JOSE BAEZ
REPRODUÇÃO/YOUTUBE
Jose Baez em entrevista sobre o caso Harvey Weinstein, em 2019; advogado explica bastidores do trabalho
Especialista em casos controversos e com forte projeção midiática, Jose Baez se tornou um dos advogados mais conhecidos dos Estados Unidos na última década. Essa experiência na frente das câmeras fez com que o ex-defensor de Harvey Weinstein percebesse uma característica do julgamento popular: "Todo mundo adora uma desgraça"
"É extremamente difícil trabalhar em casos nos quais a mídia está envolvida, em casos de grande repercussão. Já representei outros indivíduos, atletas, atores, atrizes, uma grande variedade de pessoas. Todo mundo adora uma desgraça, todo mundo adora ver quem estava lá em cima sendo derrubado. Então, isso se torna o enredo, essa é a história. A pessoa que pensávamos ser famosa e especial, não é tão especial ou é alguém ruim", pontua Baez em entrevista exclusiva ao Notícias da TV.
O jurista foi alçado ao estrelato em 2011, quando atuou na defesa de Casey Anthony, acusada do assassinato da filha de dois anos, Caylee. A matriarca foi absolvida pela Justiça, e o caso foi batizado pela revista Time como "o julgamento do século das mídias sociais".
A partir daí, Baez adicionou ao seu currículo defesas de famosos como o jogador de futebol americano Aaron Hernandez (1989-2017), condenado pelo assassinato do amigo e cunhado Odin Lloyd (1985-2013). A história já foi retratada em duas produções, uma da Netflix e outra do A&E.
Em 2019, o advogado foi contratado para a defesa do produtor de Hollywood condenado por estupro Harvey Weinstein. No entanto, Baez deixou o caso no mesmo ano. Atualmente, Weinstein processa o jurista e pede a devolução dos honorários, avaliados em US$ 1 milhão (aproximadamente R$ 5,6 milhões).
Para a reportagem, Baez admite que é difícil enfrentar casos como estes, mas ressalta que é necessário foco para lidar com os clientes: "Acho que, ao longo dos anos, desenvolvemos experiência suficiente para sermos capazes de atacarmos as coisas onde elas são importantes, e isso é no tribunal.
Sim, você precisa ter estratégias para lidar com o tribunal da opinião pública, mas isso é secundário, sempre vai ser secundário".
Muitos advogados perdem processos porque perdem o foco disso, acham que é sobre eles, porque são eles que estão sob os holofotes, que estão recebendo muita atenção fora do tribunal e, realmente, não tem nada a ver com o advogado. Tem tudo a ver com o cliente e, se você tem um advogado que pensa primeiro nos clientes, sempre vai ser o melhor para eles.
"Então, esses são alguns dos desafios com os quais lidamos e que tornam extremamente difícil representar alguém que está em destaque, especialmente quando é uma pessoa amada ou odiada. Você tem que desenvolver uma uma casca grossa", complementa Baez, entre risos.
O advogado ressalta que o primeiro passo tomado sempre é entender qual é o seu papel na defesa dos clientes. "Quando alguém pede para que você seja a voz dele no tribunal, não é para julgá-lo, é para ajudá-lo pelo processo legal. Não ganhamos ou perdemos casos para as pessoas que representamos. As evidências cumprem esse papel!", avalia.
"Mas você tem que ser altamente habilidoso para lidar com as evidências que serão examinadas, para ter certeza de que elas resistirão aos rigores do interrogatório e que elas serão justas. Então, você está lutando por justiça para aquele indivíduo. No sistema judicial dos Estados Unidos, temos um sistema de júri. Então, são as pessoas da comunidade que julgam. É o trabalho deles julgar os fatos, se uma pessoa cometeu um crime ou não, ou quando o acusado tem uma defesa válida para esse crime", detalha Baez.
Na realidade, acho que sempre fui uma pessoa que acredita na luta por pessoas que não podem lutar por si mesmas, e não há maior honra ou vocação do que representar alguém que não é popular e assegurar que seus direitos sejam preservados. Porque, se preservarmos os direitos deles, [o sistema] é seguro para todos nós. É aqui que as pessoas perdem o foco, querem um atalho no sistema e punir, punir, punir, mesmo sem saber dos fatos reais.
"É muito humilde representar alguém que precisa de você no momento mais difícil da vida. Posso lhe dizer a incrível responsabilidade que é isso, a importância disso. No dia em que não sentir mais isso, que eu parar de me importar, será o dia em que deixarei de exercer a advocacia. Nem sempre estou de acordo com meus clientes. Às vezes discordamos, às vezes não nos damos bem. Porém, a realidade é que existe um ser humano ali", afirma.
Segundo Baez, existem dois motivos pelos quais ele atua nestes casos: "Primeiro, nem todo mundo é culpado do que é acusado. Em segundo lugar, às vezes cometemos erros, e isso não significa necessariamente que devemos pagar por isso pelo resto de nossas vidas. Somos todos melhores do que a pior coisa que já fizemos".
"É uma questão de dignidade humana para nós, e acho que é importante como tratamos nossos cidadãos no sistema de justiça criminal. Precisa ser um sistema humano, que reconheça a dignidade humana e não trate as pessoas como cidadãos de segunda classe, ou como se não merecessem ter direitos específicos", finaliza.
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