MEMÓRIA DA TV
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Sérgio Chapelin atendia um telefone para falar com correspondentes na bancada do Jornal Nacional
Publicado em 27/2/2022 - 7h34
Em 1991, o Brasil e o mundo viram a primeira guerra transmitida ao vivo via satélite. Nos Estados Unidos, a CNN transformou a cobertura em espetáculo; no Brasil, a Globo usou novos recursos em todos os seus noticiários e programas especiais sobre o conflito. Além disso, a emissora contou com uma ajuda inusitada para conseguir alcançar seus objetivos.
A Guerra do Golfo foi um embate entre o Iraque e as forças de coalizão internacional, lideradas pelos EUA. Saddam Hussein (1937-2006), ditador iraquiano, autorizou a invasão ao Kuwait em agosto de 1990. A ONU (Organização das Nações Unidas) exigiu que o país fosse abandonado voluntariamente até 15 de janeiro de 1991. Como o pedido não foi acatado, os EUA iniciaram os ataques no dia seguinte.
"Na hora em que estourou a Guerra do Golfo, falei: 'É o momento de mostrar que as coisas estão diferentes'. E resolvemos investir. Mandamos nossos correspondentes para o Golfo Pérsico. Cobrimos a guerra como qualquer televisão americana estava cobrindo. Foi um sucesso a nossa cobertura!", contou Alberico de Souza Cruz, então diretor de Jornalismo da Globo, ao projeto Memória Globo.
Enviado para a Jordânia, o repórter Silio Boccanera conseguiu entrar em Bagdá, no Iraque, junto com o cinegrafista Sergio Gilz e o assistente Edson Nascimbeni. Posteriormente, Carlos Dorneles e Pedro Bial também participaram da cobertura com outros profissionais do canal.
O tema passou a ocupar um bloco inteiro do Jornal Nacional. Pela primeira vez, os correspondentes da emissora apareceram conversando entre si, apesar das dificuldades técnicas.
Um aparelho de telefone vermelho ficava na bancada do telejornal e era utilizado pelos apresentadores para conversar com os repórteres. No entanto, em muitos casos, a ligação caía ou mal dava para ouvir os jornalistas.
Também foi montado, em um estúdio separado, um mapa do Oriente Médio, no qual Ernesto Paglia indicava os locais de combate. Toda vez que ele apontava para um local no mapa, havia uma fusão para as imagens desse lugar. Depois a câmera voltava para o apresentador, que então chamava o repórter que estava lá.
"Foi uma decisão rápida da empresa de apostar na cobertura in loco. Nós mandamos nossos correspondentes para aquela região. E, quando a gente descobriu que podia fazer entradas ao vivo de lá, começamos a usar os repórteres trazendo as informações do dia e falando entre si. Foi um diferencial enorme", detalhou Carlos Henrique Schroder ao Memória Globo.
A Globo também contou com um auxílio inusitado. Pedro Bial e Sergio Gilz só conseguiram entrar em Bagdá com a interferência do governo de Fidel Castro (1926-2016), de Cuba, com quem Alberico conseguiu negociar.
"Nosso desafio era entrevistar o Saddam Hussein no Iraque, e não se conseguia o visto para entrar no país. Aí nos chegou a informação do embaixador de Cuba de que o comandante Fidel Castro era muito amigo do Saddam Hussein", detalhou Schroder.
"Nós pedimos apoio ao embaixador cubano para nos ajudar junto ao presidente do Iraque, na época, a facilitar o visto. Mesmo assim demorou, mas conseguimos entrar no Iraque. Não conseguimos a entrevista, mas fizemos um material impressionante", completou o jornalista, que posteriormente foi diretor geral da Globo entre 2013 e 2019.
O conflito terminou em 28 de fevereiro de 1991, com a retirada das tropas iraquianas do Kuwait.
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