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Globo é processada por assédio de Carlos Cereto a funcionária: 'Fez ela chorar'

REPRODUÇÃO/SPORTV

Carlos Cereto no SporTV: dispensado após 20 anos da Globo, ele é citado em processo de assédio

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GABRIEL VAQUER, colunista

vaquer@noticiasdatv.com

Publicado em 1/7/2021 - 15h42
Atualizado em 1/7/2021 - 16h41

A Globo responde na Justiça do Trabalho a um processo movido por uma ex-funcionária que acusa a emissora de ser conivente com assédio moral. O abuso teria sido praticado por Carlos Cereto, que saiu do canal esportivo da Globo nesta quinta-feira (1º), depois de 20 anos. No processo, a ex-funcionária diz que Cereto a xingava e a fazia dar voltinhas na Redação para mostrar seu corpo. 

O Notícias da TV teve acesso ao processo no fim de maio, antes mesmo de Cereto sacramentar sua saída da Globo. Nos autos, a ex-funcionária relata diversos fatos, confirmados por pelo menos três testemunhas que teriam visto a situação. Por questões de segurança, o nome da profissional é mantido sob sigilo. 

Em um desses momentos de assédio, a ex-funcionária relata no processo que foi chamada de "incompetente, desqualificada e despreparada" por Cereto. Em outro, o jornalista dizia que a sua então colega "estava uma delícia, beijava sua mão" e a fazia dar uma voltinha.

Os casos ocorreram durante o período em que Carlos Cereto foi chefe de Redação do SporTV em São Paulo. Ele ocupou a função entre 2012 e 2015. De 2016 a 2021, foi comentarista e apresentador do canal esportivo.

A reportagem apurou que a ex-funcionária denunciou o fato para o RH na época, mas não obteve sucesso. A ex-funcionária chegou a trocar de setor depois de ter denunciado o assédio; meses depois, porém, voltou a ser chefiada por Cereto e teria passado novamente por situações como a que havia denunciado.

Os autos do processo resumem o depoimento de uma das testemunhas:

Uma vez, a autora comunicou (no final de 2012) uma discussão com Carlos ao RH e a superiores dele, ocasião em que a autora foi deslocada para outra área, retornando alguns meses depois a ser novamente subordinada a Carlos, pois este passou a coordenar também a área que a autora tinha se deslocado; nessa época, o depoente não estava mais no setor; que presenciou a autora comunicando ao superior, sendo que a comunicação ao RH foi a autora que disse ao depoente; que posteriormente a autora voltou ao Arena SporTV, mas o depoente não presenciou; que Carlos já gritou com o depoente e que já reclamou aos seus superiores; que Carlos enviava mensagens para o depoente e a autora por WhatsApp, e-mail e também telefonava, em qualquer horário do dia e da noite, mas com relação às ligações o depoente não presenciou, mas presenciou os e-mails, pois recebia cópia do mesmo e-mail; que o depoente recebeu ligações de Carlos de madrugada.

Em outro trecho do processo, uma segunda testemunha contou que teria visto a ex-funcionária chorando nos corredores após uma outra discussão com Carlos Cereto. A mulher relata que todos na Redação ficavam constrangidos com o que acontecia e que Cereto costumava ter comportamento rude com outros colegas. Mas que, com a ex-funcionária que moveu o processo, o assédio seria ainda mais grave.

A depoente tinha bom relacionamento profissional com Carlos Cereto, tendo sido contratada por ele; a depoente também se reportava a ele; [a testemunha também disse] que Carlos não tinha bom relacionamento com a autora, pois ele a tratava rispidamente, reclamava muito e falava em tom de voz alto, além de ser grosseiro desnecessariamente; que Carlos já chamou a autora de incompetente diversas vezes na frente de outros colegas; que a autora se sentia humilhada; que a depoente e demais colegas ficavam constrangidos com a atitude de Carlos em relação à autora; que no geral, Carlos era grosso com todos, mas em relação à autora era mais ostensivo; que presenciou a autora chorando por Carlos ter chamado a atenção dela de modo ríspido.

Cereto constrangia funcionária

Em seu depoimento completo, a ex-funcionária detalhou os casos. Em um momento, Cereto teria beijado sua mão e afirmado que ela estava linda. Em outro dia, teria pedido para que ela "desse uma voltinha" na Redação da Globo. Ela afirmou se sentir constrangida com isso de maneira muito pesada. 

Além disso, ex-funcionária afirma que Carlos Cereto sempre foi muito ríspido com ela durante todo o seu trabalho o canal esportivo da Globo. Como ela era uma das poucas produtoras de um programa no SporTV, Carlos Cereto lhe ofendia bastante. Em um dos relatos, ela relata ter sido humilhada na Redação em São Paulo.

Seu chefe diretor era Carlos Alberto Cereto, o qual sempre foi muito ríspido em geral desde a admissão da depoente, mas com a depoente era mais ostensiva a conduta, pois a depoente chegou a reclamar ao superior de Carlos; [afirmou] que Carlos falava na frente de outros colegas ou por e-mail direcionado à depoente 'que era incompetente, desqualificada, despreparada', fazia ameaças de demissão; que assediava a depoente dizendo que a depoente estava uma delícia, beijava sua mão, e a fazia dar uma voltinha, fatos que constrangiam a depoente.

Justiça condenou Globo em 1ª instância

Na primeira instância, a juíza Marisa Santos da Costa aceitou o pedido da ex-funcionária. Para a magistrada, ficou comprovado por diversos pontos que Carlos Cereto cometeu o assédio de que foi acusado e que a Globo foi conivente e nada fez para proteger sua contratada.

"Assim, reconhece-se a lesão à dignidade da autora, configurando dano moral, restando estabelecer, por arbitramento racional, norteado pelo princípio da razoabilidade, a extensão da compensação correlata", disse a juíza.

Ela determinou que a Globo pagasse cinco salários mínimos para a ex-funcionária naquele momento. O valor final não é este, já que o processo ainda corre na Justiça. "Estabelecidas tais premissas, arbitra-se a indenização no importe correspondente a 5 (cinco) salários da autora a título de reparação pela prática de assédio moral (mobbing) durante a constância do pacto, tendo em vista a situação social e econômica da reclamada", concluiu.

O que dizem os citados

Procurada pela coluna, a ex-funcionária preferiu não falar sobre o assunto. Ainda em maio, quando procurada, a Globo afirmou que "não se manifesta em casos sub judice”. No processo, a Globo apenas negou a situação. 

Após a publicação da reportagem, a emissora procurou a reportagem e enviou o seguinte comunicado: "A saída do jornalista foi uma decisão de gestão. Sobre as perguntas a respeito de compliance, a Globo não comenta assuntos da Ouvidoria, mas reafirma que todo relato de assédio, moral ou sexual, é apurado criteriosamente assim que a empresa toma conhecimento. A Globo não tolera comportamentos abusivos em suas equipes e incentiva que qualquer abuso seja denunciado. Neste sentido, mantém um canal aberto para denúncias de violação às regras do Código de Ética do Grupo Globo". 

Nesta quinta-feira (1), Carlos Cereto também foi procurado para falar sobre as acusações. Ele disse que só soube do caso após a abordagem do Notícias da TV e que prefere não comentar o teor no processo, porque não é réu no caso. "Eu fui surpreendido com este material. Eu não sou réu da ação. A TV Globo, que é a ré, é quem tem que se manifestar", argumentou.

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