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Maria Adelaide Amaral entrega 'golpe de sorte' ao escrever minisséries aclamadas

REPRODUÇÃO/TV CULTURA

Maria Adelaide Amaral em entrevista ao Roda Viva; escritora contou como adaptou livros

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DÉBORA LIMA

debora@noticiasdatv.com

Publicado em 14/9/2024 - 8h10

Aos 82 anos, a autora Maria Adelaide Amaral coleciona bastidores inusitados na criação de suas minisséries mais aclamadas na TV. A dramaturga disse que escrever A Muralha (2000) "foi um grande golpe de sorte", revelou que ofereceu A Casa das Sete Mulheres (2003) para a Globo sem ter a menor ideia de qual era a história do livro e ainda entregou uma ajudinha de Dan Stulbach para adaptar seu próprio romance e transformá-lo em Queridos Amigos (2008).

A veterana participou do painel Novelas e Teledramaturgia: Narrativas que Influenciam e Moldam a Sociedade, realizado na terça-feira (10), ao lado dos novelistas Rosane Svartman, Mario Viana, Alessandro Marson e do jornalista Mauricio Stycer. Questionada sobre como adaptar livros para a televisão, Maria começou com os exemplos de A Muralha e Os Maias (2001).

"O fato de eu escrever A Muralha realmente foi um grande golpe de sorte. Me coube falar sobre a história do Brasil e também sobre o século 16", explicou. O então diretor artístico Daniel Filho indagou o que a autora pretendia escrever, e ela decidiu sugerir A Muralha, obra de Dinah Silveira de Queiroz (1911-1982).

"Eu disse com toda a propriedade. Quando cheguei em casa, descobri que A Muralha era do início do século 18, na Guerra dos Emboabas [1707-1709]. Eu teria que retroceder e trazer os personagens para trás. Bom, eu vou falar sobre os avós deles. Aí já envolveu uma grande pesquisa", recordou.

A autora ainda enfrentou outro imprevisto quanto à duração da trama. Ela pretendia escrever 24 capítulos, mas a direção da Globo solicitou 48. "Eu falei: 'Só se eu acrescentar novas tramas, novos personagens'. Porque a história que está lá, dá para contar em 24 capítulos. [Responderam:] 'Ah não, pode fazer o que você quiser'", relatou a ex-contratada da Globo.

À época, a filha de Dinah Silveira de Queiroz tinha autorizado as mudanças na história. "E eu fiz o que quis livremente. Eu sabia qual era a história, claro que eu reli o livro em respeito a Dinah. Mas tinha que construir uma outra história, porque ela fala dos bandeirantes. Eu vou falar dos avós dos bandeirantes, é diferente", justificou.

Maria Adelaide, por exemplo, criou os personagens dom Jerônimo (Tarcísio Meira), dona Ana (Leticia Sabatella) e padre Miguel (Matheus Nachtergaele). Ela ainda revelou que a ideia de inserir os indígenas na narrativa foi de João Emanuel Carneiro, seu colaborador na trama.

Tudo isso fez de A Muralha um produto muito novo. Eu tive toda a liberdade do mundo. Deu supercerto, foi absurdo. O Daniel Filho dizia: 'Isso não tem a menor possibilidade de dar certo. É o produto menos glamouroso que a Globo já fez na vida. Essas mulheres com os vestidos cheios de lama'. Mas era assim que era São Paulo no século 16, era pura lama.

Já a experiência com o romance de Eça de Queiroz (1845-1900) foi um pouco diferente. "Eu adorava essa história. Eu tinha uma grande veneração pelo Eça. Aquilo era um folhetim pronto. Eu fui muito fiel a ele", assegurou.

"Houve momentos em que eu saí da rota. Por exemplo, a Maria Monforte [Simone Spoladore] vai embora e não aparece mais [no livro]. Quando ela foge para Paris com o italiano, ela não volta. E eu fiz ela voltar como Marília Pêra [1943-2015]. As pessoas adoraram, o público adorou, mas os especialistas de Eça de Queiroz se levantaram indignados", relembrou.

A Casa das Sete Mulheres

A escritora ainda contou como teve a ideia de abordar mais sobre a Guerra dos Farrapos (1835-1845) na minissérie baseada na obra de Letícia Wierzchowski. "Eu tive que mexer e mexi. A Casa das Sete Mulheres foi outra história, porque no livro só as mulheres estavam presentes naquela casa", comparou.

