do Bem.
O Papa-Figo (Rogério Barros) é a versão local do homem do saco, um mito da América Latina
O homem do saco costuma assustar as crianças malcriadas de toda a América Latina, mas o papa-figo é a versão nordestina do homem que leva os filhos desobedientes para fazer sabão. Na versão brasileira, ele costumava comer o fígado de suas vítimas em busca de se curar de uma praga que lhe rogaram, que alguns folcloristas estimam ser a doença de Chagas.
Ele serviu de inspiração para mais uma das criações da doutora Júlia (Babi Xavier), grande vilã da trama, onde foi interpretado por Rogério Barros. O Papa-Figo se passou por um caixeiro-viajante para se infiltrar entre os mocinhos da história antes de mostrar os seus poucos e parcos poderes.
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