COLUNA DE MÍDIA
REPRODUÇÃO/SBT
Programa do Ratinho no SBT; Emissora está à venda e Televisa é forte candidata a compradora
Não é segredo no mercado que o SBT está à venda. Difícil é encontrar um comprador. O valor de US$ 1 bilhão é avaliado como alto demais, e as incertezas em torno de Silvio Santos e suas bruscas mudanças de estratégia tornam as conversas ainda mais complexas. Para piorar, a avaliação é que falta um plano de longo prazo e de sucessão para a emissora.
Para alguns interlocutores, Silvio afirmou que venderia por R$ 1 bilhão. Quando foi procurado por um grupo interessado ano passado, teria dito que o valor na verdade seria o mesmo, mas na moeda norte-americana.
O apresentador Carlos Massa, o Ratinho, em uma visita a uma multinacional brasileira ofereceu o SBT. Mas não houve interesse por parte da empresa, que já possui uma operação de mídia e avalia ser mais vantajoso comprar publicidade onde quiser e não correr o risco de se indispor com outras emissoras se tornando dona do SBT.
O Notícias da TV conversou por WhatsApp com a assessora de Ratinho e questionou o encontro do apresentador com a empresa e a oferta de venda do SBT. A assessoria disse que entraria em contato com o apresentador para checar. Depois, deixou de responder as mensagens da reportagem.
O próprio Ratinho poderia ser um comprador do SBT. O Grupo Massa, que pertence ao apresentador, tem a Rede Massa, com cinco emissoras de televisão afiliadas ao SBT, a rádio Massa FM, com 30 emissoras de rádio, entre próprias e afiliadas, e a produtora de eventos Massa Fun!. A Massa FM é a antiga rádio Estadão FM, de São Paulo, comprada pelo apresentador em 2019. Ratinho pagou R$ 50 milhões pela rádio na época.
Além do segmento de comunicação, o grupo também atua nas áreas de agropecuária, administração de imóveis e licenciamento de marcas, personagens e programas de televisão, entre outros segmentos de negócios. Ou seja, Ratinho até poderia levantar o dinheiro para comprar o SBT, a questão, como para os demais investidores, é se o investimento daria o retorno esperado.
Comprar o SBT não significa apenas desembolsar o valor da aquisição, mas também investir outros bilhões para manter a emissora competitiva em um cenário em que o streaming demanda investimentos cada vez mais elevados.
Por enquanto a legislação brasileira não permite a propriedade estrangeira de grupos de mídia nacionais. O controle internacional é limitado a somente 30% do capital, mas há chances de a lei mudar após as eleições presidenciais deste ano. Só não mudou em 2020 porque Bolsonaro travou a pedido do Bispo Edir Macedo, da Record, segundo reportagem do jornalista Julio Wiziack, na Folha de S.Paulo.
Dentro do SBT uma ideia que começa a circular é que a TelevisaUnivision poderia ser uma boa opção. O grupo mexicano de mídia recentemente concluiu uma fusão com a americana Univision em um negócio de R$ 24 bilhões, com investimentos do SoftBank e Google entre outros.
A Televisa, notória produtora de novelas, já é um tradicional parceiro do SBT. O Google, que se tornou "sócio" da Televisa, é um grande parceiro do SBT por meio do YouTube, em que a emissora tem presença relevante e possui um dos maiores faturamentos da plataforma no país.
"A Televisa seria o parceiro ideal. Já conhecemos, temos acordos de longa data, e eles têm conteúdo e capital", diz um funcionário do SBT. "Se a tecnologia do Google vier junto, não seria ruim."
O colunista Ricardo Feltrin, do UOL, no início de fevereiro destacou como os números robustos do SBT em plataformas digitais, seriam um indicativo da necessidade da emissora paulista ter seu próprio serviço de streaming.
"Sim, a Globo também tem hoje grande público que acessa seu serviço Globoplay. Mas está investindo centenas de milhões de reais na plataforma e em conteúdo para ela. O SBT está fazendo só o 'arroz com feijão' e vem obtendo sucesso semelhante (mas obtendo muito menos receita, claro)", escreveu Feltrin.