A autora e Walther Negrão não conseguiriam escrever mais de 50 capítulos apenas em torno das sete protagonistas. Por isso, mostraram também a trajetória dos homens nas batalhas.

Eles também modificaram o romance de Manuela e Giuseppe Garibaldi, interpretados por Camila Morgado e Thiago Lacerda na adaptação. "A história da Manuela [1820-1903] e do Garibaldi [1807-1882] é verdadeira, mas totalmente diferente do livro. A Letícia Wierzchowski ficava horrorizada, porque a Manuela tinha dado pro Garibaldi. E a tal da Manuela morreu virgem."

Evidentemente, foi sugestão do Walther Negrão. Ele falou: 'Essa mulher tá muito chata. Vamos fazer ela dar para o Garibaldi'. A autora, a Letícia, me ligou e falou: 'Estou horrorizada'. Eu falei: 'Eu também, meu bem'. O que eu vou falar para ela?

Além desse bastidor, Maria Adelaide admitiu que ofereceu a adaptação de A Casa das Sete Mulheres à Globo sem sequer ter lido o livro. Na época, a sinopse de uma novela dela tinha sido vetada por conta dos altos custos. Mas o diretor Mário Lúcio Vaz (1933-2019) pediu outra sugestão.

"Eu já tinha feito esse sinopse inteira, de mais de cem páginas. Eu estava put*, na verdade. Eu estava olhando para a estante e vi lá A Casa das Sete Mulheres. Esse livro me tinha sido dado dois meses antes num almoço com a Isa Pessoa, que era da [editora] Record. E a Lucia Riff falou: 'Esse livro aqui daria uma excelente minissérie'. Mas eu enfiei na estante, porque tinha tanta coisa para ler", admitiu.

"Aí, ele [Vaz] falou: 'Você não tem nada?'. Eu estava no telefone sem fio, olhei e falei: 'Tem A Casa das Sete Mulheres'. Eu não fazia a menor ideia do que se tratava. Peguei o livro da estante: 'Ah, então, são sete mulheres'. Fui lá para a contracapa, orelha para ver. 'Ela é a mulher do Bento Gonçalves [1788-1847], tem a Revolução Farroupilha. Nós vamos ficar na estância, os homens vão para a guerra'", relatou ela.

Mário Lúcio Vaz aprovou a ideia, deu uma semana para ela apresentar a sinopse e sugeriu que a escritora conversasse com Negrão, que também estava com uma história ambientada no Rio Grande do Sul.

"Ligo para o Negrão e falo assim: 'Você vai até a livraria mais próxima da tua casa, compra um livro chamado A Casa das Sete Mulheres'. Ele falou: 'Que porr* é essa?'. 'É a nossa próxima minissérie, você vai, porque daqui uma semana a gente tem que apresentar sinopse'", reproduziu. "E foi assim que a gente fez em uma semana a sinopse. Entregamos e foi aprovada. Assim é essa história e, depois, é o que vocês viram [na TV]."

Queridos Amigos

Por fim, a veterana contou como foi adaptar para a televisão uma obra escrita por ela mesma. "Aos Meus Amigos virou a minissérie Queridos Amigos, que eu amo de paixão. Também foi um acaso", afirmou.

Na época, a autora estava decepcionada com o cancelamento de uma trama sobre Maurício Nassau (1604-1679) que havia oferecido. "Meu sonho era escrever sobre Nassau. A gente fez algumas viagens até para a Holanda, para a Alemanha, e ficamos dois anos trabalhando nisso. Mas foi cancelada por causa de grana também, seria uma minissérie cara", recordou.

Ela chamou Dan Stulbach, que viveria o protagonista, até sua casa para avisá-lo sobre o cancelamento. "E o telefone toca, mais uma vez era o Mário Lucio Vaz para dizer: 'Você não tem um livro seu que dá para adaptar?'. Eu estava com tanta raiva que falei: 'Não, meus livros não são adaptáveis para televisão'. Aí o Dan falou: 'Dá, sim, Aos Meus Amigos dá uma grande minissérie'."

Maria Adelaide entregou a sinopse e recebeu sinal verde. "Eu devo ao Dan Queridos Amigos, porque eu estava com tanta raiva do Nassau cancelado que nem me ocorreu que Aos Meus Amigos pudesse ser material para uma minissérie. Mas foi um dos trabalhos que mais prazer me deu", arrematou.

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