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SEGREGAÇÃO

Blackface em A Fazenda: Por que esse tipo de 'humor' é considerado racista?

REPRODUÇÃO/RECORD

Montagem de fotos com o humorista carioca imitando o cantor negro Luiz Carlos, do Raça Negra

Márvio Lúcio, o Carioca, fez uso de blackface durante o quadro SofaZenda desta semana

VINÍCIUS ANDRADE

vinicius@noticiasdatv.com

Publicado em 17/10/2020 - 7h10

A edição da última quinta-feira (15) de A Fazenda 12 ficou marcada por um episódio de blackface durante o quadro de Márvio Lúcio, o Carioca. O humorista pintou o rosto e as mãos de marrom para imitar o vocalista do Raça Negra, Luiz Carlos, que é negro. A "brincadeira" gerou revolta nas redes sociais por ser considerada racista. Mas por que esse tipo de encenação é ofensiva?

A prática do blackface teve as suas primeiras origens relatadas no século 19, quando pessoas negras eram ridicularizadas para o entretenimento dos brancos, principalmente nos Estados Unidos e em países da Europa.

Espetáculos humorísticos e teatrais exibiam atores que pintavam seus rostos com tintas pretas e simulavam cabelos crespos, com estereótipos negativos associados aos personagens, como ridicularização aos sotaques e comportamentos exagerados. Era uma época em que os negros não eram aceitos nos palcos nem reconhecidos como artistas.

Mas esse tipo de "piada" continuou comum com a popularização da TV. A BBC, por exemplo, exibiu um programa chamado The Black and White Minstrel Show entre 1958 e 1978 --que, apesar de usar blackface, ganhou prêmios e foi extremamente popular, com uma audiência que chegou a atingir 16 milhões de pessoas na época.

A atração saiu do ar com a popularização dos movimentos antirracistas. No Brasil, a novela A Cabana do Pai Tomás, exibida pela Globo entre julho de 1969 e fevereiro de 1970, retratava a história de uma família negra que lutava contra a escravidão nos Estados Unidos, mas tinha como protagonista um ator branco, Sérgio Cardoso(1925-1972), que se utilizava do blackface.

Ou seja, uma pessoa branca pintar o rosto com cores escuras para imitar alguém, mesmo que "sem maldade", não é um tipo de piada aceitável porque tem raízes no segregacionismo e na ridicularização das pessoas negras.

Sérgio Cardoso fez a novela A Cabana do Pai Tomás com blackface, em 1969 (Foto: Reprodução/TV Globo)

"O blackface tem raízes no racismo, que está ligado ao medo de pessoas negras e à ridicularização delas. É um problema racial de longa data. Você percebe desde os tempos de Shakespeare a figura dos brancos escurecendo a pele", analisou o professor Kehinge Andrews, da Birmingham City University, no Reino Unido, em entrevista para a BBC.

Apesar de esse tipo de representação na TV e no cinema ser cada vez mais raro, ainda acontecem casos como o que foi provocado por Carioca nesta semana. O próprio ex-Pânico já havia recebido críticas por fazer blackface em uma imitação de Ronaldinho Gaúcho, em março. Rodrigo Faro, Joelma e Fafá de Belém também foram alvos de reclamações em 2017.

Em Êta Mundo Bom! (2016), o personagem do professor Pancrácio (Marco Nanini) se pintou de preto para se passar por um homem pobre e pedir esmola na porta da igreja --a cena foi cortada da reprise exibida neste ano.

Jimmy Fallon e Jimmy Kimmel, dois dos apresentadores mais populares dos Estados Unidos, precisaram se desculpar com o público recentemente por terem feito uso de blackface em esquetes no passado. Eles foram cobrados no auge de movimentos sociais como o Black Lives Matter, que reacendeu o debate sobre racismo em todos os níveis da sociedade, inclusive o entretenimento.

Em junho, streamings nos Estados Unidos e canais pagos deixaram de disponibilizar e exibir quatro episódios da comédia 30 Rock (2006-2013), três vezes vencedora do Emmy, que contou com atores usando blackface.


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