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ATENÇÃO: SPOILERS!

O que é real e o que é ficção em Hollywood, minissérie da Netflix?

FOTOS: SAEED ADYANI/NETFLIX

O ator David Corenswet, caracterizado como Jack Castello, posa no posto de gasolina de Hollywood, com uniforme e um cigarro na boca

Jack Castello (David Corenswet), protagonista de Hollywood, é ficcional; o posto de gasolina, não

LUCIANO GUARALDO

luciano@noticiasdatv.com

Publicado em 6/5/2020 - 5h44

Lançada em 1º de maio na Netflix, a minissérie Hollywood escancara o machismo, o racismo e a homofobia vigentes na era de ouro do cinema. Para montarem sua história, os criadores Ryan Murphy e Ian Brennan misturaram fatos que aconteceram com uma narrativa repleta de ficção. Mas afinal, o que é real e o que é inventado na produção?

Dos personagens principais da série, apenas dois existiram mesmo: o ator Rock Hudson (1925-1985), interpretado por Jake Picking, e o agente Henry Willson (1911-1978), vivido por Jim Parsons, o eterno Sheldon de Big Bang Theory (2007-2019).

Mas mesmo eles fogem de suas biografias oficiais para darem vazão aos delírios de Murphy e Brennan, que encerram a minissérie em uma utopia politicamente correta.

Acontecimentos marcantes da trama, como uma atriz e um roteirista negros serem premiados com o Oscar, só foram acontecer mesmo no século 21, mais de 50 anos depois da cerimônia de 1948 imaginada pela produção da Netflix.

Outros fatos mostrados por Hollywood não aconteceram exatamente como na série, nem com os mesmos nomes ou locais, mas foram livremente adaptados de situações reais. É o caso do posto de gasolina de Ernie (Dylan McDermott), em que os frentistas prestavam favores sexuais aos clientes, e as festinhas que o cineasta George Cukor (1899-1983) promovia em sua casa.

Confira o que é fato e o que é fake na produção:

Rock Hudson (Jake Picking) conhece dois novos clientes de Henry Willson (Jim Parsons)


Rock Hudson e Henry Willson

O ator e o agente existiram mesmo, e muito do que é mostrado em Hollywood é baseado na realidade. Hudson, de fato, se mudou para Los Angeles em 1946 e era tímido, atrapalhado e um péssimo ator. O teste que ele faz para estrelar o filme Meg é fictício, mas baseado em histórias reais: em seu primeiro filme, Sangue, Suor e Lágrimas (1948), o intérprete levou 38 tomadas para dizer uma única frase.

Hudson, porém, manteve sua homossexualidade em segredo até 1985, quando não podia mais esconder sua luta contra a Aids --ele foi um dos primeiros grandes astros a morrer da doença, na época considerada um mal que atingia apenas gays.

Willson, por sua vez, é representado de maneira bem realista: o agente mudava mesmo os nomes de seus clientes, forçava alguns a terem relações sexuais com ele e tinha uma ligação com a máfia, sendo capaz de tudo para conseguir algumas informações e esconder outras. Até o seu envolvimento amoroso com um ator mais jovem, Junior Durkin (1915-1935), morto em um acidente de carro, aconteceu.

Hollywood só foge da verdade ao mostrar uma redenção de Henry Willson no final. O agente real era viciado em drogas e álcool e morreu pobretão em um asilo que hospedava nomes importantes para a indústria do entretenimento.

Avis (Patti LuPone) assume a chefia dos estúdios Ace após o marido ter problema de saúde


Os estúdios Ace e uma mulher no comando

A principal narrativa de Hollywood ocorre dentro dos estúdios Ace Pictures, uma gigante fictícia mas obviamente inspirada na Paramount Pictures (até o portão onde as pessoas se amontoavam à espera de uma chance como figurantes é igual). Alguns dos filmes listados como produções da Ace, como Código de Honra (1948) e A Valsa do Imperador (1948), eram da Paramount.

