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NOVA APOSTA

Vai travar o app? Entrada da Netflix no mundo dos games divide mercado

REPRODUÇÃO/NETFLIX

Imagem de Noah Schnapp e Millie Bobby Brown enquanto conhecem jogo de Stranger Things

Noah Schnapp e Millie Bobby Brown conhecem jogo de Stranger Things, série da Netflix

O anúncio da entrada da Netflix na indústria dos games provocou alegria e preocupação do mercado bilionário dos jogos eletrônicos. De um lado, acredita-se que este movimento fomenta a inovação e criatividade, mas há o receio é de que o streaming tenha prejuízo, como uma lentidão no aplicativo.

"O mercado de games recebeu de uma maneira muito positiva a entrada de um player tão grande como a Netflix. Lógico que existem empresas gigantes que já dominam o setor, acredito que a Netflix vai ter um certo desafio, mas é um player que vai movimentar a área a partir do ponto em que muita gente no Brasil já consome a plataforma", defende Marcelo Tavares, CEO da Brasil Game Show, principal feira de jogos eletrônicos da América Latina.

O empresário pontua que essa movimentação pode aquecer o mercado nacional. "Especialmente os jogadores casuais, já que a aposta da Netflix é no mercado de celulares, pensando até em séries de sucesso da plataforma. Isso pode dar certo", pontua Tavares.

Segundo levantamento da TechNET Immersive, o universo dos jogos digitais está avaliado em US$ 163 bilhões, aproximadamente R$ 843 bilhões. O estudo aponta que 2,5 bilhões de pessoas praticam os jogos eletrônicos ao redor do mundo, sendo 20% desta fatia na China --o que anima o streaming para a entrada neste mercado.

"Eles já viram que a base de crescimento dos novos assinantes deve vir da Ásia, com o aumento da tecnologia e do número de pessoas com acesso à plataforma. A empresa também precisa migrar para outras formas de receita pois, se não fizerem isso, estão dependentes de um único produto", alerta Guilherme Zanin, estrategista da Avenue Securities.

O economista traça um paralelo da nova estratégia da Netflix com a visão empresarial adotada pela Disney: "Uma quer ficar mais parecida com a outra. O Disney+ cresce no número de usuários, mas boa parte da receita da companhia vem dos parques, licenciados, entre outros. Já a Netflix tem falta disso, e eles querem fazer uma plataforma mais diversificada agora".

Stranger Things é uma das séries originais do streaming que está no mundo dos games, tanto para aparelhos digitais como nos tradicionais jogos de tabuleiro. "Antes, a Netflix cedia os royalties para as empresas de games. Agora, é provável que ela pare de terceirizar esse produto. É muito difícil eles criarem os próprios jogos em si na plataforma, pois assim ela ficará mais pesada. No início, é mais fácil eles fazerem algo em forma de streaming", afirma Zanin.

Nesse caminho, a Netflix já conta com produções interativas, em que o usuário pode escolher a trajetória do personagem, algo similar a um jogo eletrônico. Black Mirror: Bandersnatch (2018) e Você Radical (2019) são alguns exemplos desta estratégia.

Disputa com quem?

Além da oportunidade de crescimento no mercado asiático, com a chegada dos games, o serviço de streaming entrará em mais uma disputa: o tempo livre dos assinantes

"No final do dia, a Netflix está posicionada em um lugar que disputa o nosso tempo ocioso. Com o crescimento da cultura dos games, essa indústria ocupa a mesma matéria-prima do streaming, que é o tempo", comenta Bruno Maia, especialista em inovação e negócios na indústria do esporte.

O profissional reforça que com o avanço da guerra do streaming, o usuário passa a pesar em que lugar encontrará diversão, pois os produtos não estão mais concentrados em uma única plataforma: "Com essa divisão, a pirataria voltou a crescer. Quando falamos de games, isso torna-se mais difícil, pela questão dos jogos em tempo real".

"Esses dois universos vão começar a convergir, só o tempo e a criatividade vão dizer. Sem dúvida, podemos visualizar um conteúdo original da Netflix ser desdobrado para um game que tem um campeonato transmitido dentro da plataforma. Se é esse o caminho que vão escolher? É um exercício de futurologia e teste de mercado", provoca Maia.


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