ESPORTES
DIVULGAÇÃO/ESPN
Luciana Mariano no estúdio da ESPN durante a narração da partida entre RB Leipzig e Zenit
Luciana Mariano, primeira mulher a narrar uma partida de futebol na TV brasileira, rompeu um jejum de 19 anos na quinta-feira (8), ao liderar a transmissão da partida entre RB Leipzig e Zenit, pela Liga Europa, na ESPN. Ex-mulher do locutor Luciano do Valle (1947-2014), ela nega ter recebido um empurrãozinho do marido para se aventurar no microfone. Conta que ficou tantos anos afastada da narração por uma razão simples: "Faltam oportunidades".
"Nós [mulheres] não temos em quem nos espelhar. Quando comecei a narrar, eu não tinha para quem olhar, porque não tinha nenhuma mulher narrando. Então fica muito difícil. O cara que começar hoje tem o Galvão Bueno para se inspirar, o Luciano do Valle, um monte de referências, e a mulher não tem. Muitas vezes ela nem sabe que pode fazer isso", avalia a jornalista de 42 anos.
Os amantes do futebol talvez não estejam ligando o nome à pessoa. É que na década de 1990 e no início dos anos 2000, ela adotou o sobrenome do então marido e se apresentava como Luciana do Valle. "Não virei narradora por causa do Luciano. Sequer namorávamos quando estreei", diz.
Incentivada pelo colega Mauro Beting, Luciana participou de um concurso da Band que buscava uma voz feminina para as narrações esportivas. Aprovada, foi acompanhada de perto por Luciano, voz principal da emissora no segmento.
"Estreei em 1997 e começamos a namorar em 1998", lembra a jornalista. "Comecei a me aproximar dele para entender melhor o trabalho e também para me aperfeiçoar. E aí pintou o clima (risos). Ficamos juntos até 2007, mas graças a Deus tivemos uma boa relação até o final."
São raros os exemplos de mulheres que chegaram ao mesmo posto de Luciana. Zuleide Ranieri Dias, por exemplo, fez carreira como narradora esportiva na década de 1970, mas seu trabalho se limitou às ondas do rádio. Atualmente, a jovem Isabelly Morais, de 20 anos, vem assumindo o microfone durante as partidas de futebol transmitidas pela Rádio Inconfidência, de Belo Horizonte (MG).
"É um meio que foi construído socialmente como majoritariamente masculino. Você não vê uma mãe comprando uma bola para uma menina quando ela começa a andar. Acho que os meninos vão desenvolvendo esse gosto e automaticamente se desenvolvendo para esse meio. E isso se reflete no jornalismo esportivo. Os caras acompanham o futebol desde crianças e é natural que eles estejam inseridos nesse contexto ao longo da vida. É uma questão de construção social", reflete.
Ela, que ingressou no jornalismo esportivo em 1994, diz nunca ter sofrido preconceito por parte de seus colegas e tampouco pelos jogadores.
Iniciou a carreira como repórter de rádio e migrou para a TV. Fez reportagens de campo e nas portas dos vestiários até estrear como narradora, em setembro de 1997, na Band, durante um torneio feminino. Luciana não se lembra exatamente quais times estavam em campo na ocasião.
O experimento foi aprovado pela emissora, e ela assumiu desafios maiores, narrando partidas da seleção feminina e a primeira divisão do campeonato pernambucano masculino, em 1999.
Luciana viveu os últimos quatro anos em Dubai e se mudou de volta para o Brasil há apenas dois meses. Durante esse período, esteve afastada do jornalismo. Agora, faz planos de retomar de vez a profissão.
"Fui convidada para narrar apenas esta partida, e confesso que não tive tempo para pensar nas possibilidades seguintes, porque acabei de voltar [ao Brasil]. Mas confesso que espero que aconteçam coisas boas para mim e tenho vontade de voltar a atuar nesta área", torce ela.
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