CHUVA DE CLICHÊS
REPRODUÇÃO/NETFLIX
Connor (Judah Lewis) em À Espreita do Mal (2019); A Babá (2017) não é o pior filme na carreira do ator
Uma das explicações para o sucesso de À Espreita do Mal (2019) é ter caído no gosto de uma figura mítica que assombra o círculo social de qualquer brasileiro. O filme da Netflix faz o telespectador de trouxa, assim como aquele amigo que indica uma série que só fica boa lá pelo sexto episódio da segunda temporada --e que nunca vale os danos à coluna vertebral pelo tempo excessivo no sofá.
Entre uma cena violenta e outra, a película de terror também fez uma série de vítimas entre os assinantes do serviço de streaming, que colocaram a obra entre os três longas-metragens mais assistidos do último final de semana. A principal justificativa para dar o "play" são as tais reviravoltas do enredo, que compensariam os mais de 90 minutos de investimento.
Em linhas gerais, e sem grandes spoilers, a trama acompanha uma família que vê o modelo de "sonho americano" se desfazer em frente aos seus olhos depois que o detetive Greg (Jon Tenney) descobre uma traição da mulher, Jackie (Helen Hurt). O caso extraconjugal cai como uma bomba para o filho, Connor (Judah Lewis), que passa a ter um comportamento agressivo.
O filme então começa a desenvolver vários fios narrativos que passam por todo e qualquer clichê possível do cinema de horror, de uma investigação sobre um assassino em série que lembra O Silêncio dos Inocentes (1991) até a tensão entre mãe e filho inspirada em Precisamos Falar Sobre o Kevin (2012).
A cada cinco ou dez minutos, mais ou menos, uma nova camada é adicionada, sempre em referência a outro sucesso do gênero. Há a expectativa por uma explicação sobrenatural como a de Atividade Paranormal (2007), ou mesmo de dimensões paralelas para explicar um jovem que desapareceu ao andar no meio da floresta de bicicleta, à la Stranger Things.
Mas, se o Demogorgon não dá as caras, não falta uma figura com uma máscara assustadora para fazer jus ao slasher, subgênero que agrupa psicopatas que se escondem sob uma fantasia como em Halloween (1976) ou Pânico (1996). A narrativa surfa até mesmo em novíssimos clichês instituídos por Parasita (2019) ou Mãe! (2017).
Depois de mais ou menos uma hora dessa "salada" de referências, o longa então começa a ter uma reviravolta atrás da outra, sempre eliminando uma das referências, até que o público então perceba qual o tema de verdade e quem é o real vilão da produção.
O problema central é que essa construção, com um ritmo muitas vezes enfadonho, não faz jus às viradas no enredo. A sensação é que se perdeu cerca de 90 minutos da vida que nunca mais irão voltar, em uma obra que falha até mesmo na hora de ser chata. Afinal, À Espreita do Mal não é entediante o suficiente para fazer dormir, nem tão empolgante a ponto de cativar o público.
Confira o trailer legendado do longa:
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