CAMPANHA ELEITORAL
Fotos: Divulgação/Infiniti
Alberto Luchetti, ex-diretor de Faustão, em sala de comando da Infiniti, sua produtora, em São Paulo
DANIEL CASTRO
Publicado em 31/1/2019 - 5h35
Diretor do Domingão do Faustão entre 1998 e 2002, o jornalista Alberto Luchetti pediu ao TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral) a impugnação das contas da campanha da candidatura de Márcio França (PSB) ao governo de São Paulo. Ele afirma que levou um calote de R$ 1,6 milhão do político, governador do Estado entre abril e dezembro do ano passado. "Tive que fazer empréstimo no banco para pagar as dívidas que contraí para fazer a campanha", lamenta. França nega. Diz que honrou todos os compromissos.
A produtora de Luchetti, a Infiniti, foi contratada pela equipe de Márcio França para realizar as gravações em estúdio de todos os programas eleitorais. Pelo primeiro turno, a empresa recebeu R$ 1 milhão, em três parcelas, todas em dia.
"Como eles pagaram direitinho o primeiro turno e ninguém esperava que ele [França] fosse para o segundo turno, nós continuamos tudo igual, mas não assinamos nada, foi tudo na confiança", relata Luchetti. "As gravações não podiam parar."
Ou seja, oficialmente, a Infiniti só foi contratada para fazer o primeiro turno. Outros serviços que não estavam no contrato do primeiro turno e as gravações da segunda etapa da disputa eleitoral, no valor de R$ 1,6 milhão, foram um acerto verbal. "Mas todo o segundo turno foi feito na Infiniti. Eu tenho testemunhas e provas, como fotos dele e de Paulo Skaf gravando na minha produtora a declaração de apoio no segundo turno", diz.
França surpreendeu na disputa pelo cargo de governador de São Paulo em 2018. Durante todo o primeiro turno, ele apareceu nas pesquisas atrás de João Doria (PSDB) e de Paulo Skaf (MDB). Venceu Skaf por uma diferença inferior a 80 mil votos. No pleito final, perdeu para Doria.
Para atender às necessidades da campanha de França, Luchetti teve de investir na produtora. "Construí uma cozinha industrial que servia almoço, café e janta para 50 pessoas", conta. "Tinha quatro cozinheiros."
Sem o dinheiro da campanha do segundo turno, o ex-diretor de Fausto Silva se viu em apuros. "Tive que ir ao banco para saldar algumas dívidas da campanha dele [França], de aluguel e compra de equipamentos", afirma.
Por causa da campanha política, Luchetti também perdeu um cliente importante: William Waack. Deslocado para outra produtora, o ex-apresentador do Jornal da Globo não voltou mais a gravar seu programa para a internet na Infiniti.
Luchetti diz que vem tentando falar com assessores e com França desde novembro, sem sucesso. Na prestação de contas do segundo turno, França não teria declarado os gastos com a Infiniti, de acordo com Luchetti. "O que é estranho é que ele nega a dívida e diz que é do partido. Mas eu não conheço ninguém do partido. Tratei tudo com ele [França] e com o [então] secretário da Casa Civil [do governo de São Paulo, Cláudio Valverde]."
O executivo de TV decidiu apelar à Justiça Eleitoral. "Eu só pedi a impugnação das contas porque, como não tinha contrato, fiquei assustado. Todo mundo sumiu", diz. O pedido deve ser julgado nas próximas semanas pelo TRE-SP. Se tiver as contas impugnadas, França não poderá se candidatar enquanto não saldar as dívidas.
Por meio de sua assessoria, o ex-vice-governador de São Paulo negou qualquer dívida com a Infiniti. "O contrato assinado com a produtora foi cumprido e pago integralmente e juntado à prestação de contas", informou França em nota enviada ao Notícias da TV.
Domingão do Faustão
Depois de uma bem-sucedida passagem pelo Grupo Bandeirantes, onde implantou o Canal 21 como uma emissora voltada para o Jornalismo local, em 1996, Alberto Luchetti foi contratado pela Globo para resolver a crise de audiência pela qual passava o Domingão do Faustão.
Na segunda metade da década de 1990, o dominical da Globo era freguês do Domingo Legal, de Gugu Liberato, no Ibope. No auge da disputa, apelou para o "sushi erótico", episódio que gerou uma considerável crise na emissora e abriu as portas para Luchetti.
O trabalho no Domingão levou o jornalista à categoria de diretor de núcleo da Globo, e ele assumiu a implantação do Altas Horas, de Serginho Groisman, à época recém-contratado pela emissora.
Luchetti saiu da Globo em 2002 e fundou a AllTV, a primeira emissora de TV para a internet do país.
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