NOVIDADE NA GLOBO
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Ivete Sangalo na estreia do Pipoca da Ivete: programa deixa cantora sem improviso nenhum
Uma das frases mais clássicas da televisão foi dita por Chacrinha (1917-1988): nada se cria, tudo se copia. Não é exatamente uma cópia, mas o Pipoca da Ivete, programa de Ivete Sangalo que estreou neste domingo (24) na Globo, dá a impressão de ser um grande catado do que já se viu em programas de auditório. A questão é que o que foi ao ar não foi bom. Roteirizada demais, a atração não mostrou identidade alguma.
A Globo avisou que a ideia não era ter algo inovador. O conceito do programa, dito por Ivete em entrevistas e em suas redes sociais, era relembrar atrações que fizeram sucesso em programas populares da história da TV. São claras as referências a Silvio Santos, Faustão, Gugu Liberato (1959-2019), Xuxa Meneghel, Celso Portiolli e até mesmo ao Pânico na TV (2003-2012).
O grande problema do Pipoca da Ivete é o alto poder de constrangimento do que vai ao ar, com roteiro que deixa tudo bastante engessado. É uma questão já antiga dos programas de entretenimento capitaneados por J.B de Oliveira, o Boninho. A restrição ao roteiro fez Ivete Sangalo perder o que ela tem de melhor: a espontaneidade característica.
O melhor segmento do Pipoca da Ivete foi justamente o que mais aproveitou as qualidades de Ivete Sangalo. Em uma paródia da novela Tieta (1989), ela improvisou um embate da personagem título com Regina Casé e Paolla Oliveira, convidadas da estreia. Teve até a palavrão e zoeira nas encenações e rendeu alguns risos.
Mas, no restante, pouco se salvou. No primeiro quadro, um game show entre duas famílias, Tadeu Schmidt se esforçou ao máximo para zoar e entrar no suposto "clima" do programa: uma zona completa. Com direito a torta na cara, como se fosse o Passa ou Repassa, foi difícil acompanhar esse momento sem revirar o olho de tédio.
O mesmo aconteceu com outro quadro, já com Regina Casé e Paolla Oliveira, no qual ambas tinham que adivinhar o que uma moça que "falava ao telefone com defeito" estava dizendo para a cantora. Com frases batidas e sem noção alguma, pareceu ser um quadro feito apenas para passar tapar buraco e passar o tempo.
O pior momento mesmo foi o Entrevista Carro Velho, quando Ivete Sangalo fez referência a seu sucesso dos tempos de Banda Eva para conversar com os convidados sobre assuntos e situações teoricamente polêmicos. Foi constrangedor num nível Casa Kalimann, programa comandado pela influenciadora que fracassou no Globoplay (também do núcleo de Boninho).
Pelo menos no primeiro programa, o Pipoca da Ivete provou aquela máxima dita pela personagem Magda (Marisa Orth) num episódio do humorístico Sai de Baixo (1996-2002): "de onde a gente não espera nada é que não sai nada mesmo". Pelas chamadas e pelo temor interno na Globo, já se sabia que o conteúdo do Pipoca da Ivete seria bem duvidoso.
De fato, o programa não aproveitou tudo que sua apresentadora é. Ivete Sangalo é uma das figuras mais carismáticas deste país. Como ela mesma comentou no final, Faustão sempre disse que ela merecia um programa de televisão próprio. Mas não precisava ser tão fraco.
A Globo criou algo para Ivete Sangalo ser a principal atração. Mas tirou tudo o que ela poderia entregar e a colocou num arremedo. Se não melhorar e ficar mais espontâneo, o programa sairá do ar sem deixar saudades.
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