'VOU ESPERAR'
REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
Glamour Garcia em ensaio fotográfico para seu Instagram; atriz adiou cirurgia de redesignação sexual
Glamour Garcia, 32 anos, decidiu adiar o desejo antigo de fazer a cirurgia de redesignação sexual. A atriz trans, sucesso na pele de Britney em A Dona do Pedaço (2019), na Globo, queria fazer o procedimento neste ano. A pandemia atrapalhou. Em 2021 haveria uma possibilidade, mas ela escolheu focar na carreira e em uma peça de teatro idealizada por ela. "Vou esperar", revela.
A artista, que fez história ao vencer o troféu Melhores do Ano de atriz revelação em 2019, no Domingão do Faustão, passou a quarentena em Marília, no interior de São Paulo. Recém-saída de um relacionamento conturbado --ela foi vítima de violência doméstica de seu ex-marido--, a intérprete foi acolhida pelos pais e pela família na cidade onde nasceu.
No mês de março, no início do caos gerado pelo coronavírus, Glamour se viu em um tormento psicológico causado pela agressão do ex. Também teve todos os seus trabalhos, resultado do sucesso da novela das nove, serem cancelados.
"Neste ano, a pandemia foi uma crise para todos. Eu fui pega no auge da minha trajetória e tive uma baixa grande. Aconteceu que essa agenda de celebridade caiu no auge da minha carreira e trajetória. E com as vivências, com o psicológico muito abalado, ainda na situação de vítima, eu sucumbi. Sucumbi à melancolia, sucumbi à depressão e às dificuldades", desabafa para o Notícias da TV.
A situação mudou quando ela tirou da gaveta um livro que havia ganhado de um amigo anos atrás. Em seu momento de reclusão, começou a ler O Caderno Rosa de Lori Lamby, de Hilda Hilst (1930-2004). A obra obscura sobre uma criança que vende o corpo incentivada pelos próprios pais poderia aumentar o drama em que Glamour se encontrava. No entanto, o título atiçou sua veia artística, que decidiu transformar a história em uma peça de teatro.
"O livro conta a história de uma garota de oito anos que é aliciada e prostituída pelos pais. E, em determinado momento dessa vida, ela começa a escrever um diário. Então, esse diário é extremamente polêmico, não preciso falar o quão polêmico esse livro é", explica. "Comecei a ler e me entreguei. Eu venho da arte conceitual, venho do teatro. Então, tenho essa sensibilidade para o processo criativo", completa.
Mergulhada na escrita de Hilda, Glamour superou a melancolia. A atriz, então, arregaçou as mangas. Quando a flexibilização da quarentena permitiu, foi às ruas para tirar o espetáculo do papel. "Fui até o Instituto Hilda Hilst [em Campinas, São Paulo], expliquei como havia nascido o projeto, como ele havia se desenvolvido, qual era a real importância dele acontecer e consegui os direitos da obra", comemora.
Assim que vestiu a camisa de produtora teatral, a artista fez mais. Foi à Secretaria de Cultura de Marília para conversar com os engravatados. Lá, ela conseguiu que a estreia da peça seja justamente na cidade que a viu crescer. "Fui pedir apoio e viabilizar o projeto, que não tem nenhum fim lucrativo nesse momento. É um projeto de pesquisa meu e de incentivo à obra da Hilda Hilst", explica. Inicialmente, a previsão para entrar em cartaz é março de 2021.
Há sete meses, a artista trabalha com essa produção teatral. "Eu sou produtora, idealizadora e mentora. Eu só não sou a diretora porque eu sou a atriz da história", conta. No palco, ela viverá a própria Lori Lamby.
No final de novembro, Glamour voltou ao Rio de Janeiro na missão de conseguir mais apoiadores para levar seu espetáculo para outros Estados. Segundo ela, o trabalho rendeu possibilidades concretas.
Por causa de O Caderno Rosa de Lori Lamby, ela se viu diante de um novo cenário de sua carreira e decidiu adiar os planos de fazer o procedimento cirúrgico de redesignação sexual.
"Vou esperar a estreia da peça. Eu ia fazer esse ano. Depois, ia fazer no começo do ano que vem. Mas estou mais uma vez protelando. A vida está me levando para um outro lado. Quero realizar, mas com o maior cuidado", considera. Para a cirurgia, a atriz teria que passar por um longo preparo prévio. Além disso, o pós-operatório seria extenso. Tudo isso a afastaria do trabalho.
"Eu queria mesmo operar esse ano. Mas surgiu o projeto, que me tomou de corpo e alma. Então, precisei dar atenção a isso", acrescenta. Glamour fará a cirurgia no Brasil, com um médico já escolhido por ela.
Na televisão, ela entrega que possíveis propostas foram congeladas pela pandemia. "As emissoras ainda estão todas na questão da Covid-19, o audiovisual brasileiro vai mudar muito. Então, eu prefiro honestamente dar valor ao que vai acontecer concretamente. E essa obra é muito importante para mim. É agora a minha menina dos olhos", finaliza.
Veja publicação de Glamour Garcia sobre seu projeto teatral:
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