Blackish
Divulgação/ABC
Anthony Anderson e Tracee Ellis Ross em Blackish; polêmica faz comédia perder um episódio
JOÃO DA PAZ
Publicado em 13/3/2018 - 5h28
A comédia Blackish, conhecida por abordar assuntos polêmicos, teve um episódio censurado pela rede ABC. Programado para ir ao ar no último dia 27, o capítulo traria uma discussão acalorada sobre o direito de atletas de futebol americano de se ajoelharem durante a execução do hino dos Estados Unidos. Esse foi o limite cruzado pela série.
"Devido às nossas diferenças criativas, nem a ABC nem eu ficamos felizes com os ajustes propostos para o episódio e decidimos não exibi-lo", falou o criador de Blackish, Kenya Barris, para o site da revista Variety. A rede também se posicionou e afirmou "que as diferenças não foram possíveis de serem resolvidas". O episódio em questão foi filmado em novembro.
Chama a atenção a postura da ABC porque, ao longo de quatro temporadas, Blackish (Canal Sony) não hesitou em fazer episódios com temas tabus, como o uso da palavra nigger, forma pejorativa de se referir a um negro. Em outras produções norte-americanas, o termo é censurado com um bleep, como se fosse um palavrão.
Então, qual é a gravidade de um jogador se ajoelhar enquanto o hino toca no estádio? Para muitos norte-americanos, principalmente os mais conservadores, ficar de joelhos é um total desrespeito com a nação e com as Forças Armadas, defensora da bandeira em guerras.
Em 2016, o jogador da NFL Colin Kaepernick decidiu romper a tradição de ficar em pé durante a execução do hino. Em entrevista após o primeiro protesto, ele argumentou que não mostraria orgulho "à bandeira de um país opressor de negros". A atitude de Kaepernick, imitada por outros colegas, ocorreu em um momento no qual vários casos de violência policial contra jovens negros eram registrados.
Os dois pontos de vista seriam discutidos no episódio censurado de Blackish, em um diálogo entre o publicitário Andre Johnson (Anthony Anderson) e Junior (Marcus Scribner), seu filho mais velho. A conversa foi criada justamente para representar a polarização do tema, tão em voga na sociedade norte-americana que até o presidente do país meteu a colher.
O posicionamento negativo de Donald Trump, feito em setembro, desencadeou mais protestos em partidas e chegou até Hollywood. Vários atores, de Arquivo X a Grey's Anatomy, postaram fotos em redes sociais de joelhos, em apoio a Kaepernick.
Parceria de longa data
Essa não é a primeira vez que uma produção com conteúdo negativo à marca da NFL sofre censura no grupo Disney, dono da ABC e do canal esportivo ESPN.
Em 2003, a série Playmakers fez grande sucesso por escancarar a vida dos jogadores de futebol americano fora de campo, mostrando temas polêmicos como violência contra a mulher, homossexualidade no vestiário e uso de drogas pesadas (crack). A popularidade não foi suficiente para mantê-la no ar, e a pressão da NFL forçou a ESPN a acabar com o drama após 11 episódios.
Dez anos depois, o canal tinha programado a exibição de um documentário feito pela rede pública PBS sobre a crise enfrentada pela NFL com jogadores que sofrem concussões (lesão na cabeça) pelas constantes pancadas ocorridas nos jogos.
O material jornalístico denunciava que a liga acoberta qualquer relação de danos nos cerébros dos atletas, como perda de memória, com o esporte. Mas o documentário teve sua exibição cancelada pela ESPN, apesar de toda a divulgação.
Desde 2006, a ESPN mostra jogos da NFL toda segunda-feira à noite. O canal paga US$ 1,9 bilhão (R$ 6,2 bilhões) por ano pelos direitos de transmissão das partidas. O contrato atual com a liga termina em 2021.
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