RADIODIFUSÃO
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Câmera em estúdio de televisão: emissoras brasileiras querem se abrir ao capital estrangeiro para sair da crise
Presidente da Frente Parlamentar de Defesa da Radiodifusão, o deputado federal Eli Corrêa Filho (DEM-SP) deve apresentar nas próximas semanas um Projeto de Emenda à Constituição (PEC) que libera o capital estrangeiro nas emissoras de TV e rádio e em jornais e revistas. Hoje, o limite é de 30%, o que afugenta investidores. A ideia é liberar pelo menos 51%, mas um esboço de PEC que já circula nos bastidores de Brasília propõe até 100% de abertura.
O projeto nasceu na Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV), em um encontro no fim do ano passado que reuniu João Roberto Marinho (Globo), Johnny Saad (Band) e José Roberto Maciel (vice-presidente do SBT). A necessidade de ampliar a abertura ao capital estrangeiro é uma unanimidade no setor.
As emissoras de rádio e televisão atravessam a pior crise dos últimos 20 anos. Desde 2015, as receitas das maiores redes estão em queda. Com a pandemia do coronavírus, o faturamento da Globo recuou entre 30% e 40% no primeiro semestre.
Numa projeção anual, isso significa quase R$ 4 bilhões. Se a poderosa Globo está dispensando estrelas como Vera Fischer e talentos como Miguel Falabella, a situação em algumas emissoras de rádio chega a ser de penúria.
O deputado Eli Corrêa Filho vê a liberalização da radiodifusão como uma "necessidade urgente". Hoje, TV e rádio competem em desvantagem com plataformas globais (Netflix, Amazon, Spotify, Apple), que operam sem restrições de capital, com muito menos burocracia e pagando menos impostos.
"O setor de radiodifusão está sendo estrangulado pela internet", diz Corrêa Filho, referindo-se ao streaming. "Sinto uma apreensão muito grande". Segundo o deputado, o percentual a ser liberado ainda não está definido, mas será de pelo menos 51%. "Penso em aumentar até mais", conta.
Em 2002, no auge da última grande crise enfrentada pela Globo, na época endividada por causa dos investimentos na Net e na Sky, o Congresso aprovou a abertura de até 30% das TVs, rádios e jornais aos estrangeiros, mas não aconteceu nada além de algumas negociações, porque os investidores querem ter o controle do negócio, e para isso é necessário deter 51% da empresa.
O Notícias da TV apurou que Band e SBT são os maiores entusiastas da abertura de capital, de 100%; na Globo, as conversas são de abertura de até 70%. Quem conhece os bastidores das grandes redes não consegue imaginar Silvio Santos ou Johnny Saad entregando o controle de suas emissoras a terceiros (nem mesmo a brasileiros), mas eles querem ter essa possibilidade, e para isso é necessário mudar a Constituição.
Segundo fontes do mercado, fusões e aquisições com grupos estrangeiros tendem a ocorrer mais em emissoras de rádio e jornais, que precisam se fortalecer no digital para sobreviver --nos EUA, o fundador da Amazon, Jeff Bezos, comprou em 2012 o prestigiado Washington Post.
Historicamente, políticos de direita e de esquerda se uniram na oposição à presença do capital estrangeiro em empresas de mídia, porque veem uma ameaça à cultura e à soberania nacionais. Pela Constituição, só brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos podem controlar essas companhias.
No setor de aviação, por motivos parecidos, o limite era de 20%. Com a crise, liberou-se 100% de capital estrangeiro como alternativa para salvar negócios e empregos.
Eli Corrêa Filho acredita que a abertura ao investidor internacional irá fortalecer a radiodifusão em uma competição com estruturas globalizadas. Para apresentar a PEC, ele precisa de 171 assinaturas de apoio, e boa parte delas já está garantida, haja vista que 258 parlamentares fazem parte da Frente da Radiodifusão.
"Antes de apresentar a PEC, eu quero conversar com o presidente [da Câmara] Rodrigo Maia e com o ministro das Comunicações, Fábio Faria, que conhece o meio. Nas próximas semanas teremos uma definição", diz o deputado.
Para ser aprovada, a PEC tem de transitar por comissões e ser votada em dois turnos na Câmara e no Senado. É um longo caminho.
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