31 ANOS DE EMISSORA
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Um dos principais repórteres esportivos da Globo, Mauro Naves entrou na emissora em março de 1987
Mauro Naves não é mais funcionário da Globo. O repórter esportivo, que trabalhava na emissora havia 31 anos, estava suspenso desde 5 de junho, quando foi retirado da cobertura da Copa América em nota oficial lida no Jornal Nacional. A Globo informa que a rescisão de contrato foi amigável. Mas o Notícias da TV apurou que ele foi demitido.
Naves foi punido porque teria atuado como intermediador de uma tentativa de acordo entre Neymar Jr. e o primeiro advogado de Najila Trindade, que acusa o jogador de estupro.
Em nota, a Globo informou que o contrato de Naves foi encerrado de forma amigável. "O Grupo Globo e o jornalista Mauro Naves decidiram encerrar consensualmente o contrato de prestação de serviços que mantinham. O Grupo Globo reconhece a imensa contribuição de Mauro Naves ao jornalismo esportivo e a ele agradece os 31 anos de dedicação e colaboração", afirmou a Comunicação.
A reportagem apurou, porém, que o desligamento não foi consensual. Naves desabafou a amigos na última quinta (4) que foi dispensado por causa de toda a confusão envolvendo Neymar. Ele vai receber todos os seus direitos trabalhistas, mas não está de saída por opção própria.
Segundo a nota divulgada ao vivo no Jornal Nacional, Naves foi afastado da cobertura porque forneceu o telefone de Neymar da Silva Santos, pai de Neymar, ao advogado José Edgard Bueno, em troca de uma posterior entrevista exclusiva. A Globo viu "evidências de que suas atitudes [as de Naves] neste caso contrariaram a expectativa da empresa sobre a conduta de seus jornalistas".
O afastamento causou espanto e apreensão nos bastidores da Globo. Afinal, é comum jornalistas em busca de furos de reportagem trocarem informações, principalmente agenda, com suas fontes.
O Notícias da TV revelou que a nota de Bonner no Jornal Nacional não disse tudo para poupar o jornalista. De acordo com fontes na emissora, Naves foi além de um pacto entre fonte e repórter. O advogado teria ido até Petrópolis para negociar com o staff de Neymar e procurou Naves. O jornalista teria ouvido o pedido para mediar um acordo e telefonado para o pai de Neymar para que ele aceitasse conversar.
A sua justificativa, de que forneceu o contato de Neymar pai em troca de um furo, não colou porque, se houvesse acordo entre o jogador e o então advogado de Najila, não haveria denúncia, não haveria escândalo, não haveria notícia.
Além disso, Naves não reportou seus superiores sobre a sua participação no caso em 1º de junho, quando o UOL trouxe o escândalo à tona, nem contou detalhes que poderiam ajudar na cobertura. Só se manifestou quatro dias depois, quando o pai do jogador o denunciou.
De acordo com fontes, a cúpula da Globo estava convicta de que Naves soube antes de todo mundo que o camisa 10 da seleção estava sendo acusado de agressão, mas não divulgou --"abafou", como se fala no meio jornalístico. Houve uma falha grave, na avaliação interna. O repórter também foi investigado por "ligações perigosas".
Leia a nota lida por Bonner no Jornal Nacional:
"O Jornal Nacional publicou ontem (4) a carta aberta divulgada pelos ex-advogados da mulher que acusa Neymar de estupro. Eles afirmam na carta que a reunião que fizeram com os advogados de Neymar foi feita a convite do pai do jogador. Hoje (5), em nota [enviada à TV Globo], o pai de Neymar desmentiu essa afirmação, disse que foi o advogado José Edgard Cunha Bueno que o procurou solicitando a reunião e que José Edgard obteve o contato dele por intermédio do repórter Mauro Naves, na quarta-feira da semana passada. O repórter confirma as afirmações da nota do pai de Neymar, mas somente hoje relatou a Globo sua participação no episódio.
Em sua defesa, Mauro Naves explicou que se limitou a repassar os contatos de pai de Neymar ao advogado, a quem já conhecia, porque esperava conseguir a história com exclusividade e que, quando o assunto se tornou público, avaliou que sua participação não teria relevância.
Mauro Naves é um excelente profissional, com grandes contribuições ao jornalismo esportivo da Globo. Mas há evidências de que suas atitudes neste caso contrariaram a expectativa da empresa sobre a conduta de seus jornalistas. Em comum acordo, o repórter Mauro Naves deixará a cobertura de esportes da Globo até que os fatos sejam devidamente esclarecidos."
Mauro Naves na Copa do Mundo 2018 em participação no Mais Você, de Ana Maria Braga
31 anos de Globo
Mauro Naves entrou na Globo em 1987 e, na emissora, se notabilizou pelo trabalho com esportes. Cobriu Fórmula 1, campeonatos nacionais de futebol e a Seleção Brasileira. Era, ao lado de Tino Marcos, o principal repórter esportivo do Grupo.
Chamado pelos colegas de "presidente", Naves cobria a rotina dos times grandes da capital paulista, Corinthians, São Paulo e Palmeiras, e era escalado para as principais transmissões esportivas da Globo em São Paulo.
Sua primeira cobertura de um grande evento aconteceu nas Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996. Depois disso, trabalhou nos Mundiais da Alemanha (2006), da África do Sul (2010), do Brasil (2014) e da Rússia (2018), além dos Jogos Olímpicos de Pequim (2008) e do Rio (2016) e da Copa das Confederações no Brasil (2013).
Mas, de acordo com o site Memória Globo, o momento mais importante de Naves na TV foi a última entrevista com o piloto Ayrton Senna (1960-1994). "De tudo, o que mais me marcou foi a Fórmula 1, porque em 1994 eu fui o repórter que fez a última matéria para a televisão, e para qualquer veículo, com o Ayrton Senna."
Mauro entrou na Globo em Brasília. No início, trabalhava fazendo apuração de matérias gerais da capital federal. Formado em Estatística, ele trabalhava no mercado financeiro durante o dia e tinha a TV como o seu segundo emprego, das 17h à meia-noite.
"Eu sempre estava sujeito a um incêndio às 23h. Era um crime, uma festa, tudo o que acontecia na cidade. Voltava às 4h, e precisava entrar no outro emprego às 8h. Chegou um ponto que eu tinha que decidir: ficava no mercado financeiro ou na Globo", explicou ao site Memória Globo. Escolheu a TV.
Sua primeira matéria em rede foi uma entrevista com o então futuro presidente da República, Fernando Collor, que denunciava os Marajás e ganhava fama nacional. Mas, recorda-se: "Só aparecia a minha mão entrevistando em rede. E eu falava: 'Sou eu!'".
Mauro chegou a deixar a Globo em 1992 para se dedicar a uma confecção de roupas com um primo. Ele achava que iria ganhar mais dinheiro assim, e também duvidava das condições de crescer na televisão. Ele retornou em 1993, apresentando por seis meses o Pequenas Empresas, Grandes Negócios.
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