CONVERSA COM BIAL
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Daniel Filho em entrevista via internet ao Conversa Bial; o diretor admitiu que já criou programas bêbado
NILSON XAVIER, Especial para o Notícias da TV
Publicado em 26/5/2020 - 11h35
Reverenciando os 70 anos da TV no Brasil, o programa Conversa com Bial recebeu na madrugada desta terça-feira (26) o diretor de cinema e televisão Daniel Filho. Por vídeo, Pedro Bial bateu um papo de velhos amigos com Daniel, que falou bastante sobre televisão, sobre a pandemia do novo coronavírus no Brasil e no mundo e sobre o futuro.
Citando A Vida como Ela É (1996), série de sucesso da década de 1990, baseada na obra de Nelson Rodrigues, Bial perguntou o que havia de "rodrigueano no distópico Brasil de 2020". Daniel floreou fazendo referências a personagens de Nelson Rodrigues e finalizou: "Há canalhice!".
A explicação veio na sequência: "Não pode usar aquilo que foi usado em Nuremberg [onde foram julgados o oficiais nazistas após a Segunda Guerra Mundial]: 'Eu estava cumprindo ordens'. Aliás, um bom comandado não cumpre ordens. Tem que dizer 'está errado, não faça isso'. Ou senão você está sendo um mau comandado. Está errado, está errado, está errado. Sabemos que está errado. Sabemos que temos que ficar em casa."
Daniel se referia ao isolamento social, recomendado pelas autoridades médicas para enfrentar a pandemia da Covid-19, mas rechaçado pelo presidente Jair Bolsonaro. Ele ainda destacou a importância de um governante preocupado com a vida. "O dinheiro, depois imprime. Reinventa", completou, fazendo alusão à preocupação maior do presidente com a economia do país.
Citando sua mais nova biografia, Uma Vida em Cena, escrita por Regina Zappa (editora Bestseller), Daniel lembrou o começo da televisão no Brasil, quando os profissionais mal sabiam o que fazer com o veículo, e o seu início na TV Globo, quando dirigiu a novela A Rainha Louca (1967), da cubana Glória Magadan: "A rainha louca era uma imperatriz, não tinha nada de rainha!".
Bial citou a feliz parceria com profissionais como José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, e Walter Clark (1936-1997), todos muito jovens à época, a década de 1960. "O que eu Boni bolamos de programas bêbados!", riu Daniel, lembrando de séries como Malu Mulher (1979-1980), Carga Pesada (1979-1981) e Plantão de Polícia (1979-1981).
"Era uma turma muito boa com uma vontade muito grande fazer uma televisão que falasse com o público brasileiro. E fizemos isso sob uma censura muito forte."
Daniel citou a censura à novela Roque Santeiro, a primeira versão, em 1975. Bial perguntou onde ele estava quando recebeu a notícia do veto à novela: "Estava no estúdio A gravando o 37º capítulo. E me lembro ter parado de gravar. Gravar para quê?".
Outro bom momento foi quando Bial perguntou se existia "maestro (diretor) democrático", uma referência ao quanto Daniel é exigente em seu trabalho: "Você tem que deixar todo mundo dar opinião. E fazer o que acha melhor. Mas todo mundo tem que se sentir bem fazendo".
Sobre o futuro, inclusive da TV, Daniel Filho deixou uma mensagem de esperança. "Acho que o mundo ficou menor para ficar maior", contando que tem encontrado tucanos na parte arborizada onde mora, que passaram a aparecer por causa do isolamento social. "A Terra está respondendo com muito carinho. Isso me dá uma esperança. A gente ficar em casa para sair depois mais fortalecido", finalizou.
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