DESTAQUE INESPERADO
Divulgação/Pad Thai Pictures
Max Wright, Brianne Howey, Olivia Draguicevich, Cassidy Gifford e Reiley McClendon protagonizam A Caverna (2017)
ANDRÉ ZULIANI e DANIEL VILELA
Publicado em 27/8/2020 - 6h45
O que Dark (2017-2020) e Os Goonies (1985) têm em comum? Além de serem produções que marcaram os fãs de suas respectivas gerações, ambas envolvem jovens protagonistas que vivem aventuras após desbravarem uma caverna misteriosa. Talvez esses elementos expliquem o sucesso de A Caverna (2017), filme que estreou na Netflix sem alarde e logo figurou na lista dos mais assistidos.
A trama não é revolucionária: um grupo de estudantes resolve explorar uma caverna afastada da cidade em busca de um professor desaparecido. Chegando lá, eles percebem que o tempo no local funciona de maneira diferente do que no mundo afora --nada muito complexo para quem sofria com as aulas de Física no colégio.
Diferentemente de Dark, que abusa das referências científicas e explicações mastigadas para que o público consiga entender a narrativa, A Caverna não extrapola nos diálogos difíceis. Pelo contrário: bastam apenas algumas reviravoltas para identificar sobre o que é, de fato, a história.
O principal (e talvez único) atrativo do filme é a tal caverna, que serve para facilitar viagens no tempo assim como na série alemã que se tornou um fenômeno no serviço de streaming. As semelhanças, entretanto, param por aí. Ao contrário de Jonas (Louis Hofmann), os personagens do longa-metragem têm hábitos de higiene menos controversos, assim como menos conhecimentos em física quântica.
A linha temporal de A Caverna é cronológica, e os protagonistas podem avançar até o fim dos tempos, quando a Terra já não é mais habitada pelos seres humanos, ou retroceder até dar de cara com um homem das cavernas. Mas ninguém chega a olhar diretamente para a câmera a fim de explicar conceitos como o paradoxo de Bootstrap ou o gato de Schrödinger.
O único lapso que realmente faz o espectador pensar sobre uma rachadura no tempo é o comportamento estereotipado e completamente fora do tom de Furby (Max Wright). O blogueiro medroso e rechonchudo poderia muito bem ser o alívio cômico de algum filme da Sessão da Tarde de 30 anos atrás com suas piadas prontas e excesso de galanteios para cima de Jackie (Brianne Howey).
Feita para quem treme só de se lembrar da equação de Torricelli nos tempos de colégio, a trama se embaralha em busca de saídas fáceis, que passam até mesmo por alienígenas, para evitar que o espectador pause o vídeo para procurar soluções no Google. Afinal, nem mesmo o algoritmo do site de buscas parece entender a miscelânea de referências que se acumulam no roteiro.
Há três anos, quando fez a sua estreia em festivais de cinema dos Estados Unidos, o longa não foi bem recebido por críticos e público. Sua nota no Metacritc, site que compila resenhas de especialistas, é de apenas 46 (de um máxim de 100). Gary Goldstein, crítico do Los Angeles Times, definiu o filme como um "punhado de ideias em busca de uma narrativa coesa".
Em entrevista ao portal San Antonio Current, Mark Dennis, roteirista de A Caverna e codiretor ao lado de Ben Foster, revelou que uma de suas inspirações para escrever o filme realmente foi Goonies. Para ele, o uso em excesso de efeitos especiais pode estragar algumas produções.
"Naquela época, eram usados efeitos práticos. E a trama, assim como os personagens, tinham mais importância", disse o diretor.
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