ENTENDA
REPRODUÇÃO/JOVEM PAN
Ana Paula Henkel e Paulo Figueiredo; comentaristas da Jovem Pan criticaram decisão do TSE
Após a equipe de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrar uma investigação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre a atuação da Jovem Pan, a emissora alegou estar sob censura do órgão. Comentaristas foram afastados do canal e, durante as atrações, os contratados da empresa protestaram com nariz de palhaço e receitas culinárias durante suas análises políticas.
Na edição de terça (18) do programa Os Pingos nos Is, o âncora Vitor Brown leu um posicionamento da emissora sobre a decisão do TSE: "No dia de ontem, ao julgar uma ação de direito de resposta promovida pela aliança liderada pelo PT, o TSE, atendendo a um pedido desse partido, resolveu promover verdadeira censura aos meios de comunicação, impedindo que a Jovem Pan abordasse alguns assuntos, mesmo que de forma crítica ou informativa".
"Embora não concordemos, cumpriremos a decisão do TSE em respeito ao Estado Democrático de Direito. Esperamos que os valores de liberdade de imprensa e de expressão sejam rapidamente reestabelecidos, eis que são próprios e inerentes a todas as democracias", cobrou Brown.
Na segunda (17), os ministros do TSE concederam três direitos de resposta a Lula na Jovem Pan. Assim, o petista pôde rebater afirmações veiculadas no canal de que ele seria um mentiroso, que não foi "inocentado" pela Justiça e que perseguiria cristãos caso fosse eleito. Segundo a Folha de S.Paulo, na decisão, o órgão determinou que os comentaristas não reproduzam essas afirmações sobre o político, sob pena de R$ 25 mil.
Ao longo da principal atração do canal, a ex-atleta Ana Paula Henkel protestou contra essa decisão judicial enquanto comentava sobre o tiroteio ocorrido durante um ato de campanha de Tarcísio de Freitas, candidato do Republicanos ao governo de São Paulo. Inicialmente, os tiros foram interpretados como um suposto atentado ao aliado de Jair Bolsonaro (PL), versão negada por Freitas e pela polícia.
Contudo, a comentarista prosseguiu com a interpretação de atentado e afirmou: "Estamos vivendo um atentado contra a democracia e, diante do claro estado de exceção, das restrições draconianas impostas por cortes no Brasil que deveriam salvaguardar a nossa Constituição e proteger a liberdade de imprensa, o meu comentário sobre o Tarcísio infelizmente vai ser uma receita de bolo de fubá".
Em seguida, Ana descreveu o modo do preparo do bolo. Durante o período da Ditadura Militar (1964-1985) no Brasil, receitas de bolo eram publicadas nos jornais para substituir notícias censuradas pelos militares.
No Instagram, a comentarista Zoe Martinez publicou um vídeo sobre o seu afastamento da emissora: "Infelizmente, vivemos tempos em que a liberdade de expressão está ameaçada, e explanar o óbvio pode trazer problemas. Fui afastada temporariamente do ar. Foi uma decisão de preservação para mim e para a empresa na qual trabalho".
"As recentes decisões e sanções do TSE pressionam tanto a emissora quanto os seus colaboradores, cabendo a nós apenas cumpri-las", complementou Zoe, que integra o elenco do Morning Show.
Zoe não participou das últimas edições do matinal e, nesta quarta (19), sua ausência foi comentada pelo economista Paulo Figueiredo Filho, que entrou no ar com um nariz de palhaço.
"Talvez o espectador esteja percebendo que tem alguma coisa estranha no ar. A Zoe não está aqui com a gente, o Boletim Coppolla não está mais indo ao ar. Ontem, a minha amiga Ana Paula Henkel leu uma receita. Agora, estou assim, vou fazer o programa assim hoje. Acho que é a forma que um jornalista de opinião se sente quando ele é objeto das coisas que estamos sendo objetos", disse Figueiredo.
No programa Prós e Contras desta quarta, o logotipo da Jovem Pan foi coberto pela palavra "censurado" e, no telão do programa, estava escrito "Jovem Pan sob censura".
O Notícias da TV entrou em contato com a Jovem Pan, e a emissora enviou posicionamento em que reforçou as reclamações sobre censura na programação feita pelo TSE.
Leia na íntegra:
"A Jovem Pan, com 80 anos de história na vida e no jornalismo brasileiro, sempre se pautou em defesa das liberdades de expressão e de imprensa, promovendo o livre debate de ideias entre seus contratados e convidados em todos os programas da emissora no rádio, na TV e em suas plataformas da Internet.
Os princípios básicos do estado democrático de direito sempre nos nortearam na nossa luta e na contribuição, como veículo de comunicação, para a construção e a manutenção da sagrada democracia brasileira, sobre a qual não tergiversamos, não abrimos mão e nos manteremos na pronta defesa --incluindo a obediência às decisões das cortes de Justiça.
O que causa espanto, preocupação e é motivo de grande indignação é que justamente aqueles que deveriam ser um dos pilares mais sólidos da defesa da democracia estão hoje atuando para enfraquecê-la e fazem isso por meio da relativização dos conceitos de liberdade de imprensa e de expressão, promovendo o cerceamento da livre circulação de conteúdos jornalísticos, ideias e opiniões, como enfatizou a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão.
O Tribunal Superior Eleitoral, ao arrepio do princípio democrático de liberdade de imprensa, da previsão expressa na Constituição de impossibilidade de censura e da livre atividade de imprensa, bem como da decisão do STF no julgamento da ADPF 130, que, igualmente proíbe qualquer forma de censura e obstáculo para a atividade jornalística, determinou que alguns fatos não sejam tratados pela Jovem Pan e seus profissionais, seja de modo informativo ou crítico.
Não há outra forma de encarar a questão: a Jovem Pan está, desde a última segunda-feira, sob censura instituída pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Não podemos, em nossa programação --no rádio, na TV e nas plataformas digitais--, falar sobre os fatos envolvendo a condenação do candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva. Não importa o contexto, a determinação do Tribunal é para que esses assuntos não sejam tratados na programação jornalística da emissora.
Censura.
É preciso lembrar que a atuação do TSE afeta não só a Jovem Pan e seus profissionais, mas todos os veículos de imprensa, em qualquer meio, que estão intimidados. Justo agora, no momento em que a imprensa livre é mais necessária do que nunca.
Enquanto as ameaças às liberdades de expressão e de imprensa estão se concretizando como forma de tolher as nossas liberdades como cidadãos deste país, reforçamos e enfatizamos nosso compromisso inalienável com o Brasil.
Acreditamos no Judiciário e nos demais Poderes da República e nos termos da Constituição Federal de 1988, a constituição cidadã, defendemos os princípios democráticos da liberdade de expressão e de imprensa e fazemos o mais veemente repúdio à censura".
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