FERNANDO GOMES
REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
Fernando Gomes e o boneco Júlio, sua criação; ele sonha em fazer filme do Cocoricó
Fernando Gomes entrou na TV Cultura quando tinha 25 anos. Foi descoberto como artesão de bonecos meio sem querer por Memélia de Carvalho, bonequeira do Bambalalão (1980-1990), que abriu espaço para que ele integrasse o elenco do programa como manipulador. Aos 28, criou o Júlio para um especial da emissora. Sete anos depois, o boneco foi escalado para protagonizar um dos maiores sucessos infantis da TV Cultura: o Cocoricó, exibido entre 1996 e 2013, mas que ganhou uma nova temporada neste ano.
Vinte e seis anos se passaram desde a estreia do programa. De lá para cá, Gomes foi alçado a gerente do departamento infantil da emissora, demitido do cargo e acabou migrando para o SBT no início deste ano. O artista interpreta o Moleza em A Caverna Encantada, mas não deixou o maior projeto da sua vida de lado: além da nova temporada do Cocoricó, ainda sonha em um longa protagonizado por Júlio e sua turma.
"O Cocoricó foi aos cinemas duas vezes, mas eu não considero um longa, porque foram temporadas da TV Cultura que, antes de estrear na TV, foram exibidas no cinema. Há muita coisa ainda a fazer", diz ele, questionado sobre suas ambições pelo Notícias da TV.
O bonequeiro, afinal, já havia declarado que não sonha com a fama. "Se você quer ser famoso, não vai ficar escondido atrás de um boneco ou em uma direção, de modo geral. Buscar um lugar na frente da câmera não é o meu caso. Eu estou muito feliz com o caminho que percorri até agora, mas tenho muitas aspirações e sonhos que ainda não realizei", arremata.
Não que ele tenha feito pouca coisa durante a carreira. O ator entrou no elenco da TV Cultura no auge da programação infantil da emissora, e, por isso, teve papéis em Rá-Tim-Bum (1990-1994), Castelo Rá-Tim-Bum (1994-1997), X-Tudo (1992-2002) e Vila Sésamo (2007-2016). E isso só enquanto bonequeiro.
Na direção, cuidou do Ilha Rá-Tim-Bum (2002), da implantação do programa da Eliana Michaelichen quando ela se mudou para a Record e fez o Eliana & Alegria (1998-2003), além de dirigir o próprio Cocoricó.
O segredo, segundo ele, foi não se acomodar. "Acredito que é preciso buscar novos desafios em cada projeto. Se eu tivesse sentado lá atrás: 'Já sei manipular um boneco, vou ficar atrás de um balcão e fazer', com certeza eu não teria evoluído nada. Que as novas gerações venham com muita vontade de ousar, inventar e buscar desafios", deseja.
A Caverna Encantada entra nessa safra. É a primeira novela do ator, e ele considera "fascinante" um boneco que participa de uma ficção com humanos. "O Moleza surgiu da cabeça criativa dos autores da novela e do Eron Reigota, gerente de cenografia, que criou o desenho do personagem", explica.
"Eu tive a sorte de ser convidado para confeccionar, criar o boneco e dar vida a ele, o que já era, por si só, um desafio interessante, porque o Moleza é uma mochila que ganha vida e é o último presente que o pai, Paulo [Elam Lima], deu para a Anna [Mel Summers] antes de desaparecer. Sua importância na formação da personagem Anna e no ganho de maturidade que ela passa a ter na vida é estimulante", afirma.
DIVULGAÇÃO/SBT
Fernando Gomes com o Moleza, de A Caverna Encantada
O projeto também possibilitou a ele reencontrar dois grandes parceiros da época de Cocoricó: Neusa de Souza, que interpretou a galinha Zazá e o papagaio Caco no programa infantil rural, agora dá vida à cobra Safira; e Eduardo Alves, que fez a Lola, interpreta o morcego Dodô na novela do SBT.
"É uma segurança imensa saber que temos essas pessoas envolvidas no projeto e no resultado final. Muitas vezes, dentro de um set, nem estamos na mesma cena, mas vemos o trabalho do outro e sabemos que podemos acrescentar algo, dar opinião; nós temos intimidade. Todo o elenco do Cocoricó e dos diversos programas de que participei são pessoas em que confio plenamente", elogia o ator.
Os três também se reencontraram nas gravações da nova temporada de Cocoricó, que teve episódios lançados no Cultura Play e no canal do Cocoricó no YouTube. Com o retorno do projeto, Gomes espera poder voltar a entreter as crianças com conteúdo de qualidade.
"Não buscamos ensinar nada de forma direta; queremos abrir a mente da criança para que ela pense e faça as próprias escolhas na vida. Acredito que o papel da televisão tradicional no entretenimento é exatamente esse. Quem faz TV sabe que está criando entretenimento, e quem se senta em frente à tela quer se divertir", afirma.
O ator acredita que esse tipo de conteúdo para crianças está em falta na TV aberta. "Com exceção, praticamente, do SBT e da TV Cultura, não há mais emissoras produzindo conteúdo de entretenimento infantil", observa. "Cabe a nós, criadores de conteúdo infantil, pensar em como podemos contribuir para a formação das crianças, apresentando sempre coisas de qualidade. As crianças precisam se divertir, mas por que não se divertir pensando? O papel da TV é abrir mais espaço para isso."
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