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ANÁLISE

'Dramaturgia da vida real', BBB21 é um marco na TV por streaming no Brasil

FOTOS: REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Elenco do BBB21 em jogo da discórdia nesta segunda (8): sentados, os participantes olham para alguém fora do quadro

Elenco do BBB21 em jogo da discórdia na segunda (8): sucesso de público

BRUNO MAIA

redacao@noticiasdatv.com

Publicado em 10/2/2021 - 7h00

Esteja você assistindo ou não ao que se passa na "casa mais vigiada do Brasil", é pouco provável que não esteja sabendo --em tempo quase real-- um pouco do que acontece por lá. As interações no Twitter confirmam que o brasileiro adotou o streaming 24 horas como forma de acompanhar o Big Brother Brasil 21 e, através dele, vai ressignificando o próprio programa.

Graças à quarentena, o número de assinantes do Globoplay cresceu consideravelmente, e agora mais gente tem acesso ao BBB 24 horas por dia. Isso está mudando não só o jogo, mas o entretenimento de maneira definitiva. Ninguém mais espera o programa depois da novela. A "dramaturgia" em tempo real, ainda que de um reality show, é sinal de muitas outras mudanças nessa indústria.

Tem gente que só lê os tuítes, quem só assiste ao pay-per-view, quem sabe de tudo pelos memes, tem até aqueles que se informam pelos grupos de WhatsApp ou Telegram. A narrativa se dá de maneira fragmentada e diferente para cada um.

Quando chega, enfim, o episódio na TV, ele já não tem mais o sentido de revelar o que se passou no dia. Nesse contexto, é inocente quem acredita que a edição fará os mocinhos e vilões. Ela não tem mais tanto poder assim quando tudo está exposto --às vezes até com vazamentos de conversas que não eram pra ter aparecido. 

Tudo aquilo que creditávamos, num passado não muito distante, à mão pesada da edição, capaz de direcionar leituras convenientes dos fatos, migrou com as narrativas da TV expostas em tempo real para a mão dos "influenciadores digitais", especialmente dos que têm mais rapidez para comentar.

A importância do fator velocidade no que chamávamos de "furo jornalístico", por exemplo, hoje reside numa equação de alcance versus rapidez do emissor, que normalmente é alguém por trás de um teclado e uma tela, se valendo das redes sociais para ter a importância que, outrora, era das estruturas de TV --e influencia as opiniões como as edições faziam.

Nada disso é exatamente novo, mas no BBB21 parece ter tomado proporções absurdamente maiores, o que torna edição um marco. O conteúdo, integralmente exposto pelo streaming, é ouro nos dias atuais, gera audiência, engajamento e receitas, mas tira o poder de influência de quem o edita. O que vale mais?

Na já histórica saída do participante Lucas Penteado, um mutirão foi formado para fazer "justiça" e assegurar a ele um prêmio de R$ 1,5 milhão. Aquilo que só a Globo poderia oferecer aos vencedores, em troca de três meses de confinamento, agora pode ser dado pela audiência diretamente, depois de 10 dias apenas, graças ao tamanho da amplificação que se tem hoje e do acesso a diversas ferramentas simplificadas de movimentação financeira.

REPRODUÇÃO/TV GLOBO 

Lucas Penteado em participação do BBB21 

Até nisso o poder de sedução da estrutura tradicional do entretenimento balança. E se, a partir de agora, em função de uma releitura oportunista do drama psicológico real do qual Lucas foi, sim, vítima, começarmos a ter cada vez mais participantes em busca de uma estratégia de rápida sensibilização social e engajamento dos fãs para cumprir o objetivo de fama e dinheiro, só que a curto prazo, mobilizando suas bases de fãs? 

Sabe o que é mais impressionante ainda? Um participante que abandona a casa tradicionalmente é ignorado pela emissora, que tenta sumir com qualquer resquício dele. Lucas conseguiu sair e ter que ser necessariamente acolhido pela Globo. Apesar do estrago que a saída causou na estrutura do programa, foi amplamente homenageado.

Um herói-anti-herói como nunca se viu. No jargão da dramaturgia, é comum se referir a essas reviravoltas como "plot twist" --expressão que também já viralizou entre os mais jovens. Só que um deste tamanho é bem raro. Por tudo que envolve, este plot twist transcende à própria história e reflete a mudança dos tempos também no modelo de negócio.

Estamos diante de uma temporada que revisita diversos valores e discussões contemporâneas na sociedade, mas também é um grande reflexo do comportamento do consumidor de conteúdo na era digital. A TV passa por uma experiência ímpar de ressignificação do seu papel na contação das histórias. Os patrocinadores têm que lidar com isso também, e a pressão do público não está apenas na votação do paredão.

Acontece antes, em tempo real, em proporções cada vez mais avassaladoras. E será cada vez mais deste jeito. Ainda estamos no princípio desta nova era, mas o BBB21 já será um marco para quem faz, vende, consome e pensa o mercado do entretenimento no país. O streaming não vai deixar nada mais em seu lugar.


Bruno Maia é profissional de comunicação há 20 anos, CEO da agência 14, ex-VP de marketing do Vasco da Gama e professor da PUC-Rio. Especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte e entretenimento, lançou o livro e o curso Inovação É o Novo Marketing em 2020.


Este texto é argumentativo e não expressa necessariamente a opinião do Notícias da TV.


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