ACABOU O DINHEIRO?
REPRODUÇÃO/IGREJA UNIVERSAL
Edir Macedo, líder da Igreja Universal: pandemia fez evangélicos renegociarem contratos com TVs
As igrejas evangélicas que compram horário na televisão deixaram de ser uma tábua de salvação para redes de TV que contam com esse dinheiro para fechar as contas. A Igreja Universal do Reino de Deus, a maior delas, renegociou acordos com pelo menos três emissoras: RedeTV!, CNT e TV Gazeta. Outras duas denominações fizeram o mesmo. Todas culpam a pandemia de Covid-19 pela queda de arrecadação.
Além da IURD, a Igreja Internacional da Graça de Deus, do autoproclamado missionário R.R. Soares, reduziu o repasse para ocupar 60 minutos do horário nobre da RedeTV!. Já a Igreja Mundial do Poder de Deus, do apóstolo Valdemiro Santiago, agora paga menos do que aquilo que desembolsava até 2020 para ocupar 22 horas da Loading (2020-2021) e MTV Brasil (1990-2013).
Nove anos atrás, conforme publicou o Notícias da TV na ocasião, a estimativa do mercado era de que as igrejas colocassem mais de R$ 1,2 bilhão em emissoras pequenas e nanicas. Hoje, a projeção de fontes ouvidas pela reportagem fica na casa de R$ 900 milhões. Houve uma redução forte, principalmente nos dois últimos anos. Mas as igrejas aumentaram os critérios para escolher quem receberá o investimento.
Agora, as agremiações exigem uma cobertura mínima em grandes capitais, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, e um investimento constante em aumento de penetração pelo país. Quem não tem pelo menos 60% de entrada nos televisores do Brasil simplesmente não é mais considerado. É o caso da nanica NGT, que perdeu contratos com religiosos por ter cobertura baixa.
Com a pandemia e o fechamento dos templos pelo Brasil, as igrejas entraram em ação e se aproveitaram da boa relação com as redes menores para reduzir seu pagamento. A mais rápida foi a Igreja Universal do Reino de Deus.
Assim que os primeiros casos de Covid-19 foram registrados no Brasil, Edir Macedo e seus pastores conversaram com RedeTV!, CNT, TV Gazeta e Rede 21, do Grupo Bandeirantes. Apenas na última teve problemas. Todas as outras mudaram as bases contratuais em nome da grana.
A emissora de Amilcare Dallevo e Marcelo de Carvalho aceitou receber menos pelos aluguéis das faixas entre 13h e 15h e entre 17h e 18h, atualmente vendidas para a IURD. Além disso, topou não fazer o reajuste anual previsto em contrato. A estimativa de gastos é na casa dos R$ 12 milhões por mês.
A CNT não reduziu o que era cobrado mas, assim como a RedeTV!, não aplicou a cláusula de reajuste anual. Em comunicado ao Notícias da TV, a IURD elogiou a emissora por ter "aumentando substancialmente a cobertura do seu sinal". De fato, a CNT cresceu em 10% sua presença pelo país, ao chegar em capitais do Nordeste, como Aracaju, Fortaleza e João Pessoa.
A TV da Fundação Cásper Líbero também aceitou não aplicar a elevação prevista contratualmente e manteve o espaço na programação dedicado à Igreja --das 20h às 22h.
A IURD informou ainda que "cerca de 90% dos contratos que a Universal mantém com veículos no Brasil ou foram reduzidos em valor ou proporcionados um aumento de programação e de cobertura mediante o mesmo montante pago".
Ela disse, no entanto, que aumentou seus investimentos em mídia de 2020 até agora e criticou a Band por não ter sido parceira no caso da Rede 21. O caso virou uma guerra judicial (veja a íntegra da reposta no fim deste texto).
Concorrentes de Edir Macedo, R.R. Soares e Valdemiro Santiago também sofrem os efeitos. A Igreja Internacional da Graça de Deus, liderada por Soares, seguiu os passos da IURD e hoje gasta menos do que pagava até o início de 2020 por uma hora do horário nobre da RedeTV!.
Além disso, R.R. deixou de desembolsar uma quantia que pagava desde 2003 para ocupar o horário nobre da Band por causa da contratação de Fausto Silva pela emissora. Esse dinheiro não foi reaplicado em outra TV.
Por fim, a Igreja Mundial do Poder de Deus "sumiu" das maiores redes do país, como Band e RedeTV!, que já ocupou um dia. Agora, ela só está em TVs menores, como a Rede Brasil e a antiga Loading, que tem aluguel mais barato. Dennis Munhoz, advogado da Igreja e ex-executivo da Record, reconhece que a pandemia foi determinante para o fato.
"Posso te falar que realmente sofremos bastante. As igrejas fecharam, demoraram para reabrir, e sentimos o baque. E claro que isso afeta diretamente os valores pagos para TVs. Mas estamos rigorosamente em dia com todos os compromissos que temos com emissoras", afirmou.
Procurada oficialmente pelo Notícias da TV, a Igreja Internacional da Graça de Deus não se posicionou.
Veja a íntegra do posicionamento da Igreja Universal:
"Em primeiro lugar, ressaltamos que a Igreja Universal do Reino de Deus está em dia com todos os seus contratos com as emissoras de rádio e TV no Brasil --inclusive com a Rede 21.
E mais: nos últimos dois anos, a Universal ampliou seus investimentos e espaço de mídia. Além disso, cabe uma correção na demanda enviada: a Universal não tem contrato com a TV Band, mas sim com a Rede 21.
Sobre renegociação de contratos de mídia:
- A Rede TV reduziu o valor do acordo e ainda aumentou o espaço da Universal em sua programação;
- A CNT manteve o valor do contrato, sem a aplicação da cláusula de reajuste anual e ainda aumentou substancialmente a cobertura do seu sinal;
- A TV Gazeta não aplicou o reajuste previsto contratualmente, mantendo o mesmo espaço na programação.
Além destes, em cerca de 90% dos contratos que a Universal mantém com veículos no Brasil, ou [ele] foi reduzido em valor, ou proporcionado um aumento de programação e de cobertura mediante o mesmo montante pago.
A única empresa que não foi parceira e ainda descumpriu o contrato foi a Rede 21 --não se adequando à realidade do mercado."
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