As mudanças provocadas no estúdio quando Ace Amberg (Rob Reiner) é internado e sua mulher, Avis (Patti LuPone), assume o comando, porém, são totalmente inventadas. A primeira mulher a controlar um grande estúdio foi Sherry Lansing, que virou chefe da 20th Century Fox em 1980 --três décadas depois da ficção.

Ernie (Dylan McDermott) não existiu, mas seu posto foi inspirado em um estabelecimento real


Posto de gasolina com serviços extras

O posto de gasolina Golden Tip, gerenciado por Ernie e no qual o protagonista Jack Castello (David Corenswet) vai ganhar dinheiro, é inspirado no Richfield Oil. Ali, o frentista Scotty Bowers montou um esquema paralelo: ele combinava programas com clientes famosos e convocava amigos do Exército para ajudarem. Ao contrário do que ocorre na série, Bowers não ficava com 50% dos ganhos dos colegas.

O trailer que fica atrás do posto e serve como quarto improvisado também é de verdade: um amigo de Bowers alugou o terreno para deixar sua casa móvel e cometeu o erro de deixar a chave com o frentista cafetão.

"Muitas pessoas me disseram que suas melhores lembranças aconteceram naquele trailer", escreveu Bowers em seu livro de memórias, Full Service: My Adventures in Hollywood and the Secret Sex Lives of the Stars (Serviço Completo: Minhas Aventuras em Hollywood e a Vida Sexual Secreta das Estrelas, em tradução livre), que não foi publicado no Brasil.

A decadente Jeanne (Mira Sorvino) diante de piscina repleta de homens nus: bacanal fictício


Os bacanais de George Cukor

O terceiro episódio de Hollywood gira em torno de uma festa promovida pelo cineasta George Cukor (vivido por Daniel London) em sua casa. Na ficção, a celebração começava como um jantar elegante para figurões de Hollywood e, no decorrer da noite, se transformava em um bacanal, com homens nus na piscina e um ambiente no qual os homossexuais que estavam no armário podiam se libertar.

Na vida real, as festas aconteciam mesmo, mas nunca em uma mesma noite: Cukor era conhecido tanto por promover grandes eventos para os maiores astros da indústria cinematográfica quanto pelas festinhas íntimas que fazia nas tardes de sábado para amigos gays e seus parceiros. O clima, porém, era mais de libertação do que de devassidão: o cineasta não bebia e dificilmente liberava álcool na festinha.

Anna Mae (Michelle Krusiec) e Camille (Laura Harrier) ganharam Oscars pioneiros na série


Indústria à frente do seu tempo

O apogeu de Hollywood é a cerimônia do Oscar de 1948, no qual boa parte dos personagens termina a noite com uma estatueta dourada nas mãos. Como o filme Meg é fictício, os prêmios também são --na vida real, os vencedores foram alguns dos nomes citados como indicados na série.

A vontade de Ryan Murphy e Ian Brennan de levantar bandeiras e mostrar que a indústria pode ser progressiva e inclusiva, porém, virou um grande exercício de ficção e adiantou em décadas marcos do grande prêmio do cinema.

A primeira negra a ganhar o Oscar de melhor atriz foi Halle Berry, em 2002, por A Última Ceia, e o primeiro escritor negro a levar a estatueta de roteiro original foi Jordan Peele, apenas em 2018, por Corra!.

Uma executiva mulher só foi vencer o prêmio de melhor filme em 1974: foi Julia Phillips, por Um Golpe de Mestre. O prêmio vanguardista da ficção mais próximo do que aconteceu de verdade foi o Oscar de atriz coadjuvante para uma asiática: em 1957, a japonesa Miyoshi Umeki foi condecorada por sua atuação em Sayonara.

E para quem se emocionou com o discurso do roteirista Archie Coleman (Jeremy Pope) ao dedicar sua vitória ao parceiro, Rock Hudson, fica o choque de realidade. Um ganhador do Oscar só foi mencionar um companheiro do mesmo sexo ao receber seu prêmio em 1992, e em uma categoria com bem menos prestígio: Debra Chasnoff agradeceu sua parceira, Kim Klausner, ao levar a estatueta de melhor documentário em curta-metragem.


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