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The Loudest Voice

Russell Crowe vence prêmios com papel de um dos maiores abusadores da TV

DIVULGAÇÃO/SHOWTIME

Imagem do ator Russell Crowe caracterizado como Roger Ailes na minissérie The Loudest Voice

Ator Russell Crowe na minissérie The Loudest Voice; ator recebeu prêmios por interpretar Roger Ailes

HENRIQUE HADDEFINIR

Publicado em 14/1/2020 - 5h09

The Loudest Voice, minissérie sobre a ascensão e queda do criador da Fox News, Roger Ailes, foi exibida entre junho e agosto de 2019. Mas somente agora começou a chamar a atenção do público, depois que o protagonista Russell Crowe passou a faturar troféus da temporada de premiações americana. Para viver o poderoso CEO do canal de notícias, o ator chegava a ficar até quatro horas no processo de caracterização.

Em 1995, Roger Ailes já tinha um currículo impressionante. Mas quando convenceu o presidente da Fox que poderia criar um canal de notícias para a maioria conservadora do país, Ailes iniciou uma trajetória de manipulação que foi a responsável por instaurar um ressurgimento triunfante da direita, através do que ele mesmo afirmava: mais importante que a notícia é a narrativa.

Contudo, não foi só por ter sido um pioneiro das fake news que Roger acabou nas páginas dos jornais. Enquanto conduzia a Fox News com todo empenho para derrubar Barack Obama e, mais tarde, eleger Donald Trump, o CEO também abusou sexualmente de várias funcionárias, e foi isso que provocou sua ruína em 2016.

Adaptada da obra literária de Gabriel Shermann, The Loudest Voice passou pelas mãos de Alex Metcalf para que se tornasse a minissérie que acabou sendo produzida pelo canal Showtime. Como o objetivo era falar do grande êxito profissional de Roger e de seus hábitos sexuais monstruosos, cada episódio se passa em um ano marcante para ele.

Começamos em 1995, quando ele criou a Fox News. Depois, em 2001, quando o canal difundiu muitas notícias falsas que ajudaram na campanha de guerra contra o Iraque. Em 2008, vemos como ele tentou evitar a eleição de Obama e, em 2009, como ele atacou o já eleito presidente. Ele tenta novamente em 2012, quando começa a falar sobre Trump. No penúltimo episódio, em 2015, vemos as primeiras acusações de abuso surgirem, até que em 2016 tudo explode.

Russell Crowe divide a cena com alguns outros nomes muito fortes, mas a drástica transformação em Roger Ailes impressiona. Quatro horas de maquiagem e muitos enchimentos compunham a figura e a avançada idade do protagonista. Um trabalho delicado e severo, típico de seus métodos hollywoodianos. Mas, sem bons papéis no cinema, Crowe acabou cedendo ao convite sedutor da TV.

À primeira vista Roger parece frágil, mas a criação da Fox News e a urgência de impor seus pontos de vista o transformavam num gigante opressivo e amedrontador. Crowe, com sua voz grave e expressão dura, consegue ser catártico e asqueroso, tudo ao mesmo tempo.

A minissérie recorta sua narrativa com pedaços de registros jornalísticos reais, se apressa em estabelecer que aquele era um homem disposto a modificar uma era, mesmo que seus motivos fossem absolutamente torpes e prejudiciais à nação. Nos primeiros episódios ele inflama e inspira todos com quem trabalha, ainda que faça isso aos gritos.

Ciente do alcance limitado da história por trás dos noticiários, a narrativa legenda seus personagens, mas escolhe não adaptar todos eles (Megyn Kelly, outra das âncoras abusadas, só é citada). Em muitos momentos é possível notar como o texto luta para representar o tamanho da relevância de Ailes, enquanto precisa, ao mesmo tempo, não protegê-lo.

Assim como geralmente costuma acontecer na vida, o comportamento sexual e hediondo de Roger é abafado por sua figura familiar proeminente. Ele é um pai presente e sua esposa Beth (Sienna Miller) é sua escudeira fiel. Russell Crowe carrega na compreensão do personagem, quase o justifica, mas os roteiros procuram se impor, escancarando o monstro.

As sequências em que o poderoso do canal abusa de suas funcionárias são terríveis, desconfortáveis e o que ele faz com Laurie Luhn (Annabelle Walllis) desafia todos os graus de crueldade. A direção dos episódios joga uma névoa visual nessas sequências, alucina os personagens, mas a verdade está ali o tempo todo: a empatia do homem para com as vidas daquelas mulheres era nula.

Nos dois últimos episódios, Gretchen Carlson (Naomi Watts) entra em cena para ser "a voz mais alta" do título, aquela que vai conseguir superar todo o poder de Roger, trazendo à tona toda sua hipocrisia. A partir daí todo o discurso entra no campo do absurdo e, enquanto pragueja suas mentiras escondidas em citações bíblicas, ele vai se autodestruindo.

É curioso notar que o mundo que Roger Ailes idealizou se desenhou consecutivamente e foi atingindo outras nações. É claro que a minissérie, bem escrita e com a atuação poderosa de Crowe, acaba sendo ligeiramente partidária ao revelar a casca frágil do conservadorismo. Porém, mais do que desmascarar um criminoso, ela quer exibir o revolucionário. Nem que seja de uma triste revolução.

The Loudest Voice não está disponível no Brasil.


Este texto não reflete necessariamente a opinião do Notícias da TV.

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