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ANÁLISE

Escalação de Enrique Diaz para Volta por Cima escancara problema da 'nova Globo'

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Enrique Diaz tem expressão séria, mas com ligeiro debocha, em cena de Volta por Cima

Enrique Diaz como o Gerson de Volta por Cima; ator fez novelas das seis, das sete e das nove neste ano

LUCIANO GUARALDO

luciano@noticiasdatv.com

Publicado em 4/12/2024 - 6h10

A entrada de Enrique Diaz para o elenco de Volta por Cima escancara duas questões na Globo: a primeira é a falta de vilões de verdade no folhetim de Claudia Souto --já que Osmar (Milhem Cortaz) e Chico (Amaury Lorenzo) estão mais para trapalhões do que para bandidos cruéis. A segunda, mais grave, diz respeito à nova política de contratos da emissora, cada vez com menos atores fixos e apostando mais em acordos por obra.

Com o contraventor da trama das sete, Enrique Diaz conseguiu um feito raro para qualquer artista: passar pelos três horários de novelas da Globo em menos de um ano. Durante a pandemia, Paulo Rocha e Rafael Cardoso haviam vivido algo similar --mas com reprises no lugar das histórias inéditas.

Antes de viver Gerson Barros, Diaz havia participado da primeira fase de Renascer (2024) na pele do coronel Firmino e voltado como o carismático Timbó, de Mar do Sertão (2022), na reta final de No Rancho Fundo (2024).

Achou pouco? Ele ainda encontrou tempo na agenda para surpreender o público e mostrar muita ginga na Dança dos Famosos, do Domingão com Huck, e apareceu em Dona Lurdes - O Filme (2024), do Globoplay.

Diaz também estará em O Auto da Compadecida 2, que estreia no Natal --mostrando uma versão diferente do cangaceiro que havia despachado João Grilo (Matheus Nachtergaele) para o purgatório no longa original, de 2000.

Mas o que tudo isso tem a ver com a política de contratos da Globo? Na época em que tinha um banco de talentos numeroso, com artistas que recebiam salário para ficar em casa durante muitos meses --ou até anos--, a emissora planejava um período para descanso de imagem de seus atores, especialmente depois de personagens muito marcantes.

Foi por isso que Adriana Esteves sumiu da televisão durante três anos após a Carminha de Avenida Brasil (2012), ou que Mateus Solano só voltou às novelas em Pega Pega (2017) depois de viver o Félix em Amor à Vida (2013).

Agora, o jogo é diferente: com dificuldade para encontrar atores que topem as condições dos novos contratos, a Globo tem repetido elenco sem demonstrar nenhuma preocupação com o desgaste da imagem --nem com o cansaço dos próprios atores. Deborah Secco, por exemplo, conciliou as gravações de Elas por Elas (2023) com a série Rensga Hits!, enquanto Duda Santos gravou suas cenas finais de Renascer já fazendo o laboratório para Garota do Momento.

O curioso é que Enrique Diaz era um ator bissexto nas novelas, preferindo sempre atuar em minisséries e séries ou fazer pequenas participações em folhetins. Apesar de ter estreado na TV em 1990, na primeira fase da versão original de Pantanal, ele só foi topar um papel fixo, do início ao fim da trama, em Cordel Encantado (2011).

Para a sorte da Globo, o peruano naturalizado brasileiro é um ator versátil, que se transforma a cada papel --impossível ver no capcioso Gerson a sabedoria matuta de Timbó ou o sangue nos olhos de Firmino. É sempre um prazer ver Diaz atuar; mas até as melhores guloseimas, em excesso, podem enjoar.

Leia também -> Resumo dos próximos capítulos da novela Volta por Cima.

Volta por Cima é escrita por Claudia Souto, com colaboração de Wendell Bendelack, Julia Laks, Isadora Wilkinson e Juliana Peres. A direção artística é de André Câmara, e a direção-geral de Caetano Caruso.


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