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COLUNA DE MÍDIA

Crise geral: Warner arma banho de sangue com demissões de R$ 5 bilhões

DIVULGAÇÃO/HBO MAX

Emma D'Arcy em cena da série A Casa do Dragão, da HBO Max

Emma D'Arcy em A Casa do Dragão; sucesso da série na HBO Max aumenta confiança da empresa

GUILHERME RAVACHE

ravache@proton.me

Publicado em 25/10/2022 - 11h38

Os próximos dias serão decisivos para o futuro do streaming com uma série de anúncios de resultados de gigantes de tecnologia. Os primeiros sinais já começam a aparecer. As despesas comunicadas pela Warner ao órgão regulador da bolsa de valores americana, a SEC, apontam que o pior está por vir --a empresa reservou uma quantia bilionária para novas demissões.

Além disso, na segunda (24), a poderosa Apple anunciou que aumentará os valores da assinatura do Apple TV+ pela primeira vez na história. O serviço de streaming da dona do iPhone saltará dos atuais US$ 4,99 (R$ 26,50) para US$ 6,99 (R$ 37,15).

A novidade surpreendeu analistas. No final do terceiro trimestre do ano fiscal de 2022, a Apple informou ter US$ 27,5 bilhões (R$ 146 bilhões) em caixa e equivalentes de caixa, US$ 20,72 bilhões (R$ 110 bilhões) em títulos negociáveis ​​e US$ 21,8 bilhões (R$ 115 bilhões) em contas a receber líquidas. Ou seja, a empresa tem mais de US$ 48 bilhões (R$ 255 bilhões) no banco e outros US$ 21,8 para entrar na conta.

O problema é que cada vez mais as empresas, inclusive a Apple, apostam que o mundo viverá uma recessão em 2023. Então, já começam a fazer caixa para os meses de vacas magras. Além disso, a disparada da inflação fez com que os custos disparassem dentro dessas empresas.

Então, os tempos de gastos folgados e sem muita preocupação com o lucro ficaram no passado. Atualmente, a Netflix é a única grande plataforma de streaming que não dá prejuízo. Segundo especialistas, a Apple TV+ é uma das que mais investem, e que tem os maiores prejuízos proporcionalmente, já que tem bem menos assinantes --a Apple TV+ é menos assistida do que a Pluto TV nos Estados Unidos.

Pior para quem não tem dinheiro

Se está difícil para a Apple com bilhões em caixa, pior para quem foi pego com o caixa combalido. É o caso da Warner Bros. Discovery (WBD), dona da HBO Max e uma série de propriedades de mídia tradicional.

Após a Discovery comprar a WarnerMedia, a nova empresa resultante da união herdou uma dívida de US$ 53 bilhões (R$ 280 bilhões). Depois de realizar uma série de demissões e cortes de custos cancelando produções como Batgirl, em agosto a WBD pagou US$ 6 bilhões (R$ 31 bilhões) de sua dívida, reduzindo o valor para cerca de US$ 47 bilhões (R$ 250 bilhões).

Na segunda (24), as despesas comunicadas pela companhia ao órgão regulador da bolsa de valores americana, a SEC, apontam uma crise profunda.

Tentando colocar seu balanço em ordem, a WBD disse que vai gastar entre US$ 3,2 bilhões (R$ 17 bilhões) e US$ 4,3 bilhões (R$ 23 bilhões) em despesas de reestruturação antes de impostos relacionadas à aquisição da WarnerMedia. Para o terceiro trimestre de 2022, o WBD estima que pagará entre US$ 1,3 bilhão (R$ 6,9 bilhões) e US$ 1,6 bilhão (R$ 8,5 bilhões) em despesas de reestruturação.

Segundo o documento, avaliações estratégicas de programação de conteúdo, levando a perdas de conteúdo e baixas de desenvolvimento, custarão de US$ 2 bilhões (R$ 10,6 bilhões) a US$ 2,5 bilhões (R$ 13,3 bilhões).

Custos de reestruturação organizacional, incluindo rescisão, retenção, realocação e outros custos relacionados, de US$ 800 milhões (R$ 4,2 bilhões) a US$ 1,1 bilhão (R$ 5,8 bilhões). Já atividades de consolidação de instalações e outros custos de rescisão de contrato de US$ 400 milhões (R$ 2,1 bilhões) a US$ 700 milhões (R$ 3,7 bilhões).

Novos cortes e cancelamentos na WBD

"Como parte de seu plano para alcançar sinergias de custos significativas, no terceiro trimestre de 2022, a empresa finalizou a estrutura de apoio às suas iniciativas de reestruturação e transformação em andamento que incluirão, entre outras coisas, avaliações estratégicas de programação de conteúdo, reestruturação organizacional, atividades de consolidação de instalações e outros contratos e custos de rescisão", disse WBD no documento enviado à SEC.

Diminuir o número de produções é uma prioridade, como os US$ 2 bilhões (R$ 10,6 bilhões) a US$ 2,5 bilhões (R$ 13,3 bilhões) reservados para esses cortes deixam claro. A aposta é produzir menos séries e filmes e manter apenas os que sejam relevantes.

Para os executivos da WBD, A Casa do Dragão, que custou um quinto do valor de seu concorrente Os Anéis de Poder, da Amazon, é um exemplo de como a estratégia pode funcionar, já que está alcançando maior audiência e engajamento.

A WBD já gastou US$ 1 bilhão (R$ 5,3 bilhões) em despesas de reestruturação antes dos impostos no segundo trimestre de 2022. No segundo trimestre, a Warner Bros. Discovery registrou um prejuízo líquido de US$ 3,4 bilhões (R$ 18 bilhões) e receita de US$ 9,82 bilhões (R$ 52,2 bilhões).

Cortes só devem acabar em 2024

Ainda no documento enviado à SEC, a WBD afirma que "enquanto os esforços de reestruturação da empresa estão em andamento, incluindo a análise estratégica da programação de conteúdo que pode resultar em deficiências adicionais… espera-se que as iniciativas de reestruturação sejam substancialmente concluídas até o final de 2024".

A WBD prevê divulgar seus resultados do terceiro trimestre na quinta-feira, 3 de novembro, após o fechamento do mercado.

A crise no streaming é geral. Acionistas agora querem lucro e temem uma crise econômica mundial e também houve uma disparada da concorrência pelos assinantes com o crescimento do número de plataformas e produções, diminuindo as perspectivas de lucro de quem apostou bilhões no setor.

A Apple TV+ foi uma das últimas das grandes plataformas a anunciar aumentos nos preços das assinaturas neste ano. Netflix, Disney+, Hulu, ESPN+ e Globoplay já haviam anunciado alta do valor em seus principais mercados. A WBD já adiantou que deve fundir a HBO Max e o Discovery+ em 2023 e subir os preços em breve.


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