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COLUNA DE MÍDIA

Fuga de artistas renomados para outras plataformas é um risco para as TVs

Reprodução/Instagram e Divulgação/Netflix

Montagem com fotos de Bruno Gagliasso, Maisa Silva e Marco Pigossi

Bruno Gagliasso, Maisa Silva e Marco Pigossi trocaram Globo e SBT pela Netflix; movimento sem volta

GUILHERME RAVACHE

ravache@proton.me

Publicado em 25/3/2021 - 6h45

A pandemia tem sido dura com as TVs. Queda de receita com a publicidade migrando para o digital, espectadores mudando para o streaming, diminuição do volume de produções e, agora, um crescente número de astros troca a TV por outras plataformas.

Diversos nomes tradicionais deixaram a televisão recentemente porque não aceitam os cortes propostos. Porém, outra maneira de observar essa tendência é perceber que diversas destas estrelas não aceitam as reduções salariais porque acreditam poder ganhar mais, e até serem mais felizes, fora da TV tradicional. O poder de controle das emissoras sobre suas estrelas nunca foi tão pequeno.

Esta é uma mudança completa na dinâmica do entretenimento no Brasil. Aparecer em uma emissora de TV sempre foi o auge da carreira de um artista. Se fosse como contratado, ainda melhor, pois haveria mais status e, em tese, asseguraria maior tempo no ar. Artistas até aceitavam ganhar menos para estarem em uma emissora que desse maior visibilidade.

Hoje, porém, ter um grande número de seguidores em uma rede social ou estrelar a própria série em uma plataforma de streaming pode ter mais valor do que estar na TV. E, quanto mais pessoas consomem conteúdo online, maior o poder dos criadores, porque na internet há dezenas de plataformas, boa parte com alcance global (além das redes sociais, todo tipo de streamings, inclusive de games), não apenas um punhado de emissoras de TV.

Dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo se consideram criadoras, mas, quando uma estrela da TV migra para o digital, leva a vantagem de já ser uma "marca" reconhecida e respeitada. Nem todo famoso irá se dar bem no digital, mas os que acertam têm perspectivas melhores na internet do que ficando na TV.

Ao dedicarem mais tempo para suas plataformas digitais, os artistas aumentam as chances de controlarem as próprias carreiras, dão adeus às imposições não raro arbitrárias das chefias e, principalmente, passam a controlar a própria audiência. Podem até ganhar mais dinheiro ao ficarem com a maior parte da receita publicitária que usa sua marca.

Certamente, nada impede que um artista esteja na TV e no digital. Estrelas como Sabrina Sato e Ana Hickmann estão na TV e são conhecidas do público e queridinhas dos anunciantes, mas suas marcas digitais são gigantescas, assim como o tempo que elas dedicam ao mundo virtual.

Mas, se Sabrina e Ana deixassem a TV aberta, seguiriam sendo tão relevantes quanto são atualmente. Possivelmente até se tornariam maiores fora da TV, porque teriam mais tempo para focar no digital.

Nos Estados Unidos, Oprah Winfrey ainda aparece na TV em ocasiões especiais --como a entrevista com Meghan Markle e o príncipe Harry--, mas seu maior contrato é com a Apple+. Ela poderia estar em qualquer canal, mas optou pelo digital.

Semana passada, a atriz Flávia Alessandra e o apresentador Otaviano Costa lançaram a própria agência, a Family. A ideia do casal é estreitar o relacionamento com as agências de publicidade e com os anunciantes. O casal, conhecido na TV e com grande influência no digital, está dando o próximo passo da cadeia evolutiva dos famosos: se tornar uma plataforma.

O modelo de negócio de uma plataforma é criar valor ao facilitar trocas entre dois ou mais grupos interdependentes, geralmente consumidores e produtores. Se você é uma marca e quer falar com o público, pode ir diretamente a Flávia e Otaviano, e eles se encarregam de entregar a mensagem. Por outro lado, eles ouvem os fãs, podem dar rapidamente feedback para as marcas e ajustarem e corrigirem mensagens e produtos.

Se o casal acertar a fórmula, rapidamente se tornará um concorrente para a TV. Mas não um concorrente tradicional, porque também poderá oferecer ações na TV para os clientes. Este é o ponto. Para Flávia e Otaviano, a mídia é indiferente, desde que eles atendam à demanda do cliente e dos fãs. Produtos com a chancela da dupla, ou com a marca Otaviano e Flávia, devem ser consequências naturais. Enquanto emissoras de TV precisam gastar milhões para se tornarem marcas DTC (diretas ao consumidor), as celebridades no digital potencialmente já o são.

Para os artistas e produtores de conteúdo, o céu é o limite. Já as TVs terão de trabalhar duro não só para mostrar valor aos clientes, mas principalmente, para segurar suas estrelas, para que não se tornem concorrentes no digital.


Este texto é argumentativo e não expressa necessariamente a opinião do Notícias da TV. A Coluna de Mídia é publicada toda quinta-feira.


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