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ACABOU O DINHEIRO?

Evangélicos vivem crise do século e deixam de ser mina de ouro para TVs

REPRODUÇÃO/IGREJA UNIVERSAL

Edir Macedo, com um terno preto e gravata verde. Ele prega para fiéis no Templo de Salomão.

Edir Macedo, líder da Igreja Universal: pandemia fez evangélicos renegociarem contratos com TVs

GABRIEL VAQUER, colunista

vaquer@noticiasdatv.com

Publicado em 7/5/2022 - 7h00

As igrejas evangélicas que compram horário na televisão deixaram de ser uma tábua de salvação para redes de TV que contam com esse dinheiro para fechar as contas. A Igreja Universal do Reino de Deus, a maior delas, renegociou acordos com pelo menos três emissoras: RedeTV!, CNT e TV Gazeta. Outras duas denominações fizeram o mesmo. Todas culpam a pandemia de Covid-19 pela queda de arrecadação. 

Além da IURD, a Igreja Internacional da Graça de Deus, do autoproclamado missionário R.R. Soares, reduziu o repasse para ocupar 60 minutos do horário nobre da RedeTV!. Já a Igreja Mundial do Poder de Deus, do apóstolo Valdemiro Santiago, agora paga menos do que aquilo que desembolsava até 2020 para ocupar 22 horas da Loading (2020-2021) e MTV Brasil (1990-2013). 

Nove anos atrás, conforme publicou o Notícias da TV na ocasião, a estimativa do mercado era de que as igrejas colocassem mais de R$ 1,2 bilhão em emissoras pequenas e nanicas. Hoje, a projeção de fontes ouvidas pela reportagem fica na casa de R$ 900 milhões. Houve uma redução forte, principalmente nos dois últimos anos. Mas as igrejas aumentaram os critérios para escolher quem receberá o investimento. 

Agora, as agremiações exigem uma cobertura mínima em grandes capitais, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, e um investimento constante em aumento de penetração pelo país. Quem não tem pelo menos 60% de entrada nos televisores do Brasil simplesmente não é mais considerado. É o caso da nanica NGT, que perdeu contratos com religiosos por ter cobertura baixa.

Com a pandemia e o fechamento dos templos pelo Brasil, as igrejas entraram em ação e se aproveitaram da boa relação com as redes menores para reduzir seu pagamento. A mais rápida foi a Igreja Universal do Reino de Deus.

Assim que os primeiros casos de Covid-19 foram registrados no Brasil, Edir Macedo e seus pastores conversaram com RedeTV!, CNT, TV Gazeta e Rede 21, do Grupo Bandeirantes. Apenas na última teve problemas. Todas as outras mudaram as bases contratuais em nome da grana. 

A emissora de Amilcare Dallevo e Marcelo de Carvalho aceitou receber menos pelos aluguéis das faixas entre 13h e 15h e entre 17h e 18h, atualmente vendidas para a IURD. Além disso, topou não fazer o reajuste anual previsto em contrato. A estimativa de gastos é na casa dos R$ 12 milhões por mês. 

A CNT não reduziu o que era cobrado mas, assim como a RedeTV!, não aplicou a cláusula de reajuste anual. Em comunicado ao Notícias da TV, a IURD elogiou a emissora por ter "aumentando substancialmente a cobertura do seu sinal". De fato, a CNT cresceu em 10% sua presença pelo país, ao chegar em capitais do Nordeste, como Aracaju, Fortaleza e João Pessoa.

A TV da Fundação Cásper Líbero também aceitou não aplicar a elevação prevista contratualmente e manteve o espaço na programação dedicado à Igreja --das 20h às 22h. 

A IURD informou ainda que "cerca de 90% dos contratos que a Universal mantém com veículos no Brasil ou foram reduzidos em valor ou proporcionados um aumento de programação e de cobertura mediante o mesmo montante pago".

Ela disse, no entanto, que aumentou seus investimentos em mídia de 2020 até agora e criticou a Band por não ter sido parceira no caso da Rede 21. O caso virou uma guerra judicial (veja a íntegra da reposta no fim deste texto).

R.R. Soares e Valdemiro Santiago

Concorrentes de Edir Macedo, R.R. Soares e Valdemiro Santiago também sofrem os efeitos. A Igreja Internacional da Graça de Deus, liderada por Soares, seguiu os passos da IURD e hoje gasta menos do que pagava até o início de 2020 por uma hora do horário nobre da RedeTV!.

Além disso, R.R. deixou de desembolsar uma quantia que pagava desde 2003 para ocupar o horário nobre da Band por causa da contratação de Fausto Silva pela emissora. Esse dinheiro não foi reaplicado em outra TV. 

Por fim, a Igreja Mundial do Poder de Deus "sumiu" das maiores redes do país, como Band e RedeTV!, que já ocupou um dia. Agora, ela só está em TVs menores, como a Rede Brasil e a antiga Loading, que tem aluguel mais barato. Dennis Munhoz, advogado da Igreja e ex-executivo da Record, reconhece que a pandemia foi determinante para o fato. 

"Posso te falar que realmente sofremos bastante. As igrejas fecharam, demoraram para reabrir, e sentimos o baque. E claro que isso afeta diretamente os valores pagos para TVs. Mas estamos rigorosamente em dia com todos os compromissos que temos com emissoras", afirmou.

Procurada oficialmente pelo Notícias da TV, a Igreja Internacional da Graça de Deus não se posicionou. 

Veja a íntegra do posicionamento da Igreja Universal:

"Em primeiro lugar, ressaltamos que a Igreja Universal do Reino de Deus está em dia com todos os seus contratos com as emissoras de rádio e TV no Brasil --inclusive com a Rede 21.

E mais: nos últimos dois anos, a Universal ampliou seus investimentos e espaço de mídia. Além disso, cabe uma correção na demanda enviada: a Universal não tem contrato com a TV Band, mas sim com a Rede 21.

Sobre renegociação de contratos de mídia:

- A Rede TV reduziu o valor do acordo e ainda aumentou o espaço da Universal em sua programação;

- A CNT manteve o valor do contrato, sem a aplicação da cláusula de reajuste anual e ainda aumentou substancialmente a cobertura do seu sinal;

- A TV Gazeta não aplicou o reajuste previsto contratualmente, mantendo o mesmo espaço na programação.

Além destes, em cerca de 90% dos contratos que a Universal mantém com veículos no Brasil, ou [ele] foi reduzido em valor, ou proporcionado um aumento de programação e de cobertura mediante o mesmo montante pago.

A única empresa que não foi parceira e ainda descumpriu o contrato foi a Rede 21 --não se adequando à realidade do mercado."


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