Erick Bretas, diretor de produtos e serviços digitais da Globo, não descarta ter conteúdos do SBT no Globoplay. "Poderíamos ter conteúdos licenciados do SBT conosco, se o SBT assim desejar um dia", disse Brêtas em entrevista ao Notícias da TV.
Em 31 de março a Televisa lança em 19 países da América Latina e Estados Unidos seu novo serviço de streaming, o ViX. Será a maior plataforma de streaming em espanhol do mundo e irá oferecer dois modelos de assinatura: um gratuito e com publicidade, e outro premium.
O serviço gratuito terá mais de cem canais de conteúdo com qualidade de transmissão e programação ao vivo e mais de 40 mil horas de conteúdo sob demanda, incluindo novelas, filmes e canais exclusivos de artistas como o superstar mexicano Eugênio Derbez.
O ViX+, que será pago, será lançado somente no final do ano. Terá mais de 10 mil horas de conteúdo produzido internacionalmente e mais de 60 produções originais no primeiro ano.
Wade Davis, ex-CFO da Viacom que liderou a compra da Univision e agora é CEO da TelevisaUnivision, falou sobre a plataforma em um evento para investidores. “Criamos uma plataforma diferente de tudo no planeta”, disse ele, destacando o alcance de 100 milhões de falantes de espanhol diariamente com as TVs, rádios, digital e streaming do grupo. "Uma das coisas mais empolgantes que serão criadas por essa fusão. Estamos prestes a lançar algo extraordinário", acrescentou Davis.
Davis adiantou que há um "compromisso de capital maciço de bilhões de dólares em novos conteúdos em espanhol". A empresa não divulgou o custo das assinaturas, mas disse que será mais barata que as concorrentes por levar em conta a realidade da América Latina.
O novo streaming da Televisa inclusive vai transmitir no México os jogos da Copa do Mundo de futebol e terá um canal dedicado 24 horas à cobertura esportiva.
No Brasil, a Vix já existe, mas é uma versão "antiga" e gratuita do serviço. A Vix era uma empresa digital independente com sites de notícias, entretenimento e um serviço de streaming presente em diversos países da América Latina. Ela foi comprada pela Televisa em 2021. Agora, a Televisa está aproveitando a marca que já tinha forte presença digital para seu novo streaming.
Dois executivos ouvidos pela coluna afirmam que a TelevisaUnivision não tem planos de lançar a nova ViX no Brasil neste ano. A ideia é primeiro consolidar o serviço nos mercados latinos e Estados Unidos e se tudo correr bem depois entrar no Brasil.
O Brasil é avaliado como uma oportunidade, mas é altamente competitivo. É um dos maiores e mais importantes mercados de streaming no mundo, mas os principais players internacionais já estão presentes e ainda há o Globoplay, que oferece conteúdo similar ao da ViX.
Para a TelevisaUnivision, se futuramente comprar o SBT ou se tornar um novo sócio, ter uma TV aberta e o acervo de apresentadores e atrações do SBT poderia ser um ativo interessante para a acelerar o crescimento da operação digital no Brasil. Uma fusão também poderia trazer sinergias (leiam-se cortes de custos) de produção e tecnologia.
Entre as herdeiras de Silvio Santos não existe conversa de venda ou negociação da emissora. "Ninguém as ouve falar em venda, e elas nunca cogitaram essa possibilidade. Elas não querem vender”, diz uma pessoa próxima. "Se existe qualquer conversa de venda, é diretamente com o Silvio e elas não estão participando”.
Procurado, o SBT respondeu por meio de sua assessoria de imprensa que não comentaria. A assessoria de imprensa da TelevisaUnivision no México não retornou os contatos da coluna.
Após a publicação desta coluna, o apresentador Ratinho enviou nota abaixo:
"O empresário e apresentador Carlos Massa, Ratinho informa que não procedem as informações que foram publicadas a respeito de sua participação 'na compra ou venda do SBT a uma multinacional':
'Eu não participei de nenhum encontro que envolvesse negociação do SBT. Primeiro porque eu nunca soube que a emissora está venda. Segundo, caso a venda fosse uma realidade, com certeza, eu não seria a pessoa encarregada para isso, embora o ramo dos meus negócios seja comunicação. Estou muito envolvido e feliz como apresentador tocando o meu programa.'
Ratinho."
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