SÉRIE AUTOBIOGRÁFICA
Reprodução/Netflix
Maitreyi Ramakrishnan na estreia de Eu Nunca..., comédia da Netflix inspirada em Todo Mundo Odeia o Chris
JOÃO DA PAZ
Publicado em 6/5/2020 - 5h38
Com inspiração na comédia Todo Mundo Odeia o Chris (2005-2009), a série Eu Nunca... é atualmente a número 1 na Netflix entre o público brasileiro, à frente de O Último Dragão e The Last Kingdom. Lançada há pouco mais de uma semana, a atração alcança o público alicerçada no humor afiado e com uma fórmula que é cópia da atração idolatrada.
Eu Nunca... chegou na gigante do streaming pelo caminho inverso. Foi a empresa que procurou a atriz, produtora e roteirista Mindy Kaling (The Office, The Mindy Project), interessada em fazer um projeto sobre sua infância, que ela havia relatado em seus livros. Geralmente, no mercado da TV, é o criador de conteúdo quem bate na porta de canais ou plataformas para vender o seu peixe.
A ideia da Netflix era inserir em seu catálogo de produções originais algo como Todo Mundo Odeia o Chris (Record, Comedy Central, Globoplay), uma comédia autobiográfica nostálgica, ambientada em uma década passada. Mindy só deixou um desses dois pedidos de lado.
A roteirista desenvolveu Eu Nunca... com sua amiga Lang Fisher. "Quando conversamos sobre a ideia da nossa série, pensamos o que poderíamos fazer de diferente. Amamos Todo Mundo Odeia o Chris, que narrou muito bem a história proposta [infância e adolescência no Brooklyn, Nova York da década de 1980]", disse a produtora em entrevista ao site Collider. "Mas queríamos fugir da nostalgia."
Dessa forma, nasceu uma série para adolescentes de agora, mas apoiada nas memórias de Mindy novinha. Eu Nunca... acompanha a jornada de Devi Vishwakumar (Maitreyi Ramakrishnan), que com seus 15 anos enfrenta as adversidades dessa fase da vida no sul da Califórnia. A menina causa tanto que ganhou um episódio que Chris ficaria orgulhoso: "Eu Nunca... deixei todo mundo que eu conheço p* da vida".
As histórias da comédia ficam entre a rotina da família de Devi, filha de imigrantes indianos, e suas atividades escolares. Ela tem duas amigas leais e o desejo de namorar um menino popular. Mas dentro de casa lida com a morte repentina do pai.
Entre outras coisas, o que Mindy pegou de Todo Mundo Odeia o Chris foi o estilo de locução intrometida, durante pausas na conversa de dois personagens, quando o narrador dá os seus pitacos. O curioso é que não é Mindy quem relata os passos de Devi. Essa missão ficou com o lendário tenista americano John McEnroe.
Atleta preferido do pai da garota, McEnroe tem um motivo para ser o narrador de Eu Nunca..., explicado conforme os episódios se desenrolam. Assim como o comediante Chris Rock faz na série sobre a sua vida, McEnroe é bem opinativo quando fala e não se cansa de ser irônico com a protagonista. O discurso propositivo de ambas as séries é parecido.
Ter Todo Mundo Odeia o Chris como base faz sentido para Mindy devido às semelhanças de personagens. Devi não é nada popular na escola, tem uma mãe controladora, um professor sem noção e um inimigo mortal na sala de aula. Uma diferença básica é que a menina é uma aluna que só tira nota máxima. Algo que Chris nunca experimentou (a não ser quando forjou o boletim).
Mesmo sem ser nostálgica, Eu Nunca... consegue falar tanto com o público adulto quanto com o adolescente, o alvo primário. O que Devi passa em casa e na escola é de fácil leitura, por mais que o ponto de vista seja de uma menina indiana, como Todo Mundo Odeia o Chris foi com um garoto negro.
Ambas as atrações realizam isso com eficácia, destacando um protagonista que faz parte da minoria da população americana, sem tanto espaço para esse tipo de história no mundo das séries, com estrutura e representatividade importantes.
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