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OLHO NO OLHO

Acusada de satanismo, novela da Globo causava pânico no público há 27 anos

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

O ator Tony Ramos vestido de padre em frente a uma estátua de dragão dourado com a bíblia aberta em cena de Olho por Olho

Padre Guido (Tony Ramos) prestes a realizar um exorcismo em cena de Olho por Olho (1993)

DANIEL FARAD

Publicado em 24/6/2020 - 5h12

Em 1993, ligar a televisão na Globo para assistir a Olho no Olho era o equivalente a quebrar um espelho ou passar por baixo de uma escada. Sinônimo de azar, o folhetim de Antonio Calmon foi tachado como "satânico" e sofreu boicote dos telespectadores mais religiosos. Até mesmo o elenco da trama foi perseguido por uma estranha maldição --apenas Tony Ramos, que interpretou o padre Guido Bellini, escapou ileso da praga.

Relegada ao esquecimento, e nunca reprisada pela emissora, a novela paranormal gerou memes nas redes sociais depois que os internautas redescobriram cenas com efeitos especiais ao estilo trash e também capas de revista que exploraram a polêmica demoníaca por trás das gravações.

A redescoberta se deve à semelhança entre o título da produção com Olho por Olho, próxima novela das nove assinada por João Emanuel Carneiro. Entre uma busca e outro, os algoritmos de sites de pesquisa revelaram aos usuários uma capa da revista Contigo! em que seguidores do diabo acusaram a história de "atrair o mal".

Os bastidores da novela, aliás, não ajudaram a dissipar os rumores diabólicos, já que o ator Thales Pan Chacon (1956-1997) foi afastado às pressas ao ser acometido por uma forte pneumonia. Durante a exibição, a morte de Felipe Pinheiro (1960-1993) também reacendeu a cizânia, uma vez que o artista foi encontrado caído em seu quarto fulminado por uma parada cardiorrespiratória aos 33 anos.

Posteriormente, o próprio autor admitiu que errou na mão ao invocar o coisa-ruim como antagonista de sua narrativa. "É a minha novela que menos gosto porque existia a figura do demônio. Houve uma certa rejeição por parte do público. Além disso, minha vida ficou terrível na época. Figura satânica, nunca mais", afirmou o roteirista no livro Autores: Histórias da Teledramaturgia (Editora Globo).

REPRODUÇÃO/TV GLOBo

O vilão Fred (Nico Puig) recebe raios azuis de Alef (Felipe Folgosi) e Cacau (Patrícia de Sabrit)


Obra do capeta

A trama acompanhava a luta de padre Guido para combater uma organização criminosa comandada por César Zapata (Reginaldo Faria), que usava e abusava dos poderes paranormais do filho Fred (Nico Puig) para atingir os seus objetivos. Do outro lado, o sacerdote contava com a ajuda de Alef (Felipe Folgosi) e Cacau (Patrícia de Sabrit).

Enquanto os vilões lançavam raios vermelhos pelos olhos, os mocinhos se defendiam com emissões azuis. Na época, a equipe de arte da emissora levada 12 horas para produzir nos computadores os efeitos que apareceriam durante apenas 15 segundos na televisão.

Apesar de considerados apostas da emissora, os protagonistas do núcleo jovem não voltariam a se destacar na Globo e, após uma série de papéis pequenos, foram para a concorrência. Patrícia de Sabrit e Nico Puig se aventuraram na teledramaturgia do SBT, enquanto Felipe Folgosi se tornou galã da Record.

Um dos poucos a não ser atingido pela "maldição" foi Tony Ramos, protegido pela batina de seu personagem, que nunca perdeu o status de medalhão da emissora.

Até um dos colaboradores de Calmon também partiria para a Record. Trata-se de Tiago Santiago, autor da trilogia Caminhos do Coração (2007-2009), que incomodaria a Globo com os seus mutantes e efeitos de qualidade questionável --herdeiros diretos dos paranormais de Olho no Olho.

Confira a capa da Contigo sobre a polêmica de Olho no Olho:

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