OPINIÃO
Reprodução/Globoplay
Personagens que movimentam o BBB 24, Maycon, Nizam e Rodriguinho foram rejeitados pelo público
Depois de uma experiência frustrante com plantas no BBB 23, a Globo decidiu inovar e mudou o esquema de votação para a nova temporada. Agora, em vez de eliminar o brother mais odiado, o público participa para salvar o seu favorito --assim como já ocorre em A Fazenda, da Record. Entretanto, Boninho e sua equipe não contavam com um obstáculo intransponível para sua estratégia herbicida: o próprio público.
Após duas semanas e quatro eliminações no BBB (a desistência de Vanessa Lopes não teve influência popular e, por isso, não entra na conta), já ficou claro que os brasileiros boicotam o próprio entretenimento na hora do paredão. Apenas isso justifica a saída de Nizam Hayek em uma berlinda que também contava com Raquele Cardozo --que, para piorar a ofensa, foi a mais votada para ficar!
Não que o executivo de contas merecesse o prêmio. Pelo contrário. Contudo, é inegável que ele movimentou a casa muito mais do que a doceira capixaba. O mesmo pode ser dito de Maycon Cosmer, que já tinha causado muito mais em três dias de confinamento do que sua rival Giovanna Lima fez até o momento.
E alguém tem dúvidas de que Rodriguinho vai ser eliminado assim que for parar em seu primeiro paredão? Ele só não superará a rejeição histórica de Karol Conká porque o voto é para ficar, e o amor engaja menos do que o ódio.
Parece que até o pagodeiro já entendeu que o seu jogo caiu por terra; ele iniciou um discurso de "podem me tirar" para continuar por cima mesmo quando sua inevitável eliminação acontecer. "Fui eu que pedi", poderá alegar.
O fato é que os brasileiros, de maneira geral, foram criados em uma tradição cristã que prega a penitência para os pecados. Errou? Vai ter que pagar. É o vilão da história? Precisa se ferrar no final.
É por isso que a banana que Marco Aurélio (Reginaldo Faria) mandou para o Brasil em Vale Tudo (1988) marcou tanto. E que, na semana passada, Irene (Gloria Pires) se dar bem, conseguir um partidão e um bebê chamou muito mais a atenção do público do que Antônio (Tony Ramos) sendo executado na porta da igreja em Terra e Paixão (2023). O vilão, afinal, merece ser punido.
O Big Brother Brasil, apesar de ser um reality show, é apresentado pela própria Globo como uma novela da vida real. Há mocinhos, vilões, pares românticos, intrigas, fofocas... Todos os elementos necessários para um bom folhetim.
Todavia, o público escreve a trama juntamente com a edição, e é aí que o trem sai dos trilhos. Afinal, um bom novelista sabe que os antagonistas precisam se manter por cima durante boa parte da história para se darem mal apenas na conclusão. Se todos os vilões são punidos logo no início, a tendência é que a reta final, que deveria ser de clímax, se torne um marasmo completo.
No BBB 23, para ficar no exemplo mais recente, os últimos cinco dias tinham na casa apenas Amanda Meirelles, Aline Wirley, Bruna Griphao e Larissa Santos. Todas do mesmo grupo, todas com o mesmo pensamento, e todas incapazes de qualquer embate.
Resultado? Uma decisão enfadonha, com apenas 72 milhões de votos (contra 751 milhões da vitória de Arthur Aguiar, ou 633 milhões da consagração de Juliette Freire nos anos anteriores).
Boninho pode mexer no esquema de votação o quanto quiser para tentar acabar com as plantas do confinamento. Enquanto os brasileiros não aprenderem que vilões são uma parte necessária do entretenimento, personagens como Rodriguinho, Nizam e Maycon serão meras ervas daninhas rapidamente arrancadas. E o reality vai virar um jardim bonito, mas sem graça.
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