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Série interativa do Tinder, Swipe Night arma cilada moral no jogo da paquera

IMAGENS: REPRODUÇÃO/TINDER

A atriz Shea Gabor encara atônita a tela de um aparelho celular na série Swipe Night, do Tinder

Escolhas feitas durante a série Swipe Night do Tinder e a atriz Shea Gabor; flerte misturado com ética

JOÃO DA PAZ

joao@noticiasdatv.com

Publicado em 27/9/2020 - 6h55

É o fim do mundo, e você tem um kit de primeiros socorros em mãos. Um rapaz ferido, estirado no chão, pede ajuda. O que vale mais: ser altruísta ou pensar em si próprio? Essa é só uma das escolhas morais que a série Swipe Night, do Tinder, apresenta para quem usa o aplicativo de paquera e embarca em uma experiência curiosa, mas que pode se revelar uma cilada.

Neste fim de semana, entrou no app o terceiro e último episódio da trama que começa em uma festa, mas ganha uma reviravolta --em poucas horas, um meteoro atingiria a Terra. A atração insere o internauta na trama como o protagonista, que toma decisões ao lado dos amigos Molly (Shea Gabor), Lucy (Angela Wong Carbone) e Graham (Jordan Christian Hearn).

A interação é bem interessante. Usando a mecânica usual e inovadora do Tinder de deslizar a tela para a esquerda ou para a direita, o protagonista precisa decidir rápido qual caminho deseja seguir. Em episódios com cerca de oito minutos de duração, vários dilemas são sugeridos, e só há sete segundos para decidir qual o próximo passo. Não tem como voltar atrás e o que é escolhido influencia o restante do percurso.

Todo tipo de impasse aparece pela frente, como salvar um cachorro ou uma pessoa desconhecida, contar um segredo ou guardá-lo, dar carona para alguém ou não. As decisões mais cruciais para a história ficam à mostra no perfil de quem está no Tinder, se tornando assim mais um motivo para deslizar para a esquerda ou a direita, caso o alvo da paquera tenha tomado a mesma rota na trama ou fez algo considerado imoral, supostamente errado. Seja como for, tudo isso ajuda a ter um assunto para puxar uma conversa.

Exemplo de uma das escolhas a serem feitas na série

Como Swipe Night foi feita

No Brasil, Swipe Night aterrissou neste mês, quase um ano após o lançamento nos Estados Unidos. Pelo menos por aqui veio a calhar, pegando (boa parte) do público em plena quarentena, o que aumentou o acesso a aplicativos como o Tinder. A série foi um sucesso em território americano e está com a segunda temporada confirmada.

A primeira investida do Tinder no mundo das séries foi cuidadosa. Muitos outsiders, empresas fora de Hollywood, tentaram entrar no mundo da produção de conteúdo roteirizado e quebraram a cara, caso de outras redes sociais como Facebook (em menor escala) e YouTube (um flop maior).

Como a maior parte do público do Tinder tem entre 18 e 25 anos, a chamada Geração Z, a empresa buscou alguém que falasse a linguagem dessa galera e pudesse fazer algo atraente.

Para tanto, a diretora Karena Evans foi a agraciada com o projeto. Premiada nos EUA, ela ganhou prominência por comandar videoclipes aclamados do rapper Drake, como God's Plan (que tem 1,1 bilhão de visualizações no YouTube). Karena também tem experiência na direção de séries, como Snowfall e P-Valley.

A diretora implementou todos os aspectos de Swipe Night, que precisava ter uma conexão com o público-alvo em todos os departamentos, seja na premissa da trama, no desenvolvimento dos personagens, nas referências da cultura pop, no estilo visual, nas cores e nos trejeitos dos atores.

Com uma única câmera à disposição, Karena precisou acostumar os atores a olharem para a lente, algo que são ensinados a não fazer. Isso porque os personagens conversam diretamente com o internauta que está ali com o celular na mão. O elenco, então, teve de tratar a câmera como se fosse uma pessoa de carne e osso.

A série toda não dá praticamente um episódio de 30 minutos. Mas o trabalho foi grande para tirar o projeto do papel: seis semanas na pré-produção e onze de gravação, na Cidade do México. Além dos três atores principais, outros 23 integraram o elenco de apoio. Foram várias cenas registradas devido aos mais variados rumos que a história tomou: são oito desfechos diferentes.

Mais do que um experimento narrativo, Swipe Night trouxe o diferencial de agregar mais valor ao perfil de quem está ali no jogo da paquera. Fora saber o que o outro curte de acordo com o que preenche no perfil e ver as fotos postadas, há a oportunidade de conferir se aquela pessoa é a ideal para passar por um apocalipse que porventura venha a ocorrer. É uma brincadeira legal, mas nunca um simples deslize teve tanta importância.


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