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O MARAJÁ

Censurada por Collor nos anos 1990, novela da Manchete vira surpresa no YouTube

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Fernando Collor com cara de raiva e olhar desconfiado em uma sessão no Senado Federal

O ex-presidente Fernando Collor pediu para Justiça proibir novela da Manchete, agora no YouTube

GABRIEL VAQUER, colunista

vaquer@noticiasdatv.com

Publicado em 19/1/2022 - 6h15

Única novela proibida de ir ao ar pela Justiça desde o fim da Ditadura Militar (1964-1985), O Marajá (1993) ficou disponível para o público quase 30 anos depois.O paradeiro de suas fitas era incerto desde que o ex-presidente Fernando Collor (PROS-AL) havia conseguido a proibição, mas na semana passada, um canal no YouTube disponibilizou seu primeiro capítulo.

Até então, algumas cópias estavam na massa falida da Manchete e foram vendidas em um leilão, em São Paulo, no ano passado. Outras foram escondidas pelo próprio dono, Adolpho Bloch (1908-1995), após a celeuma do caso. Poucas imagens tinham sido disponibilizadas para o público até então.

Uma delas estava no documentário sobre a vida de Fernando Barbosa Lima (1933-2008), jornalista que foi executivo da Manchete em seus últimos anos. Segundo o Canal Memória, que disponibilizou o capítulo, algumas fitas também foram entregues para atores da produção guardarem como recordação do trabalho.

"Elas foram recuperadas do acervo de um ator que trabalhou na minissérie", diz a descrição do vídeo. O Notícias da TV apurou que também era comum que quem trabalhava nas produções recebesse cópias para usar como portfólio --o que aumentaria a quantidade de pessoas com acesso ao material.

A trama pretendia fazer uma junção de novela com jornalismo, em que fatos sobre o governo Collor (1990-1992) seriam explicados por meio de uma paródia feita pelos atores, baseando-se em depoimentos colhidos na CPI que investigou e que ajudou a tirar o primeiro presidente eleito após os militares por indícios de corrupção.

Como era O Marajá?

O Marajá foi escrita por José Louzeiro, Regina Braga, Eloy Santos e Alexandre Lydia, com direção de Marcos Schechtman, gravada com uma única câmera e reaproveitando cenários e figurinos de outras produções da casa. Em crise financeira, Adolpho Bloch chegou a emprestar um carro seu para as gravações. No elenco, estavam nomes como Julia Lemmertz e Alexandre Borges --este em seu primeiro trabalho na TV. 

Reprodução/TV Manchete

Hélcio Magalhães parodiava Collor em O Marajá

A trama duraria 80 capítulos, dos quais 15 foram gravados e cinco estavam prontos para a exibição na estreia, programada para 26 de julho de 1993. Mas o atual senador viu as chamadas e soube do conteúdo. O ex-presidente entrou na Justiça e conseguiu a proibição dois dias antes do seu início, no dia 24. A emissora só foi informada pelos oficiais de Justiça às 18h do dia da estreia, uma segunda-feira.

O caso gerou controvérsia por se tratar de clara censura prévia, algo que lembrava bastante o que acontecia no regime ditatorial. A Manchete tentou a liberação da produção, mas só o conseguiu em 1994 --mediante a condição de edições de cenas consideradas ofensivas. Mas, àquela altura da história, preferiu não exibir a "novela-verdade", como era apelidada.

Collor tinha elementos para pedir a proibição, e eles são expostos no primeiro capítulo. O Marajá não o cita nas paródias, usando o codinome Elle, com duas letras L, mas o menciona nominalmente nos depoimentos reais. Em uma cena, por exemplo, a produção dá a entender que cocaína era algo comum no Palácio do Planalto --e que o próprio presidente usava o entorpecente.

O Canal Memória prometeu para seus seguidores que iria postar outros capítulos da trama. A reportagem procurou o responsável para uma entrevista, mas ele não respondeu. A coluna também tentou conversar com Marcos Schechtman e Alexandre Borges, mas sem sucesso. Também foi tentado contato com o ex-presidente Collor através de sua assessoria, sem êxito.

Confira o primeiro capítulo de O Marajá: 


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