Crítica | Pedacinho de Chão
Renato Rocha Miranda/TV Globo
Juliana Paes interpreta Madame Epa em Meu Pedacinho de Chão, novela das seis da Globo
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 7/4/2014 - 18h24
Atualizado em 7/4/2014 - 19h38
Diferentemente de tudo o que já foi visto em novelas, a nova produção das seis da Globo, Meu Pedacinho de Chão, traz aos telespectadores uma proposta nova e completamente ousada, pelo menos esteticamente. A direção de Luiz Fernando Carvalho optou por apostar no tom de fábula e criar um universo lúdico capaz de cativar quem assiste. Outra novidade é a introdução de animações entremeadas às imagens, dando a elas ainda mais cor.
O texto é uma releitura da trama de 1971, também assinada por Benedito Ruy Barbosa. A novela reedita a parceria da dupla, responsável por sucessos como Renascer (1993) e O Rei do Gado (1996). Apesar da estética arrojada, é possível encontrar elementos recorrentes das novelas de Ruy Barbosa, como o sotaque interiorano (a oralidade dos diálogos é destaque imediato) e a presença de uma forte crítica social, desta vez em relação a questões como justiça, divisão e posse da terra. Surpreende também a agilidade das cenas: nada de boi passando de um lado para outro.
Quem conduz a narrativa é uma criança, o menino órfão Serelepe (Tomás Sampaio), que apresenta didaticamente os principais personagens da história e daí entende-se o tom lúdico adotado pela direção. A luneta que o garoto carrega também tem impacto na imagem da tela: os cantos são embaçados, ao passo que o centro dela ganha mais nitidez.
Meu Pedacinho de Chão conta a história da professora Juliana (Bruna Linzmeyer), que chega a Santa Fé com o objetivo de tocar uma escola. Mas ela esbarra nos mandos e desmandos do Coronel Epaminondas, defendido por um Osmar Prado magnífico em cena como o vilão da história. É mesmo o caráter educativo que impera na história. A escola de Santa Fé, cidade fictícia que pode ser considerada um microcosmo do Brasil, ensina os pequenos, mas também os adultos na formação de consciência política, mais uma marca autoral de Benedito Ruy Barbosa.
O elenco é enxuto (20 personagens), assim como os capítulos da história. Ao todo, serão 104 episódios, e a novela já foi inteiramente escrita pelo autor antes do início das gravações. Se por um lado isso tira uma das principais características do folhetim televisivo, a de seguir ao sabor do interesse do público, por outro não a deixa refém da audiência. Aos atores, ainda, é dada a chance de mergulharem na profundidade psicológica dos personagens, coisa que nessa nova versão _e conhecendo o trabalho de preparação que Carvalho realiza em suas produções_ só traz ganhos.
Também em relação ao elenco, é um alento ver atores desconexos de tipos aos quais estão habituados. Os melhores exemplos são Antonio Fagundes, que vive com perfeição o sujeito cômico da vez (Giácomo), e Rodrigo Lombardi (Pedro Falcão), um tanto estranho e cheio de caras e bocas, mas livre do estereótipo de galã. Juliana Paes (Catarina) ainda é a bela que encanta, só que desta vez no papel de mãe.
Figurino e cenografia são dois casos à parte, devaneios estéticos muito bem vindos à televisão. Pelo ritmo industrial que as novelas têm, é impossível que todas as produções sigam esse rigor e cuidado que Meu Pedacinho de Chão demonstra ter. Em muito lembra outra produção do diretor, a microssérie Hoje ÉDia de Maria (2005).
A cenografia eu tive o prazer de ver pessoalmente. Luiz Fernando Carvalho teve o cuidado de mandar cobrir os troncos e galhos das árvores com mantas de crochê. Quem vê de longe pensa que é tinta, mas ao chegar mais próximo, percebe a riqueza de detalhes. Uma linha férrea corre no meio do cenário e há flores por todos os lados. Tudo muito lindo, de uma plasticidade ímpar, com muita cor e muita fantasia.
Se a história vai conquistar a audiência, ainda é cedo para afirmar, mas seus olhos certamente ficarão agradecidos de acompanhar essa fábula que estreou hoje.
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