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MEMÓRIA DA TV

Em 2000, criança esfaqueou vizinha e colocou a culpa em filme de terror do SBT

Divulgação/United Artists

Chucky segura uma faca, seu nariz está ensanguentado

O boneco Chucky, protagonista da franquia Brinquedo Assassino; terror da classificação indicativa

THELL DE CASTRO

Publicado em 29/8/2021 - 6h20

Há 21 anos, a exibição do filme de terror Brinquedo Assassino 2 (1990) na Tela de Sucessos deu muita dor de cabeça para o SBT e contribuiu para a regulamentação da classificação indicativa na televisão brasileira.

Em 7 de fevereiro de 2000, o garoto D. J. G., então com nove anos, deu 25 facadas superficiais em sua vizinha M. D. N., que tinha sete anos, no Distrito Federal. Ao ser interrogado, o menino disse à polícia que havia se inspirado no filme de terror exibido pelo canal de Silvio Santos na semana anterior.

A imprensa repercutiu o caso e o então secretário nacional dos Direitos Humanos, José Gregori, entrou em ação, indicando que o governo estudava a imposição de um código de ética, por meio de decreto ou portaria, para coibir os excessos da televisão brasileira.

"Às vezes, precisa haver sangue para o Brasil acordar. Quem sabe agora as televisões quebrem a indiferença com que receberam a proposta de elaborar o código de ética?", indagou Gregori na época do ocorrido.

Naquele momento, também se discutiam quadros de gosto duvidoso do Domingão do Faustão (1989-2021) e do Domingo Legal, exibidos nas tardes dominicais, além do Programa do Ratinho, que estava no ar desde 1998.

O SBT se defendeu, inclusive publicando um anúncio em grandes jornais brasileiros, dizendo que tinha respeitado o horário recomendado pelo Ministério da Justiça --o filme começou a ser exibido às 22h17.

Além disso, antes da transmissão, foi informado que a produção era inadequada para menores de 14 anos e, durante o filme, o logotipo do SBT ficou amarelo, que, segundo a convenção publicamente divulgada, indicava a restrição de idade.

De acordo com matéria de 14 de fevereiro de 2000 da Folha de S.Paulo, o próprio SBT defendia que o governo criasse a lei para a definição de limites para a TV brasileira.

"A sociedade deve discutir o que tem de bom e o que tem de ruim nesse projeto. Qual é o foro competente para discutir uma legislação? É o Congresso Nacional", afirmou o então representante da emissora em Brasília, Flávio Cavalcanti Jr.

Sobre o fato ocorrido após a exibição de Brinquedo Assassino 2, o dirigente afirmou que se tratava de uma "tragédia individualizada". "O filme já passou quatro vezes na TV. Esse fato não pode impedir a gente de mostrar um filme", declarou.

De acordo com o site SBTpedia, especializado no canal de Silvio Santos, Brinquedo Assassino 2 voltou a ser exibido em fevereiro de 2002, durante a madrugada --e nunca mais foi ao ar. Em 2007, o SBT mostrou o primeiro Brinquedo Assassino (1988), no Cine Belas Artes; em 2008, A Noiva de Chucky (1998) foi exibido na Tela de Sucessos.

Casos anteriores

Aquela não foi a primeira vez que a televisão teria causado acidentes envolvendo crianças. Em 1994, um garoto de sete anos tinha morrido ao tentar imitar uma cena da série mexicana Chaves, sendo eletrocutado ao colocar um fio desencapado numa tomada.

Dois anos depois, em 1996, dois irmãos morreram após simular uma prova do polêmico programa Ponto a Ponto, que durou pouco na Globo. Uma dessas provas era a Bola de Fogo, na qual o participante empurrava uma bola em chamas em uma rampa.

Felipe Boch, de 15 anos, e seu irmão Gustavo Boch, de 17, tentaram reproduzir em casa a prova, um dos pontos altos da atração. Os garotos, com outros amigos, realizaram uma partida de futebol com uma bola em chamas.

Para continuar a brincadeira, os irmãos foram buscar mais combustível na garagem e, ao manipular tonéis de thinner, ocorreu uma explosão e eles ficaram gravemente feridos. O mais novo, Felipe, teve 80% de seu corpo queimado e morreu em 17 de maio de 1996. Gustavo não resistiu aos ferimentos dias depois.


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