Com toque de Marília Mendonça, Terra e Paixão faz público salivar por casal sem sal

Maria da Paz (Juliana Paes) tinha uma "receita mágica" de bolo que a fez sair do buraco em A Dona do Pedaço (2019), e Walcyr Carrasco mostrou que também tem mão boa para tempero. O autor de Terra e Paixão conseguiu reverter as críticas iniciais ao romance de Caio (Cauã Reymond) e Aline (Barbara Reis) --fazendo o público salivar por um casal que até então era considerado "sem sal".

Um dos ingredientes da receita para dar mais "caldo" à relação dos protagonistas é a canção A Flor e o Beija-Flor, na voz de Marília Mendonça (1995-2021). A música virou tema para os "pombinhos" na primeira vez deles à beira do rio, remetendo a uma estratégia nem tão inovadora assim.

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Roque Santeiro (1985) já tinha recorrido à canção Dona, do Roupa Nova, para tornar ainda mais marcantes as cenas tórridas entre a viúva Porcina (Regina Duarte) e o Sinhozinho Malta (Lima Duarte). Um fenômeno, aliás, que a própria psicologia explica.

Afinal, A Flor e o Beija-Flor virou uma espécie de "gatilho" para o público se lembrar das cenas quentes --e fundamentais para levantar a audiência da novela das nove– entre Caio e Aline.

Mais ou menos como os "cães de Pavlov", a experiência revolucionária do fisiologista russo Ivan Pavlov (1849-1936) que deu origem à psicologia comportamental. Ele tocava uma campainha sempre que dava ração aos seus cachorros, a ponto de que --passado algum tempo-- bastava apenas acionar o som para fazer os animais salivarem.

A canção de Marília funciona mais ou menos da mesma forma para o telespectador que, já nos primeiros acordes, é levado imediatamente de volta para as sequências de Cauã Reymond com pouca roupa à beira do rio. A mecânica funcionou com a transa entre Caio e Aline no paiol durante o capítulo de terça (8), em que o até então casal "sem sal" foi elogiado pela química nas redes sociais.

Triângulo das butiques

A mudança no perfil de Graça (Agatha Moreira), que ganhou ares mais vilanescos com a chegada de Thelma Guedes à equipe de Carrasco, também foi fundamental para Aline ganhar a simpatia do público. A mocinha até então travava as suas batalhas contra Antônio La Selva (Tony Ramos), mas faltava um dos elementos mais clássicos dos folhetins.

Se as rivais viviam uma "guerra fria" por Daniel (Johnny Massaro), sem praticamente nenhum confronto direto, elas agora estão armadas até os dentes por Caio. A ponto de a professora de Matemática invadir o casamento da filha de Gladys (Leona Cavalli) para roubar o noivo.

Ou seja, o bom e velho triângulo amoroso ajudou a tirar a personagem de Barbara Reis da inércia dentro da própria história. A atriz já tinha mostrado que tinha estofo para uma protagonista com bons trabalhos em Éramos Seis (2019) e Todas as Flores (2023), mas deu azar ao pegar uma das piores mocinhas de Carrasco.

A bucha de Aline é comparável a de Paloma (Paolla Oliveira), que perdeu o protagonismo de Amor à Vida (2013) para o irmão Félix (Mateus Solano) –mesmo com ele jogando a própria sobrinha no lixo. Filomena (Débora Nascimento) também não aconteceu em Êta Mundo Bom! (2016), assim como Clarice (Giovanna Antonelli) em Sete Pecados (2007).

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