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MEMÓRIA DA TV

Em 1992, Gugu ameaçou se mudar para Porto Rico e largar a televisão

Divulgação/SBT

O apresentador Gugu Liberato com um macaco no TV Animal, que ele apresentou no SBT

Gugu Liberato no TV Animal, um dos programas que comandou no SBT antes do Domingo Legal

THELL DE CASTRO

Publicado em 24/11/2019 - 6h19

Em 1992, meses antes de estrear o Domingo Legal, Gugu Liberato (1959-2019), que morreu após um acidente em sua casa em Orlando, na Flórida, estava muito insatisfeito com as mudanças que ocorriam no SBT. Ele cogitou comandar programas no exterior e até mesmo largar a televisão de vez para se dedicar ainda mais aos seus negócios milionários.

Em entrevista ao Jornal do Brasil de 29 de março de 1992, Gugu contou que tinha acabado de receber uma proposta de uma emissora de televisão de Porto Rico para animar um programa de competições diário. "Eles me ofereceram casa e um salário mensal de US$ 20 mil, mas eu não quero me mudar para lá", declarou, destacando que poderia comandar uma atração semanal no exterior.

Ainda segundo o jornal, ele negociava com emissoras da Argentina, Venezuela e de Miami, nos Estados Unidos, para ter um programa internacional. "E, para se fazer entender em todos esses locais, três vezes por semana Gugu agenda duas horas de aulas particulares de espanhol com um professor colombiano", contou o jornal.

Esses planos não saíram do papel, mas não eram à toa. O Viva a Noite, um dos grandes sucessos da carreira do apresentador, havia sido extinto em janeiro daquele ano. No lugar, Gugu ficou com o Sabadão Sertanejo, que já fazia muito sucesso na esteira de duplas como Leandro & Leonardo, Chitãozinho & Xororó e Zezé Di Camargo & Luciano; ele também estrearia o Super Paradão e o Nações Unidas.

"O contrato de Gugu com o SBT termina em fevereiro de 1993 e, pelo que se comenta nos bastidores, aquele que foi apontado por Silvio Santos como o seu sucessor já não desfruta da mesma proteção. A direção do SBT quer reestruturar a programação e mexer no playground televisivo de Gugu", informou a reportagem.

Gugu não deixou por menos. "Eu não concordo. Se houver um consenso, eu fico, caso contrário, saio", disparou, sem nenhum rodeio.

Aos 33 anos, o apresentador já não precisava mais se preocupar com dinheiro. Além do salário milionário do SBT, tinha diversas empresas, como a Promoart, agência de eventos que gerenciava a carreira de diversas personalidadees; e a Consult Vídeo, prestadora de serviços de mídia televisiva para famosos e companhias.

Fora do meio artístico, ele ainda estava à frente da Dominó Comércio Internacional, que exportava produtos como suco de banana, tremoços e ameixa seca e atuava em Portugal, além de outros negócios. "O comércio está no sangue", justificou Gugu, sobre os avós portugueses que tinham um armazém.

De acordo com a Folha de S.Paulo de 6 de setembro de 1992, as empresas do animador tinham faturamento de US$ 25 milhões por ano. Com isso, Gugu podia cogitar tranquilamente deixar a televisão para trás. "Tenho até vontade de parar um tempo com a TV, me dedicar mais aos negócios", enfatizou.

Se foram para fazer pressão em Silvio Santos ou não, as reclamações de Gugu surtiram efeito: ele renovou seu contrato com o SBT em 1993, estreando o Domingo Legal em 17 de janeiro daquele ano, naquele que viria a ser o maior sucesso da sua carreira, com muitas vitórias sobre o Domingão do Faustão, da Rede Globo.

Elevador, azar e autoajuda

De acordo com a Folha, Gugu tinha diversas manias. Jamais pronunciava a palavra "azar"; sempre calçava primeiro o pé direito do sapato; fazia pé e mão toda semana; só entrava com o pé direito em aviões; adorava arroz e carne moída; e tinha uma coleção de livros de autoajuda estrangeiros, muito antes do gênero fazer sucesso.

Já a reportagem do Jornal do Brasil revelou uma curiosidade sobre o que Gugu planejava para seu futuro --algo que, infelizmente, acabou não se concretizando. "O elevador que liga dois dos quatro pavimentos da casa de Gugu, erguida no exclusivo condomínio de Alphaville, na Grande São Paulo, não foi instalado só como amparo à sua preguiça de subir escadas", informava o texto.

O motivo era que Gugu estava visualizando sua velhice. "Eu me vi lá na garagem, velhinho, sem forças para subir até o meu quarto, olha que loucura", justificou ele.


THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro

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