CONTEÚDO SENSÍVEL
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Scarlett O'Hara (Vivien Leigh) e Mammy (Hattie McDaniel) em ...E o Vento Levou (1939)
DANIEL FARAD
Publicado em 20/6/2020 - 6h11
Um dos principais clássicos de Hollywood, ...E o Vento Levou (1939) rendeu dores de cabeça ao HBO Max nos Estados Unidos. Em meio a manifestações contra o racismo e a brutalidade policial pelo mundo, o serviço de streaming decidiu retirar a obra de Victor Fleming (1889-1949) temporariamente de seu catálogo por trazer figuras politicamente controversas --sobretudo com latifundiários escravagistas retratados como heróis.
Após acusações de censura e moções de apoio, a plataforma voltará a disponibilizar o filme, mas com comentários de Jacqueline Stewart, professora do Departamento de Cinema e Estudos de Mídia da Universidade de Chicago. O espectador vai se deparar com uma pequena introdução em que a especialista trará dados sobre o período histórico retratado no longa-metragem.
O filme é fruto de uma época em que as leis norte-americanas ainda promoviam a segregação da população. Intérprete de Mammy, a atriz Hattie MCDaniel chegou a vencer o Oscar de melhor atriz coadjuvante, mas sequer pode se sentar com o resto do elenco na premiação porque o teatro não permitia a mistura de afro-americanos com caucasianos --tudo devidamente amparado pela lei.
A película, porém, não é a única a obrigar os principais streamings a se adaptarem às novas demandas do público. A própria Disney já alerta os usuários sobre problemas em suas animações e sequer incluiu o polêmico A Canção do Sul (1946) em sua plataforma, Disney+.
O mercado brasileiro, por enquanto, não conta com medidas parecidas em aplicativos como Globoplay ou Amazon Prime Video. Procurada, a Netflix afirmou que "não tem informação ou comentário" sobre o assunto.
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Tom Hanks e Michael Clarke Ducan em cena de À Espera de Um Milagre (1999): controvérsia
Baseado em um livro homônimo de Stephen King, À Espera de Um Milagre (1999) está no catálogo da Netflix. A obra é veementemente criticada por perpetuar o estereótipo do "negro mágico", em que a única função do coadjuvante negro é resolver um problema ou promover o final feliz do protagonista branco.
O termo foi utilizado pela primeira vez pelo cineasta Spike Lee no início dos anos 2000 para descrever longas-metragens como Ghost: Do Outro Lado da Vida (1990) e Um Sonho de Liberdade (1994).
A história acompanha o drama de John Coffey (Michael Clarke Duncan). Condenado injustamente à morte, o homem negro é visto como um santo dentro da prisão e seus poderes são capazes de curar de hérnia de disco a um câncer dos carcereiros brancos. O seu dom, no entanto, é insuficiente para salvá-lo.
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Octavia Spencer em Histórias Cruzadas (2011): atriz levou Oscar de melhor atriz coadjuvante
Anunciado como uma "história emocionante" ao ser exibido no Supercine, o filme Histórias Cruzadas (2011) integra o rol de produções do Telecine Play. As controvérsias em torno do longa também envolvem um estereótipo do "branco salvador", visto como contraparte do "negro mágico".
Apesar de retratadas como mulheres fortes, as domésticas interpretadas por Viola Davis e Octavia Spencer só conseguem quebrar o ciclo de violência em uma cidadezinha no interior dos Estados Unidos graças a uma jovem branca, Eugenia (Emma Stone), que decide guiá-las em uma revolta contra os maus-tratos.
DIVULGAÇÃO/UNIVERSAL PICTURES
O atores americanos Mahershala Ali e Viggo Mortens em cena de Green Book: O Guia (2019)
Disponível no Prime Video, Green Book: O Guia (2019) se sagrou como melhor filme após críticas ao Oscar pela falta de representatividade entre os premiados. Baseado em fatos reais, o filme mostra a amizade entre o pianista negro Don Shirley (Mahershala Ali) e o seu motorista branco Frank Vallellonga (Viggo Mortensen).
A família de Shirley acusou o cineasta Peter Farrelly de sequer tê-los procurado e alegou que Vallelonga nunca foi um amigo próximo do instrumentista. O chofer também não foi responsável por apresentá-lo a grandes nomes da música afro-americana, como Aretha Franklin.
Outra reclamação é a de que o artista foi representado como um homem pouco interessado em política ou na luta pelos direitos civis, quando na verdade manteve uma relação muito próxima com o pastor Martin Luther King (1929-1968).
Divulgação/dISNEY
Mogli: O Menino Lobo (1967) é baseado na obra de escritor inglês considerado como "racista"
Ainda não disponibilizado no Brasil, o Disney+ inseriu avisos de "representações culturais desatualizadas" em algumas de suas principais animações, como Dumbo (1941) e Mogli (1967). A história do elefante com orelhas desproporcionais apresenta uma canção que retrata trabalhadores negros como mais propensos ao consumo de álcool --a música foi "esquecida" na adaptação de 2019.
A cizânia com o "menino lobo" se inicia já com a adaptação de O Livro da Selva, de Rudyard Kipling (1865-1936). Defensor da colonização britânica na Ásia e na África, além de autor de poemas racistas, o autor criou em sua principal obra uma metáfora sobre a superioridade dos europeus brancos, civilizados como os humanos, sobre as outras etnias, representados pelas feras da floresta.
reprodução/paramount pictures
Mr Yunioshi (Mickey Rooney) em Bonequinha de Luxo (1961): olhos puxados com maquiagem
O personagem de origem asiática que trabalha em uma pastelaria ou é fissurado em computadores também faz parte de estereótipos que foram propagados em filmes, novelas e séries. A falta de bons papéis para atores orientais é um problema que se arrasta desde à época de Anna Mae Wong (1905-1961), cuja trajetória marcada pelo preconceito é mostrada de relance na série Hollywood, na Netflix.
Muitos perdem papéis para atores brancos como Mickey Rooney (1920-2014), que usou técnicas para deixar os olhos puxados ao interpretar Yunioshi em Bonequinha de Luxo (1961). Mal-humorado e sovina, o personagem é um caricatura sobre a imagem média do norte-americano sobre japoneses, chineses e coreanos.
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