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PASSAPORTE PARA LIBERDADE

Anjo ou burocrata? Entenda controvérsia sobre minissérie que estreia na Globo

DIVULGAÇÃO/TV GLOBO

Sophie Charlotte ao centro caracterizada como Aracy de Carvalho na série Passaporte para Liberdade; figurantes ao fundo caracterizados como soldados

Sophie Charlotte interpreta Aracy de Carvalho em Passaporte para Liberdade, que a pinta como heroína

FERNANDA LOPES

fernanda@noticiasdatv.com

Publicado em 18/12/2021 - 6h30

A minissérie Passaporte para Liberdade, que estreia na Globo nesta segunda (20), tinha o título de Anjo de Hamburgo até setembro deste ano, quando uma controvérsia veio à tona. Historiadores levantaram a tese de que a protagonista da história real, Aracy de Carvalho, não havia sido um "anjo", mas apenas uma burocrata do consulado do Brasil em Hamburgo que não fazia nada além do protocolo. O autor e o diretor da atração contestam essa versão e explicam como o heroísmo de Aracy foi legitimado. 

Aracy de Carvalho (1908-2011) foi uma paranaense, filha de uma alemã, que na década de 1930 passou a trabalhar como chefe da seção de passaportes do consulado brasileiro em Hamburgo. Ela foi considerada uma heroína por conceder vistos a judeus, algo proibido na época, para que viessem ao Brasil e se instalassem aqui como moradores permanentes. Ela apenas não os identificava como judeus nos passaportes. Assim, podiam fugir do Holocausto. 

No entanto, um estudo dos historiadores Rui Afonso e Fábio Koifman apontou que o consulado do Brasil em Hamburgo não cometeu irregularidades em relação a vistos. "Nenhum visto irregular ou qualquer ilegalidade foi praticada pelo serviço consular da representação brasileira em Hamburgo no período em que a ajuda humanitária a perseguidos judeus é atribuída", dizem eles. 

Em setembro, o nome da minissérie foi alterado, de Anjo de Hamburgo para Passaporte para Liberdade. O autor da obra, Mario Teixeira, alega que o primeiro se tratava apenas de um "título de trabalho", algo provisório para novelas, série e minisséries, que pode vir a se tornar definitivo ou não, e que a mudança não ocorreu por causa da polêmica. 

Ele e Jayme Monjardim, diretor da minissérie, se defendem com vários argumentos. Dizem que a equipe foi até o Museu do Holocausto, em Israel, para pesquisar documentos, conversar com profissionais e assegurar a validade das atitudes de Aracy. 

"Eu soube dessa pesquisa quando foi publicada, li e me causou surpresa. Toda história tem vários lados, mas essa teoria é desmentida pelo Museu do Holocauto em Israel, que levanta uma documentação absurda pra fazer essa condecoração a uma pessoa", diz Mario Teixeira. O nome de Aracy está no Jardim dos Justos entre as Nações do Museu do Holocausto, como uma homenagem a seus serviços prestados.

"O trabalho da Aracy foi além do que fazia um funcionário. Talvez eles até estejam certos quando dizem que eram meros burocratas, mas a atuação dela se transformou numa saga humanista em defesa do próximo. Quando o governo de Israel faz uma pesquisa tão profunda sobre uma pessoa que vai ser agraciada com um titulo que é tão caro a eles, eles levantam absolutamente tudo, documentos, testemunhos, depoimentos pessoais. Isso [a pesquisa de Koifman e Afonso] não me preocupa em nada", reitera o autor. 

Monjardim considera que a teoria dos historiadores não passa de uma "piada". "Eu estive no Museu do Holocausto, conversei com as pessoas do museu, fui pra Hamburgo, chequei tudo que você pode imaginar e conheci o filho da Aracy, Eduardo. Esse foi o ponto mais importante. Um homem muito esclarecido, com memória totalmente boa, foi uma pessoa que me deixou tudo muito claro", conta ele, que acrescenta:

Eu não tenho dúvida nenhuma [da história de heroísmo de Aracy]. Pra mim, chega a ser até piada. Lógico que não existem registros [das irregularidades nos vistos] no consulado, porque ela fazia tudo de maneira escondida. Chega a ser piada mesmo. A maior prova de tudo que a gente está fazendo são os depoimentos das famílias dos sobreviventes.

Nas chamadas para a minissérie que estão sendo veiculadas nos intervalos da Globo, parentes de judeus que imigraram da Alemanha para o Brasil dão seus depoimentos sobre como Aracy ajudou seus antepassados e foi responsável por salvar suas vidas.

"Nós tivemos acesso a incontáveis documentos de descendentes que narravam com muita emoção o que tinham ouvido de seus pais, avós e bisavós. O que vai ficar é a atuação da Aracy, e espero que ela deixe de ser conhecida só como a viúva de Guimarães Rosa [1908-1967], que foi uma nomenclatura que a acompanhou durante tanto tempo", conclui Mario Teixeira.

A minissérie Passaporte para Liberdade tem oito capítulos, que serão exibidos de segunda a quinta na Globo. A atração também estará disponível no Globoplay. 


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