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LUANA ASSIZ

'As pessoas não estão acostumadas a ver negros na TV', diz 'Maju Coutinho' da Bahia

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Luana Assiz informa a previsão do tempo no BATV: 'Maju baiana' amplia representatividade na afiliada da Globo - REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Luana Assiz informa a previsão do tempo no BATV: 'Maju baiana' amplia representatividade na afiliada da Globo

LUIZA LEÃO

Publicado em 29/3/2019 - 6h06
Atualizado em 29/3/2019 - 12h43

Antes mesmo de virar apresentadora do mapa-tempo na TV Bahia, afiliada da Globo em Salvador, a jornalista Luana Assiz, 34 anos, já era confundida com Maria Júlia Coutinho, que desempenha função equivalente no Jornal Nacional. Além de parecidas, as duas tocam em um aspecto que ultrapassa o jornalismo: a representatividade. "As pessoas não estão acostumadas a ver negros na TV", afirma em entrevista ao Notícias da TV.

Em crise de audiência após perdas sucessivas para a Record no Estado, a TV Bahia apostou na contratação da jornalista negra como mais uma estratégia para o reposicionamento de imagem perante o público. Antes, ela já havia investido em mais tempo de programação local e em quadros como o Afrojob, que destaca oportunidades de emprego e empreendedorismo entre pessoas negras

Luana assumiu a previsão do tempo no BATV em 12 de março. Ela substituiu a jornalista Acácia Lirya, que deixou a emissora após 11 anos. Desde então, recebe o retorno positivo do público nas ruas e redes sociais.

"Cada profissional tem a sua individualidade, o que gera uma relação nova, um tipo de identificação. Imagino que exista essa demanda do público de reconhecer mais, de ver uma jornalista negra", filosofa. Em Salvador, 83% dos moradores se autodeclaram negros ou pardos. 

Antes de migrar para a TV Bahia, a jornalista já era repórter na TVE, onde trabalhou durante um ano e quatro meses, e se dedicou ao Esporte e a reportagens especiais. Mas só agora que se fidelizou como "Maju baiana" na Globo é que Luana parece ter conquistado o público. Leia abaixo a entrevista da jornalista:

Notícias da TV - Você acredita que o fato de você ser negra e de a emissora estar sendo acusada de ser pouco representativa foi um fator considerado para a sua contratação?

Luana Assiz - Eu não sei se posso afirmar isso. Na seleção havia profissionais com diversos fenótipos. Eu venho percebendo uma mudança na TV Bahia e uma imersão no jornalismo comunitário para se aproximar do povo. Isso é um fato, né? Então, acho que o ponto fundamental dessas mudanças que estão ocorrendo é a tentativa de se aproximar mais das pessoas que acompanham o telejornal. Não acho que tenha sido uma busca de uma jornalista negra simplesmente. Foi o que veio no bolo dessas mudanças.

REPRODUÇÃO/TVE 

Jornalista Luana Assiz trabalhava como repórter na TVE

Luan Assiz como repórter na TVE: 'Maju baiana' migrou para a Rede Bahia, afiliada da Globo 

A TV Bahia já passava por uma mudança editorial, explicitada a partir da contratação de Jéssica Senra, que faz um jornalismo mais apelativo, há quase um ano. Como seu trabalho pode colaborar com essa reformulação?

Independentemente da minha chegada, existe uma equipe muito competente e preocupada em segurar o público e garantir a audiência. Acho que a minha colaboração vai no sentido de levar um outro olhar para a TV Bahia. Por mais que exista uma linha editorial, e eu e meus colegas respeitamos isso, cada profissional tem a sua individualidade. Isso gera uma relação nova com o público, um tipo de identificação.

Como você percebe essa relação do público?
Imagino que exista essa demanda de se reconhecer mais, de ver uma jornalista negra. Tenho recebido muitas mensagens com relação à representatividade. Eu acho que isso também é uma forma de estabelecer uma conexão com esse telespectador e, claro, pela minha forma de trabalhar. Mas, para além disso, pelo que representa a minha presença ali.

Quem são essas pessoas que te escrevem?
Tem quem fale comigo pelo Instagram, na rua também, no contato do dia a dia, eu recebo esse retorno positivo de modo presencial. É muito comum esse ponto de as pessoas ficarem vibrando e torcendo. Tenho notado essa boa acolhida tanto dentro quanto fora da empresa.

'Maju baiana'

Você já foi comparada à jornalista Maria Julia Coutinho, que apresenta o mapa-tempo no Jornal Nacional, em alguma situação?
Antes de eu estrear na TV Bahia, já tinha acontecido uma situação, acho que há quase dois anos. No verão de Salvador há muita gente de fora e um turista carioca, percebi pelo sotaque, virou e me disse: 'Ó a Maju'. Eu achei engraçado aquilo ali.

Mas desde que eu passei a fazer parte da nova equipe e, ocupando a função de apresentadora da previsão do tempo, essa comparação tem acontecido com mais frequência. Eu entendo como um reflexo do quanto ainda é algo novo ver pessoas negras nas emissoras de TV de um modo geral. A associação acaba sendo natural. Se somos poucos ainda, as pessoas tendem a olhar e buscar referências. A mais próxima é Maju. Até porque é uma área específica.

Você se incomoda de ser chamada de Maju baiana?
Não, porque eu admiro muito o trabalho dela, a revolução que ela fez dentro dos telejornais da Globo. As pessoas ainda estão entendendo quem eu sou e com o tempo vão saber diferenciar Luana Assiz de Maju Coutinho. Espero que haja outras pessoas com fenótipos de pessoas negras nas emissoras, de um modo geral. É importante para a população negra.

Considera racista essa associação?
Vivemos em uma sociedade na qual o racismo se faz presente até quando a gente não percebe. Muitas vezes as pessoas reproduzem discursos racistas sem ter a intenção. Isso é algo que a gente, enquanto negro, lida diariamente. Eu acho que é possível que a associação também venha desse racismo estrutural, na medida em que existe uma baixa representatividade. Agora isso está sendo mudado. Acho que a mudança é um caminho irreversível e que tende abrir portas para mais pessoas e outros profissionais negros nas televisões. 

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