Memória da TV
Reprodução/TV Globo
Gloria Pires e Regina Duarte em Vale Tudo, sucesso dos anos 1980; novelas tinham resumo do dia seguinte
THELL DE CASTRO
Publicado em 2/6/2019 - 7h17
Em tempos de transmissões em alta (e até ultra) definição e com amplo auxílio da internet, é curioso relembrar como era a vida dos telespectadores entre os anos 1970 e boa parte dos anos 1990. Havia poucas opções de canais, domínio de novelas, enlatados e programas de auditório. Líder absoluta, a Globo instituiu algumas "tradições" em sua grade que até hoje são lembradas pelos mais velhos.
Uma delas ainda existe, mas sem o mesmo poder de outros tempos. Trata-se do top de cinco segundos --até os anos 1980, era de oito. Praticamente obrigatório antes de muitos programas da emissora, em geral nos telejornais e transmissões esportivas, tinha como função avisar afiliadas sobre o início da exibição. Atualmente é pouco utilizado, somente como formato comercial, no futebol e na Fórmula 1.
Outra prática comum nos anos 1980 era a exibição da hora certa, principalmente antes dos telejornais, como o Jornal Nacional. Todos os canais vendiam os espaços, inclusive para marcas de relógios. Nos anos 1990, a prática foi extinta.
Durante muitos anos, todo dia era mostrada uma vinheta de encerramento da programação. Sim, a Globo e os demais canais saíam do ar durante a madrugada, deixando o telespectador apenas com chuviscos na tela.
Na líder, por exemplo, o narrador falava o seguinte: "Faremos agora uma pequena pausa em nossa programação. Apenas o tempo necessário para você despertar para um novo dia, uma nova vida. Logo, estaremos juntos novamente". E eram mostrados slides da grade do dia seguinte.
Apenas nas noites de sexta e sábado a emissora ficava 24 horas no ar, exibindo filmes velhos durante a madrugada. Esse encerramento ainda é visto em algumas ocasiões, quando afiliadas da Globo fazem a manutenção mensal de seus transmissores, mas dificilmente ocorre em São Paulo.
Nas novelas, eram exibidas as famosas cenas do próximo capítulo. Tratava-se de um pequeno resumo daquilo que seria mostrado no dia seguinte, quase sempre sem nenhuma revelação importante. Ao fundo, uma música da trilha sonora da produção, que acabava divulgando os discos e fitas K7 da trama. A prática foi abandonada no início dos anos 1990. Mas e quando a novela terminava? Aí eram exibidas cenas da próxima novela.
Ainda nos folhetins, os capítulos tinham contagem. No início do primeiro bloco, era mostrado apenas o logotipo da trama com o número do capítulo. A prática retornou em A Regra do Jogo, mas foi um caso excepcional. Novelas mais antigas exibidas no canal Viva mostram esse expediente.
Quando exibia os créditos no final dos capítulos, a Globo colocava a seguinte advertência: "Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com lugares, fatos e pessoas conhecidas terá sido mera coincidência". A prática surgiu durante a novela O Cafona, de 1971, após protestos de figurões da alta sociedade do Rio de Janeiro, que se sentiram retratados em alguns personagens --prática que o autor Bráulio Pedroso confirmou tempos depois.
Há algum tempo, é exibida somente a seguinte frase: "Esta é uma obra coletiva de ficção baseada na livre criação artística e sem compromisso com a realidade".
Até meados dos anos 1990, o show do intervalo do futebol era diferente, com um apresentador, como Fernando Vannucci ou Léo Batista. Dificilmente o próprio narrador aparecia no vídeo, como acontece há muitos anos. Ainda no futebol, o tempo e o placar não ficavam fixos na tela. As informações eram atualizadas a cada cinco minutos. A padrão atual começou somente em 1999.
THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro
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