ABRIU A CAIXA PRETA
ZÉ PAULO CARDEAL/TV GLOBO
Ti-ti-ti ainda nem estreou no Vale a Pena Ver de Novo, mas já tem substitutas definidas
Escolhida para substituir Laços de Família (2000), a novela Ti Ti Ti (2010) chega ao Vale a Pena Ver de Novo em 29 de março. Mas como é o processo de seleção das tramas que ocuparão a faixa vespertina de reprises? Amauri Soares, chefão da programação da Globo, explica.
Segundo o agora diretor do Canal TV Globo --como foi denominado seu cargo após a reestruturação das empresas do Grupo, no ano passado--, o processo que mobiliza diversos setores da Globo leva em consideração múltiplos critérios, tais como o ano de exibição original, a adequação da história ao horário e a maneira como a trama envelheceu.
Soares define o planejamento das reprises como um processo "muito bem estruturado", que envolve também a análise das tramas exibidas e planejadas para o horário nobre.
"Olhamos o conjunto porque é importante ter a visão do painel de histórias que vamos contar ao longo de um ano, por exemplo. Então, levamos em conta também as sinopses das novelas inéditas para escolher a obra do Vale a Pena. Queremos sempre oferecer um leque de histórias diferentes, com temas variados, para enriquecer a experiência do público", detalha ele em entrevista exclusiva ao Notícias da TV.
O diretor explica que o setor de Conteúdo da Globo é quem seleciona os títulos a serem reprisados. O passo seguinte é apresentá-los às outras áreas do canal, principalmente Programação, Marketing e Inteligência. As decisões, ele faz questão de frisar, são tomadas em conjunto.
Toda a articulação é feita com bastante antecedência. Por padrão, um ciclo de três anos é planejado, mas atualizações podem ser feitas a cada 12 meses. Assim, antes mesmo de sua reestreia, Ti Ti Ti já tem as suas duas substitutas definidas.
"As outras duas novelas que estavam no páreo com Ti Ti Ti também foram consideradas adequadas para o horário do Vale a Pena e com histórias relevantes, engajadoras. Por isso, elas não foram descartadas. Decidimos programar as três. Uma na sequência da outra. Não vou contar aqui quais são para não estragar a surpresa", despista.
Entender se a história "envelheceu" bem também é um fator determinante para decidir a volta de uma novela à TV aberta. E ainda assim o departamento encontra algumas surpresas pelo caminho.
Em Laços de Família, por exemplo, o público vê com outros olhos o tratamento que Helena (Vera Fischer) dispensa à empregada Zilda (Thalma de Freitas) --negra, ela é uma espécie de faz-tudo para a patroa e seus vizinhos, sem horário de trabalho definido--. O comportamento extremamente machista e abusivo de Pedro (José Mayer) também pega mal 21 anos depois da exibição original.
Soares enfatiza que a Globo está atenta às novas percepções do telespectador. "É importante lembrar que tanto o país como a sociedade mudam em um período de cinco, oito ou dez anos. E estas transformações fazem com que o telespectador veja a história cada vez de um jeito diferente. Nosso papel é estar em sintonia com o público de hoje e saber avaliar se uma obra ainda é relevante, se ainda é engajadora", conclui.
O diretor lembra que fatores adicionais são considerados. No ano passado, quando a edição especial de Totalmente Demais (2015) chegou ao fim, os internautas fizeram campanha para que o remake dos estilistas rivais assinado por Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari fosse reexibido às 19h.
"A torcida do público por uma ou outra novela é levada, sim, em conta. Assim como outros parâmetros muito importantes, como a adequação da história para o horário, o ano em que a novela foi transmitida pela primeira vez e o desempenho na exibição inédita. Foi com base nesses critérios que escolhemos Ti Ti Ti", arremata.
A repercussão que a história teve em 2010 e o fato de ser uma trama leve, que se encaixa no horário da tarde, fizeram da trama de rivalidade entre Jacques Leclair (Alexandre Borges) e Victor Valentim (Murilo Benício) uma candidata em potencial para o Vale a Pena Ver de Novo.
Porém, mesmo dentro de todos os requisitos, a novela de Maria Adelaide Amaral passou uma década na gaveta (a trama quase entrou na grade em 2016, mas foi trocada, de última hora, por Cheias de Charme). Na internet, criou-se a teoria de que a ida de Xuxa Meneghel para a Record estaria barrando a exibição, para não promover uma estrela da concorrência.
Isso porque Jaqueline Maldonado (Claudia Raia) era apaixonada pela apresentadora. Além das várias menções, a eterna rainha dos baixinhos também participa da novela. No capítulo 180, a loira faz uma aparição surpresa no aniversário de sua maior fã e dança Ilariê com o elenco.
Questionado, Soares rechaça essa hipótese. "De forma alguma. Basta você ver como Xuxa tem participado de programas da Globo [no próximo sábado, 27, ela estará no Caldeirão do Huck]. A questão é mesmo a variedade de histórias. O principal critério é o mix bem equilibrado, em harmonia com as demais tramas. Neste processo, às vezes, uma novela demora mais do que outra para ser reprisada. Foi o que aconteceu com Ti Ti Ti", pontua.
Outra questão do Vale a Pena Ver de Novo é o formato de imagem nas novelas mais antigas. Nestes casos, a emissora tem recorrido ao falso HD, como acontece atualmente com Laços de Família. Para preencher toda a tela, a Globo dá zoom nas cenas ou então estica as imagens, deformando o rosto dos atores.
Embora essa estratégia não seja unanimidade entre quem assiste, nada deve mudar. "Ouvimos muito o telespectador sobre isso. E sabemos que a presença de aparelhos de TV em formato 16:9 cresceu muito nos últimos anos. Por isso, optamos por usar nas reprises o formato 16:9. Nosso time de Tecnologia tem recursos para expandir a imagem sem prejudicar a qualidade e o enquadramento originais. Este processo está cada vez mais sofisticado, com resultados cada vez melhores. O público já percebeu isso", finaliza.
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