MEMÓRIA DA TV
DIVULGAÇÃO/TV GLOBO
Jô Penteado (Christiane Torloni) em A Gata Comeu (1985); novela é recordista em títulos provisórios
THELL DE CASTRO
Publicado em 1/3/2020 - 5h21
Recentemente, o Notícias da TV divulgou que a próxima novela das nove da Globo, que substituirá Amor de Mãe, teve seu título alterado. A trama que marcará a estreia de Lícia Manzo no horário mais nobre se chamaria Em Seu Lugar, mas agora será Um Lugar ao Sol. Esse tipo de alteração é muito comum e ocorre desde as primeiras tramas da emissora.
As mudanças são feitas por diversos motivos. Muitas vezes, existe alguma limitação relacionada com direitos autorais. Foi o caso da novela Chega Mais (1980), que se chamaria Tom & Gelly --a Globo não quis pagar os altos custos para usar um nome similar ao desenho Tom & Jerry. Já Vale Tudo (1988) seria Pátria Amada, mas existia um filme homônimo de Tizuka Yamazaki, lançado em 1985.
Em outros casos, é dado um título provisório para a trama enquanto não se chega a uma ideia definitiva. Nem sempre esse nome é o ideal; a emissora, inclusive, teme a rejeição por parte do público. Quem passou por isso mais de uma vez foi Janete Clair (1925-1983), uma das maiores autoras da história da TV brasileira. Nada menos do que seis novelas da escritora foram rebatizadas antes da estreia.
O primeiro caso foi com Fogo Sobre Terra (1974), que se chamaria As Muralhas de Jericó; Pecado Capital (1975) seria O Medo; Duas Vidas (1976) foi originalmente intitulada O Metrô; Coração Alado (1980) teve dois títulos provisórios, O Grande Salto e Vernissage; Sétimo Sentido (1982) seria A Sensitiva; já Eu Prometo (1983) teria como nome O Homem Perfeito.
Em seu livro O Circo Eletrônico, o diretor Daniel Filho, que dirigiu novelas da autora, contou como era o processo de escolha, enfatizando o caso de Pecado Capital.
"Os títulos sempre eram decididos em reuniões --Boni, eu e João Carlos Magaldi com sua equipe. Sem falar no autor, que deve sempre aprovar o título. Pecado Capital quer dizer tudo, luxúria, inveja, ódio, ambição... É um título feliz para uma novela que seria chamada O Medo, por conta do que Carlão [Francisco Cuoco] passa a sentir por estar com aquele dinheiro e pelo risco de ser envolvido no assalto", destacou.
Além das já citadas Vale Tudo e Pecado Capital, outras novelas que fizeram muito sucesso também poderiam ser conhecidas de outra forma. Locomotivas (1977) seria As Raposas; Dancin' Days (1978) foi intitulada A Prisioneira; Brega & Chique (1987) por pouco não se chamou Caviar com Goiabada; Pedra Sobre Pedra (1992) quase foi Resplendor; Renascer (1993) poderia ser Bumba-Meu-Boi; e Senhora do Destino (2004) foi divulgada inicialmente como Dinastia.
Mais recentemente, os nomes de diversas novelas também foram alterados: o fiasco Tempos Modernos (2010) seria Bom Dia, Frankenstein; Morde & Assopra (2011) se chamaria Dinossauros e Robôs; Fina Estampa (2011), Marido de Aluguel; Cordel Encantando (2011) foi imaginada como Pisa Na Fulô; e Insensato Coração (2011) chegou a ser chamada de Lado a Lado, que depois foi usada numa trama das seis.
E não para por aí: Amor à Vida (2013) seria Em Nome do Pai; Império (2014), Falso Brilhante; Alto Astral (2014) foi chamada de Búu; A Regra do Jogo (2015) ganhou o título Favela Chique; e A Lei do Amor (2016) quase virou Sagrada Família.
No entanto, no quesito títulos provisórios, nenhuma trama ganha de A Gata Comeu (1985), remake de A Barba Azul (1974), da Tupi. A novela de Ivani Ribeiro (1922-1995) poderia ter sido chamada de Pancada de Amor Não Dói, Lucrécia Bórgia, Bateu Levou, Tapas e Beijos e A Ilha.
No fim, prevaleceu um trecho da música de abertura, Comeu, executada pelo grupo Magazine, que poderia ser interpretado como a protagonista Jô Penteado (Christiane Torloni) comendo os corações de seus inúmeros pretendentes.
THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro
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