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POLÊMICA

Existe 'representatividade ruiva'? Entenda o erro na fala de Marina Ruy Barbosa

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Imagem de Marina Ruy Barbosa com o cabelo cacheado e solto

Marina Ruy Barbosa em foto publicada nas redes sociais; atriz se envolveu em nova polêmica

PAOLA ZANON

paola@noticiasdatv.com

Publicado em 1/9/2021 - 6h30

No último domingo (29), Marina Ruy Barbosa se envolveu em uma controvérsia ao repostar em suas redes sociais uma fala sobre "representatividade ruiva". Mesmo que a atriz não tenha sido a autora da frase, ela cometeu um equívoco ao compartilhá-la. 

Na imagem que a artista publicou nos Stories de seu perfil no Instagram, uma criança ruiva aparece admirando uma propaganda de Marina em um shopping, acompanhada da frase "depois falam que representatividade não é importante". Marina apenas repostou a publicação original.

O uso da palavra "representatividade", no entanto, foi um erro. "Reivindicar essa representatividade não faz sentido. É uma tentativa da branquitude de tentar equivaler a dor dela às nossas [enquanto pessoas negras]", explica Carol Sodré, historiadora afrocentrada, ao Notícias da TV.

"É complexo porque os ruivos não passaram por absolutamente nada aqui no Brasil, nenhum processo de exclusão ou perseguição social por serem ruivos", lembra ela. "As nossas dores foram profundas, históricas, de séculos atrás, enquanto ruivos já representavam um padrão de beleza", completa.

Segundo Carol, a representatividade na arte significa a diversidade de corpos. O número de cada biotipo nos filmes, séries e novelas deveria ser proporcional ao número real. No Brasil, de acordo com dados do Censo IBGE, 54% da população é negra. Já na televisão, sobretudo em novelas, essa porcentagem não corresponde nem à metade dos personagens.

As pessoas ruivas são menos de 2% da população mundial. O maior país com população ruiva, por exemplo, é a Escócia, com apenas 13%. Ainda assim, o número de protagonistas ruivas ainda é maior do que o número de protagonistas negras. Até nas animações da Disney, Ariel, de A Pequena Sereia, existe desde 1989, enquanto Tiana, a primeira princesa negra, surgiu apenas em 2009 com A Princesa e o Sapo.

"Não faz sentido reivindicar essa representatividade como se a classe ruiva fosse excluída ou precisasse ser representada nas telas. Ela sempre esteve nas telas, em diversos filmes, novelas e filmes", esclarece a professora, que acrescenta também que quase não há na televisão a marginalização de ruivos, coisa que é comum acontecer com personagens negros.

Representatividade x representação

Ainda que a representatividade negra esteja aumentando nos últimos anos na televisão, é importante destacar que isso não equivale a uma representação dos negros. "No BBB21, por exemplo, a gente tinha a diversidade de corpos, mas as pessoas negras entraram em conflito entre si, então não houve representação do movimento", avalia Carol.

Também é comum ver pretos em papeis de vilões ou bandidos, como aconteceu bastante na carreira de Babu Santana antes de ele entrar para o BBB20 e essa questão ser levantada. Após o confinamento, o ator interpretou o policial Nanico em Salve-se Quem Puder (2020). No entanto, enquanto ele estava confinado, apareceu como o capanga Jacinto na reprise de Novo Mundo (2017).

Por outro lado, não é nada comum ver artistas ruivos em papéis "negativos". As atrizes ruivas quase sempre interpretam princesas e mocinhas na dramaturgia. A própria Marina Ruy Barbosa não tem nenhuma vilã em sua carreira de quase 20 anos.

Isso, no entanto, não significa que a atriz não possa ficar feliz ao ver crianças que se reconhecem nela. "É claro que é legal e importante se identificar com uma pessoa que se parece com você. Sendo uma pequena parte da população, uma criança ruiva certamente ficará feliz em ver alguém como ela aparecendo na televisão", discorre Stefani Torres, psicóloga e ruiva natural.

"Porém, não é algo a ser equiparado às reivindicações legítimas do movimento negro [e de outras minorias] de buscar uma representatividade que contemple a maioria da população", contrapôs a psicóloga.

"Eu mesma já passei por situações em que procurei figuras com quem pudesse me identificar e já tive situações nas quais se identificaram comigo, mas não é comparável. É uma questão mais de identificação", acrescenta ela. "Os ruivos são 2% da população mundial, e a gente teve princesa ruiva muito antes de ter princesa negra. Se formos comparar proporcionalmente, os ruivos têm uma grande representação na mídia em geral" finaliza Stefani.

Confira esta reportagem em vídeo:


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